Sigo por um caminho que está no automático, nem sei, mas vou.
Sujo, do jeito que estou.
Vejo um muro com trepadeiras , muito familiar; trepo nele e ninguém poderia me impedir.3 movimentos, estou dentro.
Sigo por uns degraus de pedra.
Paro num momento, seria certo?
Foda-se!
Foda-se pra caralho!Me dirijo até o quarto , fora da casa enorme... Aquela mansão de merda que eu reservei pra "monarquia".
Eu fiz tudo do melhor, eu dei o meu melhor pra ela...foi por ela! Caralho, foi tudo por ela!
Cadê? Onde ela tá?Entro no quarto, olho armário, gavetas, banheiro...Cada coisa dela, tudo tem a cara dela... E esse quadro com a foto dela, me encarando...
Porra, porquê? Por quê tu tem que ser meu tormento? Por quê tu tem que ser tão...Tão você?Várias cenas passam pela minha cabeça, já confusa...
Eu sou a pior pessoa pra esse tipo de coisa...Não sou romântico, não sou o "partidão" que todos queriam...
Me olho no espelho, tem sangue em várias partes... E é isso que sou...Um cara forjado pelo sangue, pela dor de outros...
Involuntariamente, abro a torneira, procuro algo que possa me limpar do que sou...
Estou sempre tentando apagar o que sou, pra ela me enxergar da melhor forma
Descubro aí, o meu martírio...
Eu nunca seria o que ela precisa!
Nunca seria o que esperam dela...Daí ouço a porta bater.
a cama range, e pelo espelho do banheiro onde estou, vejo ela jogada lá.Meu veneno, meu vício, minha cura, minha morte e vida.
Não me movo.. As palavras da Bianca ressoam...Ela é maior, eu sou um fantoche.
A família dela precisa de mim, mas até quando?Meu telefone toca, fico puto, porque o som mostra a ela que não está sozinha.
Pelo espelho, acompanho ela sentar na cama , assustada.
Olho a tela, numero desconhecido.
É o deco, só pode ser...Declino, não atendo
Pelo espelho, observo ela me encontrar. Nos olhamos por ali.
Limitados, como sempre.O espanto incial, se dilui. Ela encosta na cabeceira e eu tento fingir naturalidade, mesmo sujo de vermelho.
Sou um animal, e ela um princesa.
Não tem jeito, saio do banheiro e paro de frente a ela.
Vejo uma mistura de surpresa e medo em seus olhos.
Olho pra sua barriga, chapada, como antes.A Bianca estava viajando...
Será?A pistola descarregada estava em minha cintura, mas eu tenho um pente adicional. Antes de sair, deixo os dois no banheiro, em cima da pia.
Queria que ela não visse, mas era impossível, ela viu. Assim como viu as manchas em mim. Marcas do que eu poderia causar, mas jamais nela.Jamais?
O amor que eu tinha por ela, fugia de todos os meus limites...
Eu faria a Greyce me dizer tudo, faria ela me entregar tudo...Mas foi ela tocar no nome da Alice, que eu perdi o controle.Eu sabia, mas ela não.
Me aproximo, ela mantém o olhar em mim. Chocada, eu sei que pareço um monstro agora, sujo, marcado.