10. ''Agarra-se Às Memórias''

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Isabela

Acordo com um ruído baixo, porém sufocado.

O barulho aumenta de volume gradativamente, tornando-se mais nítido conforme meu sono é afastado. Movo meu braço, deixando-o cair no lençol gelado e busco o som.

Abro os olhos e, apesar da escuridão no quarto, identifico meu celular na beira do colchão. Ele toca o som personalizado da chamada da Agustina e faço esforço para inclinar-me e pegá-lo. Suspiro e atendo antes que o som estridente seja mais uma vez o responsável pelo latejar doloroso da minha cabeça.

— Alô?

— Isabela, eu estou me controlando para não subir todos esses andares e te encher de socos. 

Esfrego os olhos ao me sentar e ligo o abajur da mesa de cabeceira, ainda meio zonza de sono.

— São 6h da manhã. — Confirmo o horário. — Ainda não é muito cedo pra estar tão brava?

— Você e Julio são o casal mais empata-foda do universo. Sabe o que é chegar dentro do seu quarto louca de vontade do seu namorado e então o seu amigo chega bêbado dizendo que havia sido expulso do quarto? É frustrante! — Diz esbaforida. — André é tão bonzinho que ficou com Julio na sala até que ele dissesse algo. Por que você o expulsou?

— Não quero falar sobre isso por telefone, Agustina.

— Estou subindo.


Não sei ao certo quantos minutos se passam, mas quando abro os olhos de novo, Agustina estende uma garrafa pequena de Coca Diet e em seguida dá um passo para trás.

— Para a sua ressaca. — Diz semelhante à uma mãe preocupada e eu sorrio um pouco de canto.

Envolvo os dedos em volta da garrafa e abaixo a cabeça. — Obrigada.

— Esses vidros são mesmo tentadores. — Murmura distraída enquanto encara as paredes envidraçadas destampadas, pela primeira vez vendo desse modo. 

 Passo a língua pelo lábio inferior e nego.

— Eu os odeio. — Destampo a garrafa e respiro fundo antes de tomar um longo gole.

Agustina suspira e senta na borda da cama, os olhos atentos aos meus traços e sei que ela está fazendo uma análise completa de quem largou a faculdade de psicologia pela metade.

— O que aconteceu?

Bebo mais um pouco e olho para a garrafa pela metade, tampando-a e deixando de lado. Ergo as sobrancelhas, sentindo-me completamente frustrada por estar prestes a recomeçar com tudo isso. Frustrada por como esse amor me faz sentir; profusamente machucada, ao mesmo tempo em que luto com todas as forças para voltar a senti-lo. Esse amor que é um equilíbrio e oscila entre um amor mau e bom, que me deixará marcas permanentes. Mas que, ainda sinto aquela pontada sufocante de querê-lo de volta. 

Inclino-me para frente com os cotovelos apoiados nos joelhos e esfrego meu rosto e olhos com as pontas dos dedos, tentando achar alguma maneira de fixar minha cabeça nesta realidade.

— Ele deixou claro que não quer nada sério comigo. — Digo baixo, tentando passar uma imagem firme e convicta, mesmo que, por dentro, meu coração esteja batendo sem ritmo nenhum e descompassado. — Eu também não quero me iludir mais por algo impessoal e vazio. Eu corro pra ele como uma mariposa corre para o fogo, mas ele continua construindo suas cercas.

— Julio me contou uma versão um pouco diferente.

Ergo as sobrancelhas.

— O que ele te disse? — Pergunto.

Amor de Verão [isulio]Onde histórias criam vida. Descubra agora