O sol

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Rosalina

Ela tinha idade suficiente para entender, palavras saídas da boca de um bêbado não eram confiáveis, eram palavras tolas largadas ao vento sem significado profundo, elas eram ditas sem pudor e por isso não podia ser levadas a sério, a madrugada servia apenas para transformar pessoas decentes em animais controlados pelo instinto, pecadores, não devem ser merecedores de preocupação.

Rosalina repetia esse discurso pela milésima vez em sua cabeça, tentava imaginar o que sua mãe falaria se soubesse da acontecimento, ela aprendeu uma vez que quando uma mentira era contada muitas vezes ela se tornava uma verdade, queria que com os pensamentos isso também funcionasse, queria poder controlar seus pensamentos como controlava seu corpo.

Toda vez que fechava os olhos se lembrava daquele momento, talvez fosse o susto que tinha levado por causa daquelas palavras, ou talvez fossem seus olhos, ela certamente não gostaria de encontrar com aqueles olhos novamente, ela queria que aquela noite nunca tivesse acontecido, queria ter bebido muito vinho, pelo menos não se lembraria de nada do que aconteceu na manhã seguinte, ao contrário de seu irmão ela lembraria de cada detalhe, de cada palavra .

Ela não tentou o encontrar essa manhã, nem no começo da tarde, não o estava evitando, mas ela também não correu em sua direção, ela agora faria algo que nunca fez antes, iria para o jardim de rosas por vontade própria.

Sua mãe estava doente, ela se recusava a tomar a água limpa do castelo e aquilo a estava enfraquecendo, todas a sua volta à diziam para não se preocupar, que a rainha ficaria bem em uma semana, os médicos apenas diziam que ela ficaria viva de forma rude, como se fosse uma constatação óbvia, então Rosalina percebeu que as perguntas eram inúteis, ninguém a escutava, sua única forma de ajudar era não atrapalhando ninguém.

Mas já faziam 3 dias que ela não via sua mãe sair do quarto, 3 dias sem ver as rosas, sentiu uma estranha saudade em seu peito, talvez as rosas sejam realmente suas irmãs., meninas que foram transformadas em flores e agora viviam presas na terra, enfeitando um lugar onde as pessoas não admiravam sua beleza, um lugar amaldiçoado.

Quando ela sentiu a grama em seus pés, em volta da sua saia ela relaxou, se sentiu tranquila novamente, mas então enxergou um par de botas pretas no meio das flores, ela sabia de quem eram aquelas botas, ela caminhou até seu irmão deitado, apenas com uma blusa branca e calças de montaria, ele nunca se vestia assim, parecia calmo.

-Não te ensinaram a não espionar o sono de um rei?

Ela ainda parecia brava

-Pensei que estava dormindo irmão

Ele se levantou, ficando sentado

-Eu vim lhe ver, queria sua companhia

Ela suavizou sua feição, tanto medo para nada, seu irmão ainda estava ali e era o mesmo de sempre, a luz do seu dia ainda era a mesma, seu olhar ainda era aquele suave e carinhoso de sempre, ela percebeu que nada poderia mudar seu comportamento, ele seria o que sempre foi.

Rosalina se sentou ao seu lado, enquanto o príncipe tirava uma maça e uma faca de seu manto, ele cortou a maçã pela metade, a entregando

Como posso servi-la melhor majestade?

ela riu, era suposto que ela falasse isso não ele

-Não sou rainha, nada de valor me pertence, não pode ser meu servo

-Minha vida te pertence Rosalina, quero ser seu servo até o final dos meus dias

A forma devota na qual ele a amava não a deixava assustada, não mais, ela sabia que sua vida também pertencia a ele, os dois estavam condenados, um amor tão forte quanto era impossível

Ele se deitou de novo, olhando para o céu, fechando os olhos, sua respiração calma, Rosalina se deitou ao seu lado sentindo os raios do sol tocarem seu rosto, mostrando que mesmo em meio ao caos, a luz ainda pode entrar, ela ainda pode trazer um pouco de esperança

Suas mãos se tocaram, entrelaçando os dedos, um ato tão simples quase ingênuo de demonstrar que nada tinha mudado, seus corações ainda batem da mesma forma, juntos.

Poderiam conseguir separados seus caminhos, poderiam tirar seus corpos da presença um do outro, poderiam criar muralhas entre eles, colocar outras pessoas em suas vidas mas jamais conseguiriam mudar o ritmo dessas batidas, aquilo os pertencia e era mais valioso do que qualquer ouro no mundo

A felicidade na terra não era eterna mas era necessária, é por isso que amamos, é por isso que enfrentamos todos os ventos contra.

Naquele momento eles estavam perdidos no que era real e no que eles inventaram, tinham criado um refúgio invisível.

-Me perdoe, eu não posso nos salvar irmã, não posso nos tirar daqui

Você tentou falar algo mas ele se levantou e foi embora sem olhar para trás

Queria ir até ele lhe dizer que nunca precisou ir embora, não precisava de uma casa no campo, não precisava de animais para cuidar, não precisava de uma vida calma, precisava estar com ele

Precisava dele e nada mais.

Valence - Jungkook StoryOnde histórias criam vida. Descubra agora