O meu coração dispara de forma monstruosa perante o cenário à minha frente.
Pingos de suor frio escorrem pela minha face.
As minhas pernas perdem a total força, e o copo que pende da minha mão estilhaça sobre o chão, provocando um olhar assustado e inesperado da minha filha.
– Mamã? – Interrompo-a antes mesmo de ela dizer mais alguma coisa, e corro em sua direção, não me importando com qualquer pedaço de vidro que me ameaça cortar o pé.
– Aurora, quantas vezes eu já te avisei que não é para brincar ao pé do fogo? Estás a ser uma menina muito teimosa. Raios! – O desespero é nítido na minha voz e lágrimas descem pelas bochechas suaves da minha filha de apenas três anos.
Esta visão perfura a minha alma. A minha intenção não era assustá-la, mas perco totalmente a cabeça quando o assunto se trata de chamas ao pé do meu bebé.
Corro para ela e rapidamente desligo o fogão. Não meço as minhas forças, e agarro no seu braço com persistência, certificando-me que nenhuma nova marca de queimadura nasce sobre o seu pequeno corpo. Estou agachada à sua frente, juntas debaixo do fogão anteriormente ligado.
Suspiro de alívio, mas logo torno a ficar nervosa quando reparo nos seus olhos de avelã.
– Mamã? Estou a ficar com medo de você! – A sua confissão é como uma bala sangrenta contra os meus nervos. Largo os seus pequenos braços. Um soluço escapa dos seus lábios e Aurora esconde o seu rosto de mim.
Estou em prantos. Coloquei medo à minha filha ao entrar em pânico pela sua vida.
A verdade é que sou perseguida por traumas.
– Não, amor, não diga isso. A mamã só teve um pequeno medo. – A sua alma é tão inocente, que rapidamente se abre um largo sorriso de desculpas para mim. Suspiro de alívio, temendo que a minha filha se afastasse de mim. Somos apenas nós contra o mundo.
Os seus minúsculos braços estão abertos no ar, implorando pelo abraço aconchegante do meu corpo. Não recuso o seu pedido, então levanto-me e pego-a no ar com facilidade.
Já faz mais de um ano, no aniversário de dois anos de Aurora, que Lohan foi-se embora e nos largou sem dinheiro. O seu vício pelas drogas começou ainda muito cedo nos primeiros meses de vida da nossa filha.
Ele não tinha mais dinheiro para pagar as drogas e tivemos que vender a antiga casa que os meus pais me deram. Passámos a morar numa casa com um quarto só, e tive que desistir do meu estudo de Direito na Universidade para puder trabalhar.
Só aceitei porque não só a vida dele estava em risco, como a minha e da nossa família. Fiz isto pela vida da minha Aurora, não por ele.
Até ao dia do segundo aniversário da Aurora, quando Lohan aparece com um braço partido e um olho negro. Estava a passar a roupa a ferro no nosso quarto, logo Aurora estava vulnerável sem a minha presença a ver os seus desenhos na televisão.
Reparo que é tarde demais quando ouço gritos de socorro da minha filha. Vou a correr até à cozinha, quando me choco com Lohan agarrado ao braço de Aurora. Estava a queimá-lo nas chamas de uma churrasqueira velha e gasta.
Os gritos de Aurora eram quase mudos pela dor, incapaz de me pedir ajuda. Perco logo a capacidade de andar, e sinto que o meu coração parava a qualquer momento.
Quando Lohan finalmente se apercebe do que fez à nossa filha, foge pela vergonha e humilhação.
Quando nos casámos e tivemos a Aurora, ele era totalmente sóbrio, tínhamos uma casa adequada e estudos ainda a seguir. Mas a droga levou todo o nosso dinheiro e sanidade.
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Será Verdade?
RomanceNicole Sparks vive no bairro mais pobre e perigoso de França com a sua filha, Aurora, após o seu ex-marido fugir de casa devido a um envolvimento com drogas. Ambas são perseguidas pelos homens da máfia francesa, até o dia em que são sequestradas pel...