1_ por onde andei

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"Por onde andei

Enquanto você me procurava?

Será que eu sei que você é mesmo

Tudo aquilo que me faltava?"

nando reis_por onde andei

— Nao adianta chorar pelo leite derramado, Stenio. Aconteceu. A gente fez o que pode.

Lais lamenta os últimos acontecimentos do caso Coimbra, cliente português que acaba de sumir pela América do Sul na iminência de ser julgado culpado. Tanto ela, quanto Stenio tinham noção da dificuldade do caso, mas Stenio estava convicto de que sairia com a inocência daquele tribunal. Os dois estavam esgotados, era fim de tarde no escritório acabam de sair de uma reunião com Martha da contabilidade. As contas não fecham.

— Esse merda deu as costas sem ao menos acertar tudo que fiz por ele até aqui. Simplesmente some! E a polícia parece não fazer nada. Isso é jogo baixo, até pra ele que é bandido!

— A gente precisa de um plano de ação... chega de remoer os fatos. O que você decidiu sobre a prospecção do Prado?

— Como assim o que eu decidi? Eu vou, né! Tem outra opção a não ser essa?

Ele passa as mãos nos fios grisalhos e, em seguida, afrouxa a gravata. Lais se aproxima do carrinho de bebidas da sala de Stenio e serve dois copos, cada um com uma dose generosa de whiskey. Oferece ao sócio um dos copos e eles brindam. Cada um toma um gole generoso. Stenio contorna a mesa, senta na sua cadeira e um suspiro o escapa.

— Eu sei, é um momento difícil que estamos passando... mas precisamos falar sobre isso. Sobre esse encontro seu e do Prado. É um potencial cliente gigante. Precisamos ter certeza que você vai conseguir fechar esse contrato. Fiquei sabendo por alto de algumas coisas.

— Que coisas?

Lais apoia seu copo de cristal na mesa e o roda contra o descanso de couro marrom escuro. Leva a mão atrás da nuca tentando aliviar a tensão da semana terrível de trabalho, além dessa novidade.

— A Renata, que já trabalhou comigo no Segretto Meirelles, ficou sabendo por alto que eles também estão sondando o Prado... e que o Marcos também está pleiteando um encontro com ele.

Stenio toma mais um gole e vira todo o conteúdo do copo. O apoia na mesa de madeira e respira fundo antes de responder.

— Lais, o cara é o CEO da Farmatech, a maior farmacêutica do Brasil, prestes a expandir a empresa pra fora. Ele é um peixão, é evidente que vai ter competição pra ver quem leva esse cliente.

— Pelo seu discurso, você não está muito confiante.

Ele levanta rápido da cadeira. Apoia as mãos na mesa e fica vermelho. Olha fixo nos olhos de Lais.

— Eu sou um grande advogado, se não o melhor advogado por aqui. Eu tenho noção disso. Não tem ninguém que confie mais no meu taco do que eu... mas eu conheço o Prado. Nada disso importa. Não importa quantos casos eu ganho por mês, não importa se eu saio toda semana no jornal por ganhar um caso importante. Nada disso significa alguma coisa pra ele.

— Então o que ele valora?

Stenio suspira mais uma vez, retira o paletó e o pendura no encosto da cadeira. Desabotoa os botões dos punhos e franze as mangas até os cotovelos. Reflete enquanto caminha pela sala envelopada em carvalho escuro.

o acordoOnde histórias criam vida. Descubra agora