Prólogo - o início de tudo;

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Permaneceu estático por alguns minutos assim que notou a porta destrancada, após ter tocado a campainha várias e várias vezes, sem nenhuma resposta. Isso não era do feitio deles, se tratando do próprio lar, onde criavam seu filho e viviam uma vida pacata e segura. Soube de imediato que havia algo muito suspeito naquilo. Infelizmente, temeu o pior enquanto adentrava a casa, tomando cuidado, com passos extremamente cautelosos.

Chovia muito do lado de fora, uma tempestade tomou conta da cidade e mesmo assim desafiou a natureza para ver seu neto naquela noite. Seus passos molhados deixaram rastros pelas escadas que tinham dentro do prédio que levava ao apartamento onde o filho e a nora moravam. Tinha um embrulho em mãos, queria entregar pessoalmente em comemoração ao aniversário de cinco anos da criança que tanto amava. Acabou arrastando alguns pingos de água para dentro do apartamento.

De pronto, analisa rapidamente o corredor a sua frente, que sabia exatamente dar na sala de estar, e logo após, a sala de jantar e cozinha. Quem quer que tenha arrombado aquela porta poderia estar ali dentro ainda. Uma gota de suor atravessou a lateral de seu rosto, chegando a pingar no chão, tamanho seu nervosismo.

Entretanto, caminhando rumo ao encontro de sua família, esperando ouvir vozes e risadas ao invés do silêncio descomunal, sentiu o cheiro impregnante e forte de sangue invadir suas narinas. Poderia facilmente deduzir que havia pessoas mortas ali, tamanho o odor emanado no recinto. No mesmo instante, seu coração passou a palpitar mais forte no peito, querendo que tudo não passasse de um mal entendido de sua mente.

Eram nesses momentos, entretanto, que agradecia internamente por ser um policial aposentado, pois tendo passado anos dando de cara com cenas tão medonhas quanto a que seus olhos captaram.

Quando finalmente achou a origem do incômodo nasal, rapidamente sentiu seus dedos trêmulos no próprio quadril. A respiração passou a ficar cada vez mais tensa. Aquela cena era tão pavorosa, tão dolorosa...sentiu seu coração quebrar em mil pedaços.

Os corpos de sua nora e do seu filho jaziam nas cadeiras da mesa de jantar, com o sangue escorrendo em abundância como se fossem cachoeiras. Do ponto que o líquido vermelho saía, deduziu rapidamente que haviam levado tiros bem na cabeça. Os pratos que antes serviam comida, agora continham a cor vermelha carmesim como ingrediente principal, sobrepondo qualquer alimento que outrora ali estava.

Mas isso com certeza não foi pior do que ver seu neto estático, sem saber o que fazer, apenas encarando os pais mortos à sua frente. Havia respingos de sangue em seu rosto, sinal claro de que, infelizmente, presenciou toda aquela atrocidade sem mais nem menos.

O garotinho não chorava, não gritava, sequer esboçava qualquer reação. Estava apenas parado, ainda sentado na cadeira, seus olhos iam do pai para a mãe a cada segundo. A pequena mão fazia carinho nos fios ruivos da mulher, que ao contrário do marido, não estava com o rosto no prato de comida, mas sim estirado para trás.

Era mais conveniente dizer que já não existia mais um rosto ali, definhou-se pelo tiro cruel que a acertou pela lateral, tendo explodido parte do que, um dia, fora um belo maxilar. Os olhos acinzentados completamente sem vida, as pálpebras ainda abertas direcionadas ao pequeno loirinho.

— Tio Jirayia? – o homem de cabelos brancos assustou-se pela presença repentina de outra criança ali, também com respingos, mas em quantidade muito menor comparada aos do loiro.

O que Sasuke fazia ali?

Céus, como assim as duas crianças presenciaram tamanha barbárie?

Teve de agir rapidamente.

Sem pensar duas vezes, foi em direção as janelas que davam a abertura perfeita para que os tiros fossem realizados. Viu duas marcas, uma em cada. Ao se aproximar da vidraçaria, a vista proporcionada por ela refletia apenas o que já sabia tendo visitado a casa antes: prédios por todos os lados, a chuva torrencial cada vez mais forte do lado de fora, o céu tão escuro quanto o preto de sua jaqueta de couro.

Jirayia então deu meia volta, pegando o pequeno Uchiha no colo, rapidamente indo em direção ao loirinho que insistia em continuar o carinho na bochecha mãe, já morta.

Também não esboçou reação ao ser tirado dali. Apenas abraçou fortemente o pescoço do mais velho, identificado de pronto o perfume do avô e escondendo o pequeno rosto na curvatura ali presente. O mais velho precisava os tirar dali o quanto antes.

Voltaria ali, tinha que voltar e ao menos tentar entender o que raios aconteceu. Entender como e por que foram atrás do seu filho e da esposa para fazer tamanha crueldade.

Antes que pudesse sair dali, ouviu, surpreendentemente, o telefone tocar.

Hesitou, poderia ser uma armadilha. Quem quer que tenha feito tudo aquilo poderia muito bem ter feito alguma implementação de bomba ou algo semelhante apenas para não deixar nenhuma testemunha ali presente.

Deu as costas com as duas crianças no colo.

Aquilo estava longe de acabar, tinha certeza disso.

Mas também, havia muito trabalho a fazer. Por que vingaria Kushina e Minato, nem que seja a última coisa que faça.

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