Prólogo: Caos

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Primavera de 1712, 16 de Setembro.

Castillo de Bellver

Os pedidos silenciosos da pobre mulher que caminhava naquele jardim enorme lentamente se tornam lágrimas, lágrimas que ela sabia que eram inúteis assim como as suas súplicas, ela era insignificante.

As rosas vermelhas que cercavam seu caminho não pareciam mais tão bonitas, sua beleza elogiada pelos quatro cantos do reino, por cada alma viva da enorme Espanha, além dos monarcas bajuladores que viam de todos os lugares do mundo nos bailes enormes que aconteciam nos salões do castelo, sua cor vermelha tão viva quanto sangue, plantadas e cuidadas como se fossem parte da nobreza, as flores favoritas da falecida rainha mãe, na qual o nome fora proibido de ser dito por qualquer outra pessoa além do rei, alguns moradores com a língua afiada gostavam de dizer que as rosas nasciam brancas mas as intrigas da família real manchava sua cor pura com vermelho, a rainha odiava a reputação de suas adoradas flores.

Parecia que o lugar sentia o que acontecia com seus habitantes.

O medo da jovem que era acompanhada por um dos serviçais do rei era compreensível, ela tinha sido mais uma a ser chamada, o mordomo do rei tinha começado naquela manhã a chamar as arrumadeiras mais jovens uma a uma e cada vez que o homem voltava parecia mais nervoso, com um olhar de desespero, andava rápido de um lado para o outro e podia se ver as gotas de suor que escorriam lentamente de sua testa até o seu nariz, e esse era o problema apenas o homem ansioso voltava, nenhuma mulher, e os rumores naqueles corredores eram mais rápidos que o vento, todo tipo de atrocidade já tinha passado pelos seus ouvidos.

O que fosse o trabalho na qual elas estavam sendo chamadas, não podia ser dito nem visto por ninguém, muito menos a corte odiosa, que apenas servem para amaciar o ego da nobreza e expelir veneno em suas conversas.

Torre norte, quarto principal

Local onde também existia o santuário de vossa majestade rainha mãe, uma mulher com fé inabalável, uma pessoa devota que tinha mais medo de pecar do que da própria morte, a rainha costumava dizer para seus filhos que aquela parte do castelo era a única onde se podia sentir a luz de deus, um lugar onde se podia conversar com os anjos e escutar os conselhos que os santos precisam lhe dar, mas naquele dia não existia nada de celestial.

O lugar parecia estar sendo amaldiçoado pelo príncipe herdeiro.

Parecia que o destino estava rindo de suas preces, criando uma grande ironia

O chefe das serviçais do castelo repetia mais uma, só que dessa vez aos gritos, as pobres mulheres já sentiram seus ouvidos doerem, as cabeças ficavam cada vez mais baixas e as mãos muito trêmulas.

Quantas vezes terei que repetir? Só voltaram para seus devidos postos quando o futuro rei, sair desse quarto.

Mais de vinte mulheres já tinham entrado naquele quarto, tentando tirar o príncipe daquela escuridão.

Apenas o tempo conseguiu fazer com que o príncipe parasse de quebrar os objetos de seu quarto, o cansaço teve que lutar contra a sua raiva e por muito tempo acharam que a raiva ganharia, e quando o barulho horrendo que saia daquelas portas parou, pode se ouvir o suspiro aliviado

As mais sortudas conseguiram abrir a porta sem ter algo jogado em sua direção, agora so se podia um ouvir um choro trancado, desesperado,guardado por muitos anos, podia se ver apenas um homem quebrado por dentro, um moribundo miserável, jogado no chão com um caos a sua volta, os olhos vermelhos lhe deram um olhar insano, uma loucura que ja não conseguia guardar para si, tinha tirado suas vestes reais com tanta fúria.

Em um rápido momento de clareza olhou a si mesmo nos cacos do espelho, riu sem humor, o futuro governante de um império, se sua mãe lhe visse agora provavelmente estaria envergonhada.

Sua verdadeira mãe, não a louca de que tanto falam.

Mas já não escutava os sermões de sua mãe a muito tempo.

Não sentia mais seus joelhos doerem em ficar rezando por horas no mármore gelado da igreja.

Ninguém sabia o porque do ataque de fúria tão repentino, apenas uma cozinheira baixinha teve a coragem de dizer em um cochicho

- todos sabiam que o príncipe iria enlouquecer, o sangue da rainha insana está em seu corpo de qualquer forma

Faziam muitos anos desde que deram a rainha o apelido de insana, diziam que o povo a batizou dessa forma poucos meses antes de sua morte e foi um desses motivos que a fez desistir de lutar por sua própria vida

Mas a verdade do porque de tanta raiva tomar conta daquele homem preso na escuridão apenas o rei sabia, um coração despedaçado, tinha medo que estar quebrado em tantos pedaços que se conseguisse juntar novamente ainda sim não ficaria completo.

E então o príncipe riu de novo, pensou que estivesse enlouquecendo mesmo. Pensava que estivesse amando mas estava se tornando um lunático como sua mãe. Por mais macabro que fosse, agora se sentia mais próxima dela, como se seu espírito vivesse dentro dele.

O principe esbravejava contra seu pai a poucas horas atras na sala do trono, mas agora seu corpo parecia sem alma como se tivessem arrancado uma parte de si mesmo, sua parte em que continha sua alegria pela vida, seu amor e agora apenas lhe restava para si, tristeza e loucura.

Valence - Jungkook StoryOnde histórias criam vida. Descubra agora