I Hate Everything About You (Haikaveh Kavetham)

Only when we stop to think about it

Quando pensava no passado, Alhaitham visualizava uma caixa. Talvez visse o passado dessa forma pois frequentemente guardava os sentimentos que já não lhe serviam mais dentro dessa caixa e os deixava trancados lá, fossem bons ou maus, lembranças de momentos felizes ou traumas. Deixava essas coisas dentro da caixa e não abria nunca mais. Ou ao menos não deveria abrir.

Naquela noite, entretanto, estava sentado em frente à caixa, a tampa em seu colo enquanto tirava de dentro dela, uma a uma, as memórias do passado dos dois.

— Lembra daquela vez que você me convenceu a fugir da enfermeira pelo ginásio pra ela não achar os cigarros dentro da minha bolsa no dia da inspeção? — Kaveh ria tanto que se envergonhava dos dentes à mostra e cobria a boca com a mão, só porque quando ria dessa forma acabava expondo um pouco das gengivas, o que achava bizarro, mas Alhaitham achava adorável.

— Você tava se cagando de medo de ser pego pela monitoria e acabar piorando a sua situação. Sempre tão preocupado com a sua reputação, uma verdadeira princesa. — Alhaitham brincou enrodilhando um cacho do cabelo loiro em torno de seu dedo indicador.

— Eu nunca tinha feito aquilo antes, Alhaitham! Nunca tinha faltado aula só porque sim. Sempre fui um aluno modelo! — cruzou os braços e fez uma cara emburrada adorável, arrancando mais risadas do mais novo. Merda, Alhaitham estava completamente fodido. Só podia estar ficando louco.

— Ninguém te ofereceu cigarro, você que pediu e você que comprou e resolveu levar na mochila bem no dia da auditoria. Se tivesse me falado cedo que tava com aquilo na bolsa eu tinha falado pra você deixar na árvore junto com os nossos.

— E eu lá ia saber? Primeiro que eu tinha esquecido completamente que era dia de monitoria, segundo que eu jurava que eles iam olhar só os armários, não as mochilas. Não me julgue! — Kaveh riu de si mesmo, no fundo sabia que tinha sido um misto de loucura e burrice adolescente e tava tudo bem assim.

— E aquela vez que minha mãe quase pegou a gente na cama, você lembra? Ah, cara, que loucura!

— Inventar que estávamos comparando os músculos pra despistar o fato de que estávamos sem camisa foi uma ideia tonta. Tenho certeza de que sua mãe sabe exatamente o que a gente tava fazendo ali. — o mais novo riu mais alto ainda.

— Claro. Até porque eu sou um péssimo mentiroso e no dia que ela me encurralou e me perguntou se eu sou gay eu respondi "claro que não, meu namorado que é", e ela riu feito uma hiena louca. Ela não gostava muito de você com seu jeitão de rockstar, sempre disse que eu devia procurar alguém mais sossegado, mas no fim ela também foi embora e me deixou... foi, inclusive, antes de você. Isso porque vivia falando de você. Tsc. — Kaveh estalou a língua e revirou os olhos, suspirando em seguida. — Mas não adianta ficar remoendo isso, porque não vai fazer com que o tempo volte e as coisas se ajustem. Prefiro viver o presente e seguir em frente.

— Eu senti sua falta. — as palavras simplesmente escorregaram pela boca do músico como se ele fosse absolutamente incapaz de contê-las. — Achei que não tinha sentido, que o vazio existencial era parte de mim, parte de ter perdido minha família tão cedo... Não era. Notei quando te vi.

— Alhaitham!

Kaveh interrompeu com sua exclamação. Seu rosto estava vermelho, envergonhado, talvez despreparado para as palavras do ex-namorado. Talvez por conta das músicas que ele escreveu, talvez por conta do seu jeito indiferente nos anos que estiveram juntos, uma junção de tudo, o loiro simplesmente não conseguia lidar com a expressão tão franca dos sentimentos daquele homem, mas Alhaitham estava decidido a não esconder mais. Não queria correr o risco de perdê-lo pelas coisas que nunca dissera.

— Estou falando sério. Nunca falei tão sério na vida. Eu sei que você não quer voltar a ser meu namorado assim tão rápido, mas não posso deixar de observar que eu estou a fim. Meu coração tá batendo igual louco desde a hora que te vi no meio da multidão...