Mas o reencontro com Tyler não foi o único desgosto pelo qual tive que passar... Obviamente não.
— E você sabe que espécie consegui encontrar mais cedo? — Eugene diz eufórico no meu ouvido esquerdo.
— Nem imagino. — minhas palavras ecoam secas, porém o humor do meu amigo não se abala, permanecendo radiante como um raio de sol por discutir um de seus assuntos prediletos com alguém. Senti falta dele... Talvez as pessoas tenham razão, não sou feita puramente de pedra dura. Parte de mim deve ser mole feito lama. Me concentro no trabalho de não mostrar as poças do meu ser para as pessoas, e mesmo assim acabo sujando os humanos ao meu redor com algum tipo de demostração. Em Enid, dei um abraço; Com Eugene, passei dias o visitando frequentemente quando estava em coma; Em Tyler, dei um beijo amargo. Estou escorregando na lama e caindo nos erros. Por isso, sempre confie na sua mente e na razão, jamais no coração.
Eugene continua a falar da sua família de amigas que aparenta crescer a cada semana.— É da espécie Tiúba...
Não continuo a ouvi-lo, posso estar sendo muito rude com alguém que não merece, é difícil controlar. Minha mente voa para o momento em que Tyler obedeceu a mim. Esse momento me intriga, me confunde! Até agora não falei com ninguém. Penso em Enid, para revelar as minhas descobertas, se é que ela seria útil.
Meus pés começam a se mover rápidos na direção do quarto no prédio Ophelia. Ela deve estar lá, ouvindo música, dormindo, ou se pegando com Ajax.— Wandinha? — Eugene exclama confuso com minha saída repentina.
Não respondo.Sigo em frente quando uma sombra aparece na minha frente, quase me assustando. Tem que ser mais forte para causar algum efeito em mim. Xavier Thorpe. Ele sai da biblioteca dos Beladonas.
— Wandinha? A essas horas? — ele arqueia suas sobrancelhas.
— Xavier...
— Para onde foi aquela hora? Te procurei mais tarde pela escola inteira e não te achei de jeito nenhum. O que rolou? — sua voz está querendo realmente me arrancar informações sobre um assunto, mas me preocupo com minhas dúvidas.
— O que estava fazendo ali?
— Pesquisando. — responde sem demora — Por acaso está sabendo dum evento estranho que está acontecendo na floresta? Incêndios repentinos... fogo despertando de pontos aleatórios pela floresta. Não devia acontecer.
— Confesso que não sabia.
— Eu estou empenhado em descobrir a verdade por trás das labaredas. Por isso, vim até aqui começar minhas pesquisas. Pensando bem, preciso de um ajudante.
Muitos desgostos vem também como contínuas raízes...
— Parece... intrigante.
— Quer me ajudar nesse mistério, Wandinha Addams? Só escolha não agir por instinto. Da última vez que fez isso, acabei na prisão. — um sorriso aparece em seu rosto. A memória da prisão não tem o mesmo peso de antes, agora parece mais puxado para o lado cômico, até.
A proposta reverbera pela minha cabeça. Já tenho um mistério. Mas mais um não faria mal. Xavier apareceu no meu caminho por algum motivo, e creio ser um sinal do destino para que o caso pare direto em cima da minha mão. É o que mais quero...
Minha mente então descarta no momento a possibilidade de falar com Enid, e opta por me aprofundar um pouco mais nas informações que Thorpe pode me dar.— Descobriu algo interessante?
Xavier suspira, buscando o que sabe.
— Bom, nada até o momento. Mas acho que só não encontrei o livro certo. A única coisa que todos sabem é que fogo aparece em pontos estranhos ao redor da escola e queima tudo. Desaparece também, do nada. Não vi nada parecido nos livros. Pode ser um milhão de coisas...
O caso faz minha mente ferver de curiosidade. Desvendá-lo está nas minhas mãos... Sei que posso conseguir informações úteis se mergulhar nele.
— Quando podemos nos encontrar?
— Então Addams vai estar mesmo colaborando comigo?... — ele sorri, vencedor.
— Quero descobrir a verdade. — respondo rápida e cortante.
Meu olhar feroz afasta todo o convencimento de Xavier.
Ele dá de ombros, escondendo parte de toda a sua empolgação.— Ok, pode ser amanhã, depois da aula de encantamentos da sua avó. — sua voz sai tranquila, mas é tudo o que eu não posso estar.
Ter mencionado minha avó não me agradou. A verdade pode ser extremamente desgostosa... Não sei se vou me acostumar com meus familiares assim tão colados na minha pele.
Afasto as lamentações.— Está bem, te encontro aqui amanhã.
Não espero uma confirmação de Thorpe. Sigo para o prédio Ophelia, retomando meus objetivos iniciais. Não acho que ele se importa com minha saída grosseira, e mesmo se importasse, sou eu quem não dá tempo para esses pensamentos me atingirem.
Meus passos soam vazios batendo no chão de Nunca Mais, cada som reverberando pelo meu cérebro como uma lembrança de que estou sozinha, acompanhada apenas do silêncio que chega quando todos se recolhem em seus quartos.
Ou talvez eu esteja enganada.
No chão à minha frente, alguns retângulos estão jogados... Estranho. Papéis, ao que posso ver. Eu me aproximo e os pego nas mãos. Um frio assombroso desce por minha espinha quando noto que são fotos minhas conversando com Xavier e Eugene, agora pouco.
O stalker.
Meus olhos encaram os cantos mais escuros que encontro. Investigam cada parte da sala. Não vejo nada. Não vejo absolutamente ninguém. Estou sozinha...
Meus celular apita com a chegada de uma notificação. Eu pego o aparelho do bolso imediatamente, percebendo que é o que eu mais temia receber."Vingança é um prato que se come frio."
Então estou sendo caçada em busca de vingança.
Quem estaria disposto a me enfrentar? Seria vingança por Laurel Gates?
Mais perguntas começam a se formar e crescer, mas não encontro respostas para acabar com todas as minhas dúvidas.
... Só sei que estou disposta a cortar todas elas.
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Desgostos das Trevas
Fanfiction"A minha vida está longe de se tornar normal. Com um novo mistério, sou obrigada a passar por mais uma situação problemática nesse tortuoso semestre de aulas. Creio que seja sorte esse tipo de caso cair justo nas minhas mãos. " História inspirada...