Entro à força pela porta trazendo a Iara comigo e a mantendo sempre ao meu lado. Ela parecia não entender o porquê de agora eu estar mantendo-a ainda mais perto, também não entro em detalhes, não queria ter que explicar que havia feito uma promessa ao meu pai, ela já estava mal e eu não queria deixá-la mais preocupada ainda. Meus segredos, sempre controlar, e até que era fácil, já que não tinha por que usar minhas habilidades quando não sentia nada, assim como muitos ali escondiam, com os avanços da ciência muitos de nós tínhamos habilidades que mantínhamos escondidas, mesmo que a cor dos olhos nos entregassem, as lentes permanentes resolviam isso, pelo menos era assim pra mim, eu só esperava não ser a única. Pelo que eu saiba, consigo usar mais do meu cérebro que a maioria das pessoas e consigo sentir tudo o que elas sentem por mim mesma, pelo menos minha mente permanece protegida do mundo, ao mesmo tempo me perco, não sei o que é nem como funciona, mesmo sem falar nunca nisso sabia que minha família sabia, sempre souberam que eu era diferente e não ligavam, e eu também não.
A todo momento a Iara segurava minha mão bem forte enquanto seguíamos por um corredor escuro que parecia ser um subsolo antigo ou catacumbas. Fico olhando o lugar com dificuldade pela má iluminação, havia somente algumas lanternas no lugar e parece que naquele momento nós todos havíamos nos esquecido do celular para dar mais luz. Vamos seguindo a luz da lanterna dos homens que nos levavam e depois de alguns minutos chegamos a uma escadaria de ferro.
— Vamos mais rápido, tem mais gente para entrar ainda — gritam ao nosso lado e descemos o mais rápido que conseguíamos até uma área gigante e vazia, a não ser pelas centenas de alunos e alguns professores que estavam longe de conseguir encher o lugar.
Imagino que devíamos estar bem embaixo da escola e aqueles deviam ser os alunos que conseguiram resgatar, mas também fico imaginando por que aquilo estava ali, mas logo sou retirada de meus pensamentos.
— Ajeitem-se aqui e fiquem quietos, não tentem sair, não conseguimos garantir sua segurança fora daqui.Eu e a Iara nos olhamos.
— Molissint, que lugar é esse? Por que estamos aqui, será que todos os que não estão aqui morreram?
— Iara, pare de perguntar, eu também não sei, e você não vai querer que eu seja sincera agora.
Olho em volta, a Iara fica meio sentida com a minha resposta, mas era a verdade. Ela então acha uma amiga sua, que chorava, e junta-se a ela.
Vou andando pelo lugar até um canto onde havia uma pia e um espelho rachado, me olho no espelho, suspiro, abro a torneira e a água era fria como gelo derretido, mesmo assim, encho as mãos e passo no rosto para ter certeza de que aquilo não era mesmo só um pesadelo que acabaria, e sim um se tornando realidade. Por algum motivo, através do pânico e medo lá no fundo, sentia como se não fosse algo tão estranho assim, como se já tivesse presenciado coisas parecidas, como um déjà-vu. Depois de molhar o rosto, tiro os cabelos do pescoço e molho-o também, solto os cabelos novamente, passo água nos braços, lavo novamente as mãos só pra ver se tomava um choque de realidade. Fecho um pouco os olhos lembrando do Erik, com raiva de mim mesma por perdê-lo sem lutar, ele era meu amigo. Soco o espelho quebrando-o mais e desligo a torneira.
— Cuidado para não gastar muita água, garota, e não se machucar à toa.Ouço uma voz, olho para o lado, vejo um dos homens de azul, cujo rosto parecia bem jovem, mas sério.
— Por que nos trouxeram para cá? — pergunto de modo seco, não me importando em ser grossa ou não.
— Para a proteção de vocês.
--- Proteção dos homens com roupas pretas? Mas por quê? Por que queriam nos matar?
— Não tenho permissão para falar sobre isso.
— E nossas famílias? Elas estão lá fora, vocês os resgataram também, não é?
— Vocês são nossa prioridade.
— Pode pelo menos me falar se esse lugar é um abrigo ou uma catacumba?
— E que diferença faria?
— Se for uma catacumba é improvisado, não sabiam o que ia acontecer, mas se for um abrigo já era esperado, já que não temos tornados ou terremotos aqui.
Fico olhando-o e então pergunto tão de repente que surpreendo a mim mesma tanto quanto a ele:
— Espere... eu conheço você?
Ele me olha de cima a baixo, menos em meus olhos, tento olhar nos dele, mas alguém assovia e olhamos na direção, uma menina vem ao nosso encontro, ela me parecia ainda mais familiar.
— Continue andando, subordinado, temos trabalho a fazer.Ela passa por mim como se eu nem estivesse ali e sai andando.
— É um abrigo, tem curativos daquele lado. Coloque alguma coisa nessa mão.
Ele fala enquanto aponta para o local, percebo seu olhar ficar intenso em meu rosto, ele parecia que ia abrir a boca para falar mais alguma coisa, mas volta atrás e simplesmente sai andando quando a garota assovia de novo e o observo ir.
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Expectação a espera de algo
Mistério / SuspenseMolissint nunca esperava e nem queria que sua vida mudasse completamente, mas como sempre as coisas não funcionam como queremos, mesmo tudo isso não fazendo tanta diferença para ela, assim como as várias pessoas que aparecem pelo caminho, das quai...