Prólogo

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          Pelas minhas contas, faz 147 anos que ocorreu a primeira pandemia, o que causou uma bagunça no
planeta. Algumas pessoas falam que foi o início de tudo, mas outras falam que isso é história, que só
serviu para agravar a situação complicada que já estava estabelecida no mundo, ou seja, uma desculpa.
Sessenta e dois anos depois, as brigas começaram: os cientistas, que até então ficavam “às claras”,
esconderam-se mesmo com todo o desenvolvimento da tecnologia, mesmo sendo eles que haviam
resolvido os problemas. Com a pandemia, as pessoas sempre escolhiam ignorar em vez de entrar em
uma luta que já estaria perdida, então, de repente eles sumiram do mapa.
         E chegou a época da revolução digital, ou tecnológica, o que achar melhor, o que durou muitos anos
e causou tremendos desastres no planeta novamente, porém nada como aquilo com que já estávamos
acostumados, desta vez foi maior, foi pior, as pessoas perderam a humanidade, não só com a vida, mas
com elas mesmas. E veio o poder, a vontade de arrumar o mundo da forma errada, matando e tirando
tudo aquilo que estava errado aos olhos, tendo controle da população, matando as pessoas que ficavam
travando as ruas, fizeram a tecnologia chegar a cada esquina, com as pessoas querendo cada vez mais
poder e dinheiro, o que se tornou uma das maiores doenças entre nós, os “animais superiores”, os seres
humanos. Foi a época em que se declarou o desastre da humanidade, a época em que o planeta estava
mais vazio do que em milhares de anos, as máquinas eram a maioria, mas elas não tinham culpa, eram
feitas para destruir a nós mesmos, como armas para facilitar a vida das pessoas, nas empresas
totalmente automatizadas, os homens não precisariam mais trabalhar. Máquinas de embelezamento
para cuidarem da estética, máquinas para fazer o trabalho de outras máquinas e viver em um mundo
em que você só ganhava dinheiro e poder sem fazer nada, só curtindo a vida e vivendo e fazendo o que
tivesse vontade. Essas pessoas dominaram tudo, transformaram a si mesmas em máquinas com a
compulsão excessiva que havia destruído sua humanidade, mataram tudo e todos os que ficaram, ou
aqueles que, só por acaso, cruzaram o seu caminho e não foram só as pessoas que sofreram com isso,
todos os seres vivos que existiam na terra foram ameaçados em meio a isso.
          Ou, pelo menos, foi o que eles acharam, no entanto a verdade não foi bem essa. Com o passar do
tempo, as pessoas não conheciam as próprias máquinas e não souberam o que fazer quando o mundo
se afundou na poluição do seu próprio lixo. As máquinas, assim como as pessoas, tendem a evoluir em
algum momento. Veio então outra pandemia e as máquinas não podiam ajudar por se tratar de um
evento novo, as pessoas não sabiam como fazer as máquinas ajudarem. Depois disso, no meu livro há
um pequeno pulo no tempo e de repente a terra estava um tanto recuperada. Agora as pessoas da época
da tecnologia lutavam contra os cientistas que, por mais tempo que tivessem ficado escondidos,
estavam mil vezes mais aprimorados. O livro descreve que seria uma bela história de luta para um
“filme”, acho que era o nome que eles falavam, mas que só destruiu mais o resto da população
fragilizada. Essa luta durou pouco, até outro pulo no tempo em meu livro, só que desta vez não foi
proposital, as páginas que deveriam estar ali foram arrancadas, indo diretamente para a vitória dos
cientistas sobre aquela época, e as pessoas voltando para sua vida, mas em um planeta um pouco
recuperado sem sinal de muitas máquinas e tecnologia, só restavam algumas máquinas industriais que
funcionavam por conta própria. Tinham dado a todos uma nova chance, o dinheiro não era mais a
locomotiva, agora era guardado e usado quando necessário. Muitas pessoas ajudaram na reconstrução
do planeta, era obrigatório que todos tivessem as mesmas condições, nada mais, nada menos uns que os outros, e como tudo estava destruído antes do pulo de tempo, foi fácil reconstruir tudo de novo. O
livro fala que devemos tudo o que temos hoje aos cientistas e assim nós temos feito até hoje,
agradecendo a eles. Como foram eles que resolveram nossos problemas, nada mais que justo que
ficarem responsáveis pelo que aconteceria dali para a frente. Meu pai uma vez me disse que seu avô
lhe disse que seu bisavô disse a ele que foi como se o mundo parasse no tempo, assim como todas as
pessoas, e depois tivessem sido consertadas como um passe de mágica. Disse também que naquela
época, mesmo com tudo o que aconteceu, tinha muito ainda das raízes das pessoas de muito tempo
atrás e os cientistas não gostaram disso por medo de que as pessoas causassem novamente a nossa
quase destruição ou mesmo nossa extinção. Depois de um tempo decidiram que até mesmo as
máquinas de produção de materiais, utensílios e até mesmo de livros deviam parar de existir, não
haveria nada no mundo que pelo menos os fizessem lembrar de tal época, para as pessoas aprenderem,
tudo seria feito novamente pelas próprias mãos, tudo devia ser cuidado como agradecimento por terem
tido a chance de começar de novo, com divisão igualitária de tudo para todos. Enquanto isso os
cientistas cuidavam das pessoas, avançando para a recuperação dos seres humanos traumatizados pelo
transtorno. Em uma pequena nota no rodapé do livro havia uma pequena frase com o escrito: “eles
cuidaram de nós, e nós demos nossos seres para eles”.
         Mas mesmo essa história não sendo de tanto tempo atrás, os fatos já vão um pouco longe e as coisas
estão muito diferentes. Eu não sei se o que fizeram foi a salvação ou só uma manipulação, eu também
não ligo para isso, hoje em dia é tudo diferente do que está descrito nesses livros, e se você se perguntar
como esse livro existe, já antecipo que ele está na minha família há algum tempo, um dos muitos que
devem servir como lembrança das épocas de hipocrisia dos mundos.
       Tudo isso para estar como é atualmente, bom que eu não preciso escrever diários nem ler, já que eu
vivo esta época e, pelo menos, tenho certeza de uma coisa: isso não é nada do que você espera, então,
já que sabem do passado, está na hora de saberem do futuro, só se quiserem, ninguém é obrigado a
nada, pelo menos eu acho que não. Brincadeira... nós não temos escolha

Expectação a espera de algoOnde histórias criam vida. Descubra agora