(2\3)
Isabela
Julio me ignora como se eu tivesse pedido à ele que viesse até mim e dá passos leves, mas decididos. Me levanto da areia confusa, atordoada e inquieta enquanto me afasto o máximo que posso dele, me retraindo como uma onda antes de inundar a superfície.
— Para! — Grito ao me virar, resistindo à urgência de tapar os ouvidos e liberar todo o bolo entalado na minha garganta. — Eu disse para você que não queria conversar.
O olhar de Julio passou de atônito para magoado em um segundo. E embora a sensação se comparasse a uma faca cravada direto no meu peito, não vacilo a expressão firme.
— Eu não dou a mínima! — Ele se vira para mim com um olhar maluco, as sobrancelhas franzidas e o peito subindo e descendo com o fôlego quebrado. — Não pode se retrair para sempre. Seja corajosa e não uma covarde fugindo dos seus problemas como se eles fossem se resolver sozinhos.
— Que hilário você me chamar de covarde fugindo dos problemas quando tudo que você fez desde o início dessa porra de relacionamento, se é que posso chamar isso que fomos assim, foi fugir. — Aponto o dedo em seu peito e acuso-o. — Você não pode se colocar nessa posição, eu não permito que faça.
— Não aja como uma criança. — Aperta os lábios e sobe uma mão para o rosto, enxugando como pode os olhos úmidos pela chuva que não cessa nem por um instante. — Você sequer deixou que eu te explicasse os meus motivos. Apenas se fechou. Não permitiu nem que eu entrasse no nosso quarto, ao menos desceu para o café da manhã durante esses dias. E então, quando penso que você me deu uma oportunidade, encontro você e seu ex estúpido conversando como velhos amigos. Pense em como isso me fez sentir, amor.
Encaro-o.
Cruzo os braços em frente ao peito, afundando as unhas no braço e beliscando a pele para me distrair com a dor. Sinto vontade de gritar à plenos pulmões para que ele não me chame de criança, não me chame de amor, e apenas olhe para esse maldito desastre em que ele me transformou.
Consigo sussurrar, embora minha garganta arda e implore por um descanso que eu sei que não vou ter no próximo momento. — Não me chama assim.
Fecho os olhos por alguns segundos e afasto a mão dele quando sinto seus dedos se fecharem gentilmente no meu pulso.
O silêncio de nossas vozes é absoluto. Ouço de fundo apenas o barulho do temporal; o som das ondas ao quebrarem mais fortes na areia por conta da maré alta; as gaivotas assobiando demonstrando para quem quer que fosse que buscasse abrigo; além da minha expiração sôfrega e tenebrosamente o som que meu coração faz ao bater descompassadamente contra minha caixa torácica.
— Doeu uma vida ver aquela cena. Encontrá-lo com aquela garota. — Começo abaixando a guarda, expondo meus sentimentos se é o que ele tanto quer. — E quando você fugiu da cozinha aquele dia, quando Agustina insinuou que fôssemos um casal, eu me senti insuficiente e indefesa. Senti como se fosse sua segunda opção, algo que você fosse descartar quando não quisesse mais.
— Eu deduzi que você não quisesse um relacionamento. Naquela conversa no banheiro você disse tão rápido que estava ótimo tudo do jeito que estava que eu me convenci que era isso mesmo que você queria.
— Você ao menos me respondeu. — Debato e cerro os olhos, sentindo-os úmidos, mas duvido que dessa vez seja por conta da chuva. — Depois disse que ninguém nunca havia o tocado como eu, me inflando de esperanças até desmanchar tudo dizendo que não éramos sério. Eu me sinto uma idiota que pediu demais e não vou mais buscar por pequenas brechas para que se abra pra mim, eu não mereço esse tipo de coisa, Julio. Se não quer, você precis-
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor de Verão [isulio]
RomanceEm janeiro, durante as férias de verão no México, Julio, famoso por sua reputação cafajeste, faz Isabela hesitar em se envolver, temendo ser apenas mais uma. Um presente dado no quarto 505 transforma anos de amenidade em sentimentos profundos e conf...