CAPÍTULO 4: Terra

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    Os tempos eram primitivos mas a humanidade estava avançada em termos de tecnologia. O gigantesco continente Pangeia cobria a superfície do planeta e, logicamente, os humanos encontraram um lugar para se estabelecerem. Depois de um longo tempo os avanços da cartografia possibilitaram a divisão de estados e cidades. Criando assim uma civilização.
    Esse lugar possuía quatro capitais principais: Teléstia (centro tecnológico e capital real), Carátis (capital portuária), Aluél (cidade das fontes termais) e Alterã (cidade mercantil). Um país cujo os habitantes viviam sem preocupações. Esse lugar que muitos pensariam ter saído de um livro de ficção científica foi chamado de CÂNDERA.
    Fora dos muros, no lado oeste da capital, um imenso vale com árvores e grama baixa se estendia por quilômetros. Saindo da fenda de um rochedo ao longe um rio cortava o campo e seguia por dentro da cidade, até desaparecer no horizonte. Já no fim do dia o pôr do sol tingia todo o campo com um laranja único, fazendo o lugar ainda mais lindo, de todas as formas. Porém a verdadeira beleza só poderia ser vista de noite, quando os amontoados de lírios e vagalumes brilhavam e iluminavam todo o vale. Sim, de alguma forma aquelas plantas brilhavam. Por esse motivo uma certa pessoa decidiu chamar esse lugar de vale dos lírios cintilantes.

        C.A: Bem, fui em quem criou e colocou esse nome no lugar, mas na história foi um personagem que o chamou assim. (;

    Um garoto, deitado na grama, admirava aquilo. Todos os dias eram iguais para Askam, os deveres do filho da realeza eram muito chatos e entediantes. Aula de línguas, instrumentos, ciência e outras coisas o deixavam sempre desanimado. O único prazer que tinha era no fim do dia, admirar o sol e as estrelas o fazia pensar se algo poderia existir além do céu. Como tudo começou? Ele se perguntava enquanto olhava para cima.
    Enquanto estava admirando o horizonte laranja algo chamou sua atenção. As margens do rio um brilho azul claro saía dentre a grama, seguido de um som grave e pulsante. Isso intrigou o garoto que rapidamente foi ver o que era. O som do barro e da água corrente iam ficando mais altos a cada passo. Se agachando ele afastou a grama com as mãos e viu que ali havia uma pedra azul. Ele a pegou e a levantou na frente dos olhos: “Nunca vi uma pedra assim.” Ele disse enquanto a observava. Depois desviou sua atenção para o rio e viu que mais ao longe a água saía de uma abertura no início de um canto isolado do morro, coberto por mato. “Será que, ela veio de lá?”  De repente ele ouviu uma voz:
    — Ei! Oi Askam!
    Ao longe, uma garota de cabelos brancos usando um vestido bege que ia até a altura do joelho vinha correndo em sua direção. Era Neara, por ser filha de um nobre ela sempre estava nas mesmas aulas que Askam, com o tempo os dois se tornaram amigos muito próximos. Eles tinham a mesma idade, ele 16 e ela apenas um ano mais velha, 17. A garota estava correndo na direção dele com algumas pastas embaixo do braço direito e abanando o esquerdo, Askam rapidamente guardou a pedra em sua bolsa. Neara, sem prestar atenção onde pisava, tropeçou em uma pedra e caiu de um jeito tosco. As folhas da pasta voaram para cima e ela se sujou com grama e terra, Askam viu isso e bateu a mão no rosto, incrédulo. Depois correu até onde ela estava e a ajudou a se levantar.
    — Caramba. — A segurou pelo braço, ajudando ela a se levantar. — Você precisa olhar pra onde pisa.
    — Ai, ai — Neara esfregou a mão na cabeça. — Oi Askam... ah não.
    — O que foi?
    — Minha roupa, eu queria tanto te mostrar, comprei ela ontem e agora...
    — Calma, fica tranquila. — disse enquanto batia no vestido para tirar a terra.
    Neara, depois de se recompor, olhou para as folhas de papel espalhadas pelo chão e rapidamente começou a juntar tudo. Askam a ajudou. Enquanto recolhiam tudo ela o questionou.
    — A propósito, Askam. — disse, colocando o amontoado de folhas de volta na pasta, em seguida abriu para ele, que também guardou mais papéis.
    — O que foi? — ele perguntou.
    — O que você tava olhando?
    Askam parou por um momento, receoso.
    — Ah, eu....eu
    Neara o olhou com a expressão séria.
    — Anda, me mostra, eu sei que você tá escondendo alguma coisa. — Começou a querer olhar o que tinha dentro da bolsa dele. O garoto tentava se esquivar.
    — Ah, tá bom, tá bom! Eu mostro. — Virou a cabeça para baixo e suspirou. — Não consigo esconder nada de você né?
    — Que bom que você sabe. — disse, se sentindo muito importante. — Então, o que tava olhando?
    Askam hesitou mas logo colocou a mão na bolsa, antes de tirar ele olhou para os lados, desconfiado.
    — Você não pode contar isso pra ninguém ouviu?
    — Tá tá, anda logo. — estava empolgada.
    Neara olhou com atenção quando ele estendeu o braço e abriu a mão. Ficando desapontada.
    — Uma pedra?
    — Sim, mas olha bem, essa pedra é diferente.
    — Uhmm. — Olhou mais de perto. — Pra mim é só uma pedra.
     Askam se convenceu de que ela era uma tonta.
    — Tá bom. — disse decepcionado. Depois colocou a pedra de volta na bolsa. — Deixa isso pra lá. — Suspirou e depois questionou a garota. — Me diz, porque você veio aqui?
    Neara tossiu e logo em seguida, como em pose de serenidade, respondeu.
    — Ehem! — tossiu. — Vim pra te acompanhar.
    — Me acompanhar né. — disse, desconfiado.
    — Uhum — a garota afirmou. — Tá muito perigoso andar sozinho por aí. — Começou a se achar em um discurso, andando ao redor do garoto. — Crianças não deveriam andar por aí sem a supervisão de um responsável sabia? Pessoas mal intencionadas espreitando a cada esquina. Aiai Askam — Colocou a mão no ombro do garoto. — Se você soubesse como é sortudo por ter uma garota como eu do seu lado. — sorriu. — Você agradeceria cada segundo. E a propósito.
    — O que foi agora? — Askam disse, desejando que aquilo acabasse logo para ele poder ir embora.
    — Você é filho do imperador né?
    — Você me conhece a dois anos e ainda pergunta isso? — respondeu, incrédulo.
    — Bem — Ficou confusa. — Pra alguém que é “filho do imperador” você não deveria estar cercado de guardas pra lá e pra cá?
    Askam olhou para a cidade e para o palácio ao longe. Suspirando.
    — É chato ser seguido pra todo lugar. — Voltou sua atenção para a bolsa, a ajeitando. — Bem, eu consigo despistar eles às vezes. Por sorte não descobriram que eu venho pra cá.

                                                  Comentários de personagem (C.P): Afinal, tem só duas semanas que eu venho aqui hehehe.

    O garoto voltou a atenção para Neara, percebendo que estava distraída com um inseto. Chamou sua atenção e ela imediatamente olhou para ele.

    — É claro. — seguiu andando e passou direto por ela. — Até alguma idiota dizer pra todo mundo onde eu tô. — Se virou e olhou para ela. — Não é? NEARA.
    A garota não gostou daquilo. Correndo em sua direção ela pegou Askam de surpresa, pulando sobre as costas dele e agarrando suas bochechas.
    — Me responde direito garoto! Ouviu! — Não parava de puxar as bochechas dele. Askam tentava se soltar mas ela não o largava.
    — Ai! Neara! Sai de cima!
    — Isso é pra você aprender a não falar assim comigo entendeu? Entendeu?!
    — Tá! Entendi. Desculpa, eu não vou falar mais isso tá bom?! — gritou.
    — Hum. — resmungou, largando ele. Askam esfregou as bochechas.
    — Caramba, tinha que puxar tão forte? — perguntou. A garota virou o rosto, bufando.
   
    Depois de se recompor o garoto ajeitou as coisas que haviam caído no chão. Quando estava pronto para seguir ele notou que algo estava faltando e, apalpando a cintura, olhou para Neara.
    Ela levantou o braço e abriu a mão, mostrando uma pequena bolsinha cheia de moedas. “Não se atreva.” Askam falou. Em seguida Neara deu um sorriso e após alguns passos para trás saiu em disparada, descendo o morro a toda velocidade. O garoto foi atrás mas não conseguiu acompanhá-la, parando ele se apoiou nos joelhos, ofegante de cansaço. Neara, que estava mais a frente, em meio a grama e aos lírios, olhou para ele. Colocando as mãos ao lado da boca ela gritou:
    — Aí! Você é tão molenga assim?!
    — Ah! Cala a boca e me devolve isso!
    — Uhmm. — Analisou a bolsinha, depois olhou para o garoto com um sorriso malicioso. — Se bem que me deu uma vontade de comer carne de inum. Hehehe.
    — Você não ousaria. — ficou receoso.
    — Pode acreditar, eu ousaria sim.
    Outra vez Neara saiu correndo. Mas antes que  pudesse pensar ela tropeçou e caiu, novamente. Askam aproveitou a chance e a agarrou. A garota não deixou barato e deu uma rasteira nele, fazendo-o cair por cima dela.
    Os rostos dos dois ficaram um de frente para o outro e, naquele momento, tudo ficou em silêncio. O som das árvores e do vento era seguido por uma brisa refrescante que cobria o campo. Os olhos dos dois se encontraram, Askam, sutilmente foi se aproximando. Neara lentamente fechou os olhos.
     — Me devolve. — disse, pegando o saco de moedas das mãos de Neara. Depois se levantou e limpou a roupa, voltando a falar:
    — Se você quiser — fingiu tossir para disfarçar. — depois eu compro pra você.
    — O que?! — Neara ainda estava deitada no chão, surpresa.
    — A carne, você não disse que queria carne de inum?
    Ela imediatamente se levantou.
    — Áh, é verdade. — ficou boba.
    Askam olhou para o céu. Estava na interseção entre o fim do dia e o início da noite, os lírios já estavam começando a brilhar. Ele voltou os olhos para Neara, ela estava a frente, caminhando entre as plantas. Indo em direção a cidade que brilhava ao longe.
    Neara se virou para trás, procurando Askam. Ela o viu parado, olhando em sua direção com um sorriso bobo.
    — Ei, tá aí parado por quê?
    — Áh, nada. — Ele disse, sacudindo a cabeça e voltando a si. — Vamos logo, a minha mãe deve estar louca me caçando.

    Os dois foram em direção à cidade. Algum tempo depois de entrarem o garoto queria comprar a tal carne mas Neara disse que não queria mais, ele não entendeu e deixou pra lá.
    Depois de algum tempo de caminhada e bastante conversa os dois chegaram na casa da garota. Uma residência nobre para aquela época, um grande jardim cercado e uma casa chique no centro, típico das pessoas nobres. Se despedindo apressadamente a garota virou as costas e entrou, passando pelo portão ela apressadamente foi a porta principal e a abriu. Batendo-a antes que Askam terminasse o tchau, ele não entendeu e foi embora.
    Ao se aproximar do palácio real os primeiros que o viram foram os guardas, que mais cedo foram despistados por ele. Três soldados correram até Askam, estavam muito preocupados.
    — Príncipe! Onde esteve?! — Um dos soldados disse, preocupado. — Por quê está tão sujo? A rainha vai cortar nossas cabeças quando te ver.
    — Calma, deixa que com ela eu me resol– — De repente a rainha apareceu e o garoto foi interrompido por ela.
    — Askam! Onde você estava?!
    — Falando nela. — o soldado argumentou.
    Ela correu até Askam, as servas ficaram mais atrás. Ao chegar no garoto ela se ajoelhou e começou a examiná-lo preocupada, em seguida ela olhou para os guardas e fez sinal com a cabeça. Eles se curvaram e depois saíram.
    — Askam, eu já estava mandando os guardas irem te procurar. Essa já é a terceira vez que você foge assim.
    — Mãe, para.
    — Seu pai, ele anda muito estressado com os assuntos do reino e você causando ainda mais preocupação. — a rainha disse.
    Quando entraram no palácio imediatamente se depararam com ele. O imperador Vastos, regente de Cândera, era um homem forte e de grande estatura, ele estava acompanhado por nobres e guardas. Quando viu Askam ele fechou o semblante.
    — Todos vocês, podem ir. Quero ficar a sós com meu filho.
    Os nobres e os guardas se curvaram e saíram, deixando a sala.
    “Onde você estava?”
    Askam permaneceu calado, ele ficou de cabeça baixa, ouvindo tudo. De repente, enquanto seu pai ainda falava, ele saiu do lugar e apressadamente foi para seu quarto. O imperador foi interrompido por esse gesto e ficou mais irritado. Quando iria direto ao quarto, sua esposa o segurou.
    — Vastos, espere. — o puxou. — O Askam ainda está aprendendo. Se só ficarmos brigando com ele nada vai mudar.
    — Catarine, você, como esposa real, deveria saber que essa atitude pode arruinar o futuro do reino! — disse, irritado.
    — Sim, eu sei, mas não é assim que devemos ensiná-lo.          
    Vastos olhou para ela por alguns segundos, depois puxou o braço e deu as costas, saindo nervoso. Ela o deixou ir, depois, decidindo ver como estava Askam, subiu as escadas e parou enfrente a porta.
    — Askam? Estou entrando.
    Ela abriu a porta e viu o garoto deitado na cama com o rosto no travesseiro. Sua bolsa estava jogada ao chão.
    — Vai embora. — Ele disse, com a voz abafada.
    — Filho...
    Catarine se sentou na cama. Em seguida deu um leve sorriso e ajeitou seu cabelo com a mão.
    “Pode não parecer, mas mesmo com aquele jeito de durão que o seu pai tem, ele te ama. Só não sabe demonstrar isso.”
    O garoto esquivou a cabeça.
    — Eu sei, mesmo assim é um saco.
    — Filho, você lembra do que sua vó te falava?
     Askam apertou a mão.
    — Não quero falar sobre isso.
    — Ela falava que não importa o quanto você se dedique à alguma coisa, sempre haverá pessoas cobrando mais de você, que você faça aquilo “sem cometer erros”.
    — ....
    Colocou a mão sobre ele.
    — Filho, sempre terão pessoas precisando de você, o peso de cuidar de um lugar como esse não é fácil. Você tem que tentar entender ele, esse trabalho é muito estressante.
    Askam continuou quieto.
    — Ah — suspirou. — Ok, quando quiser conversar eu vou estar lá embaixo. — Deu um beijo em sua bochecha.  — Te amo filho.
-.....
    Ela se levantou e foi em direção à porta, antes de sair Catarine olhou para ele uma última vez, depois deu as costas e saiu, fechando a porta. Askam continuou na cama. Após sua mãe sair ele se sentou e ficou pensativo, foi rodeando o quarto com os olhos e viu sua bolsa no chão, imediatamente se lembrando da pedra que havia achado. Apressado ele se levantou e a abriu. Um brilho saiu da bolsa, depois ele a pegou e foi para a mesa que estava encostada na parede. Puxou uma gaveta que estava ao lado e pegou vários materiais de ciência.      
       Tudo aquilo estava por cima da mesa e a pedra no meio. Askam se apoiou sobre a mão e ficou pensando: “E agora? O que eu faço?”  Depois que falou isso ele viu uma caixinha de música velha com alguns fios pra fora, a pegou e colocou do lado da pedra. Pegou dois dos fios e os posicionou: “Vamo lá.” Devagar ele foi aproximando os fios até que encostaram na pedra: “Uhm? Ué?” Disse quando viu que nada aconteceu, de repente o brilho azul começou a passar pelo fio, indo em direção a caixinha. Quando chegou a mesma foi coberta por linhas azuis e, depois de alguns estalos, começou a se mexer. Askam ficou maravilhado enquanto o som da música e das engrenagens ecoava pelo quarto.
       Enxugando a lágrima de seu rosto ele admirou a caixinha que sua avó lhe deu antes de morrer. Enquanto a olhava ele percebeu que a música começou a tocar mais rápido, acelerando cada vez mais. Askam começou a se afastar lentamente quando a caixinha atingiu o ápice e explodiu. O barulho foi tão repentino que ele se assustou e caiu para trás, rapidamente se recompôs e pegou a pedra. No exato momento em que fez isso sua mãe abriu a porta de seu quarto.
    — Askam?! O que foi isso? — ela perguntou, olhando o quarto.
    — Nada! Eu apenas deixei um dos cristais de magma cair. — ele sorrateiramente colocou a pedra na gaveta, que estava entreaberta.
    Catarine olhou para a mesa, vendo uma marca escura e diversas peças chamuscadas espalhadas.
    — Filho, já te falei pra não brincar com isso.
    — Desculpa! Ela apenas escorregou da minha mão.
    — Tudo bem, só não coloque fogo no quarto ok?
    — Sim, pode ficar tranquila.
    
    O garoto suspirou aliviado depois que ela fechou a porta. Ele se voltou para a gaveta e pegou a pedra. Enquanto a segurava ele olhou para a mesa e a caixinha em pedaços: “Caramba.” Olhou para a pedra novamente, “Amanhã eu falo com o professor, talvez ele possa me ajudar.” Após arrumar a mesa e guardar as coisas ele foi dormir.
    Askam não conseguiu pregar os olhos um único segundo, preocupado se aquilo explodiria enquanto ele estivesse dormindo.
     
    — Uf! Finalmente. — disse, enxugando o suor da testa  — Acabei de arrumar.
    Reins Zimer era professor de geologia na universidade real de Teléstia. Um homem que presava pela organização, sempre arrumando todos os materiais em caixas específicas e guardando-os no armário no canto da sala após suas aulas. Não sendo diferente, ele, depois que fez tudo, estava se preparando para ir embora quando ouviu alguém bater na porta.
    — Professor?
    — Oi? — Reins se virou. — Ah, Askam é você.
    Askam entrou e colocou a pedra em cima da mesa.
    — O que é isso? — ficou surpreso.
    — Eu vim aqui justamente pra saber. Achei ela jogada perto do rio e levei pra casa... digamos que depois de alguns experimentos eu fiquei preocupado.
    — Uhm — Reins pegou a pedra e a girou nos dedos. Ela era transparente mas emitia um certo brilho, mesmo com a luz ambiente. — Nunca vi algo assim antes, você tem um nome pra isso? — Reins perguntou, desviando os olhos da pedra e focando no garoto.
    — O que?! Nome? Não tive tempo pra isso. — Askam jogou a mochila na cadeira.
    — Se isso for um novo minério precisaremos de um nome não acha?
    Askam suspirou. Incrédulo.
    — Nomes são a última coisa que precisamos agora Reins.
    — Humph. Garoto sem criatividade. — Reins disse, bufando, em seguida colocou a pedra com cuidado em um recipiente.
    — Ok, já que é assim, vamos chamá-la de “CÂNDERIONITE”. Para ficar melhor de identificarmos.
    Askam franziu a testa.
    — O que? Cânderionite? Não tinha nada melhor não?
    — Tá bom então ô mestre dos nomes. Quer que eu chame ela de pedra azul que brilha? — Reins exclamou, com um sarcasmo levemente irritado. Askam bateu a mão na testa.
    — Tá bom. Cânderionite é um bom nome. — Balançou as mãos, concordando relutantemente.
    O garoto levantou da cadeira e depois de colocar a bolsa nas costas ele foi até a porta. Antes de sair ele se virou.
    — Vê se não vai explodir a sala.
    — O quê? — Reins olhou para a porta, preocupado. Vendo que o garoto já havia ido ele se voltou para a caixa, suspirando. — Tá certo. 
    Na manhã seguinte Askam se levantou e começou a se arrumar quando alguém bateu na porta. Era uma das servas, ela abriu a porta e o viu colocando a camisa.
    — Senhor príncipe. Se arrume, o café está servido.
    — Uhm? Tudo bem. — Fez um gesto com a mão e dispensou a serva. — Ah, que saco.
    O garoto desceu as escadas. Quando chegou na sala de refeições ele viu sua mãe sentada a mesa, os servos estavam dispostos nos cantos e a comida já estava servida. Ele não viu seu pai.
    — Uhm? — Um dos servos puxou a cadeira e o garoto sentou, pegando a comida em seguida. — Mãe, a senhora sabe onde ele está?
    Catarine usou a faca para cortar um pedaço da carne e o levou a boca com outro talher. Em seguida respondeu Askam.
    — O seu pai teve que ir às pressas para o palácio, parece que tem havido muitas coisas estranhas recentemente. — usou um paninho para limpar a boca.
    — Entendi.
    Pelo resto da refeição eles conversaram assuntos monótonos. Quando Askam terminou de comer os servos levaram o prato e os talheres.
    — Com licença mãe. Já estou indo. — Ele disse, se levantando.
    — Tudo bem filho. Até mais tarde.
    Ao ver que Askam saiu Catarine chamou uma das servas e cochichou em seu ouvido. A serva fez que sim com a cabeça e se curvou. Saindo da sala.
     Quando Askam abriu a porta ele avistou Neara. Ela estava com o uniforme e, como sempre, alegremente balançava o braço gritando oi. Parecia despreocupada com qualquer atenção que atraía para si. Askam continuou andando, ao chegar perto dela ele simplesmente passou reto. A garota se virou e foi até ele, parando ao seu lado.
    — Ei! Vai passar assim sem mais nem menos?
    — Oi pra você também, Neara.
    A garota o passou e parou em sua frente, colocando as mãos atrás das costas, ela se inclinou chegando perto. Askam ficou sem jeito.
    — Nana nina não! Você me conhece a todo esse tempo só pra simplesmente me dizer um “oi Neara”?. O que tá acontecendo?
    Askam a contornou.
    — Não é nada, são só as montanhas de tarefas que eu tenho que fazer.
    — Tarefas né? Sei.
    Askam não disse nada. Por todo o caminho ele ouviu Neara falar como seria bom se ele se distraísse um pouco, de como ele só vivia uma vida chata. Quando chegaram na universidade o garoto já não aguentava mais ouvir tanto falatório. Neara, percebendo a hora, foi na frente entrando primeiro. Quando percebeu que ela tinha ido ele suspirou e seguiu para sua aula rotineira.
    O sinal tocou mostrando o fim do dia, do lado de fora o céu estava alaranjado. Askam estava sentado em sua mesa quando ouviu o barulho, simultaneamente ele largou o lápis e se espreguiçou sobre a cadeira. Logo guardou suas coisas e saiu da sala. Depois de andar um pouco ele parou enfrente à uma porta, nela estava escrito:

SALA DE GEOLOGIA
Prof-Reins Zimer

                   C.A: Foi mal. Não tô sabendo descrever isso como se fosse em tempos antigos. Tistreza. ):

    Antes de abri-la o garoto respirou fundo. O dia todo ele só pensava naquilo e no que o professor deveria ter descoberto. Abrindo-a ele viu Reins sentado na cadeira, sobre a mesa um microscópio apontado para a pedra. Askam entrou e acabou pisando em algumas folhas no chão, achou estranho, toda a sala estava uma bagunça e várias coisas estavam espalhadas.
    — Você por acaso deu aula hoje? — O garoto entrou se esquivando das folhas no chão.
    — O que? Askam!
    — Então — Foi se aproximando. Ele olhou para o chão e se curvando pegou uma das folhas que acabara de pisar. Ele a sacudiu e observou diversas anotações. — O que você descobriu?
    — Bem — tossiu. — Olha. — disse, apontando para o microscópio.
    Askam se aproximou e colocou os olhos no encaixe do microscópio.
    — Tá, são só algumas linhas, e aí?
    — Calma, a melhor parte vem agora. — Reins pegou um pequeno frasco com uma espécie de líquido preto. Usando luvas ele pingou um pouco na pedra, nada aconteceu.
    — Tá legal. — Askam disse, não entendendo nada.
    — Olha de novo pra lente.
    Askam se posicionou novamente e o que viu o deixou ainda mais confuso. Uma série de linhas escuras cortadas, fragmentos desordenados que não faziam sentido nenhum. Ao passar dos segundos os fragmentos passaram a se mexer e ir cada um em direção ao outro, depois eles se interligavam a formavam o que parecia espirais. Centenas delas, não, milhares. Quanto mais o tempo passava mais espirais iam se formando, até que pararam.
    — Você sabe o que eu joguei aí? — Reins perguntou, virando o papel do frasco para o garoto. — Niótido de amêto.
    Askam imediatamente se afastou. Estava pasmo.
    — Espera. Você tem isso aqui? — disse, muito assustado. — Você tá querendo matar agente?
    — Calma, esse aqui não é o próprio Niótido. Eu fiz uma modificação nele e deixei menos corrosivo.
    — Mesmo assim!

             C.A: Pra quem não entendeu eu explico. O Niótido de amêto é uma substância do meu universo duzentas vezes mais corrosiva que o ácido sulfúrico. Ele é encontrado em certas regiões muito específicas de Cândera e até o frasco dele precisa ser especial. Para aguentar a corrosão.
    Aiai. Por quê é tão difícil explicar algo que não existe?
   
  
     Reins desencaixou a parte que prendia a pedra no aparelho e a pegou, segurando-a na frente de Askam. O garoto gritou para ele não encostar naquilo.
     — Calma! — Reins gritou também. — Olha. — segurou a pedra despreocupado.
   — O que!? Mas você não jogou o Niótido nisso? Como a sua mão não derreteu? — O garoto começou a chegar mais perto. Ficando mais tranquilo.
    — Eu não sei. De alguma forma todo o líquido sumiu.
    — Espera. — Tocou a pedra com o dedo, verificando se era seguro. — O que quer dizer com sumiu?
    — Isso mesmo. Sumiu, não importa quantas vezes eu jogue o ácido nisso a pedra sempre volta ao normal e ele some. Parece que a própria composição dessa coisa anula a composição do Niótido. E sabe aquelas espirais que você viu?
    — O que? Aquilo?
    — Sim, isso mesmo. Aquilo é o motivo de o ácido sumir. — Fez um gesto com as mãos como se estivesse quebrando algo. — Não sei ao certo mas isso de estilhaçar e se recompor anula todo o efeito da corrosão, fazendo a pedra voltar ao estado original.
    — Espera, tipo uma regeneração?
    — Bem isso mesmo. E além disso, essa “regeneração” gera energia, e é das fortes.
    — Entendi, então tá explicado. — Askam argumentou, com a mão tampando a boca e olhando para baixo.
    — E também tem isso. — Reins pegou uma pequena pecinha de metal prateado.
    — O que?! Tem mais?
    — Sim, tem sim. Essa pecinha de metal é feita dessa pedrinha aí. — Apontou para a pedra. — Você percebeu que tá faltando uma lasca não é?
    — Verdade. Agora que você falou eu percebi sim.
    Reins pegou o mesmo frasco e em seguida posicionou a peça em um encaixe, derramando um pouco do líquido por cima dela. O líquido borbulhou, fazendo um som crepitar de algo queimando. Askam chegou mais perto e viu que, quando o líquido parou de borbulhar, a mancha no metal foi desaparecendo aos poucos até sumir. Ele olhou para Reins.
    — Caramba.
    — Espera aí. — Reins se voltou para o armário e começou a vasculhar em algumas caixas. Depois de alguns segundos ele voltou com um martelo na mão. Posicionando o martelo na peça ele bateu com toda a força, faíscas voaram e o martelo trincou. Incrivelmente, quando voltaram a atenção, a peça estava intacta. — Também é bem resistente. — Subitamente bateu de novo com o martelo, que quebrou de vez. Reins olhou para o cabo sem a ponta e o largou. — É isso.
    — Você contou isso pra mais alguém? — Askam perguntou.
    — Não, quis falar com você primeiro.
    — Ótimo. Até sabermos o que realmente é isso ninguém pode saber de nada, ok?
    — O quê? Você sabe que só essa coisinha que você tá carregando de um canto pro outro pode ser a nova descoberta que Cândera precisa? — Reins disse. — E você me diz pra não contar pra ninguém?
    — Sim, exatamente. — Askam tocou o dedo no peito de Reins, o repreendendo. — E sabe o porquê? Porque além de Cândera outras pessoas com intenções muito piores também vão querer isso. E uma guerra é a última coisa que agente quer. — Ajeitou a mochila nas costas.
    — Tá tá. Mas você tem algum plano agora? Tipo, isso não vai ficar só nisso não é?
    — Já tenho uma ideia, por hora você só precisa ficar com o bico fechado. — Olhou para toda a sala. — Também dá uma arrumada nisso e descansa um pouco. Credo você tá um caco.
    Reins passou a mão na cabeça enquanto olhava para tudo.
    — Verdade. O diretor com certeza deve estar querendo a minha cabeça numa bandeja por não ter dado aula.
    — Bom. Tô indo. Espero que consiga se resolver aí.
    — É... Eu também.
    O garoto, depois de ouvir isso, deu as costas e saiu. Reins ficou ali, olhando aquilo tudo ele suspirou.

    Askam estava saindo como de costume quando teve a leve impressão de que alguém o seguia, ele disfarçou e continuou seu caminho. A rua que era estreita, de um lado e do outro mesas de comércio vendendo os mais diversos produtos. O garoto parou em uma delas e, disfarçadamente, puxou assunto com o comerciante. Sorrateiramente ele olhou para o lado e viu, ao longe, uma pessoa vestida com uma túnica, ela estranhamente parou. Mais alguns homens também pararam em posições diferentes, espalhados uns dos outros.
    Askam entendeu no mesmo momento, e também percebeu que não conseguiria ir onde queria se aqueles homens continuassem o seguindo. Tentando ver algum jeito de os despistar ele viu que mais a frente havia uma bifurcação na rua. Ele devolveu o produto que estava olhando ao mercador e agradeceu, em seguida foi caminhando até chegar na tal. Os homens o seguiram de longe. Askam virou para a direita e os homens também.
    A roupa que vestia era quente e abafada, aquela túnica era a última coisa que aquele soldado queria. Voltando os olhos ele viu que o príncipe estava se movimentando. Imediatamente deu o sinal para os outros e eles começaram a caminhar, afastados para não levantar suspeitas, ao todo eram cinco soldados. O que comandava eles observava atentamente o garoto. Vendo que Askam tinha virado para a direita em uma bifurcação ele deu um sinal e três dos homens pararam. Outros dois e ele seguiram pelo mesmo caminho que o garoto, quando chegaram na rua em que o príncipe entrou eles não o viram, imediatamente ficaram preocupados e alertas. O que comandava deu outro sinal e eles começaram a buscá-lo, não encontrando nada. O comandante notou algo estranho em uma das cortinas velhas e mofadas jogadas ao canto da parede. Aquela era uma viela, havia bastante lixo e coisas velhas, também era perigoso. E se o príncipe tivesse sido sequestrado? Ele se perguntava.
    Se aproximando da cortina ele empunhou sua espada. A passando por debaixo do pano, com um movimento rápido, ele a puxou. Com o susto um nírgis pulou e saiu correndo, os soldados se assustaram.

                     C.A: Nírgis é como se fosse um rato grande do meu universo. Ele tem alguns espinhos nas costas e sua principal comida são as baratas que se alimentam do mofo, restos de comida e restos do esgoto de Cândera.

    O animal passou entre eles e fugiu, os soldados foram onde os outros três estavam e contaram que o garoto havia sumido novamente. Todos voltaram juntos e seguiram procurando o príncipe.
    Depois que o barulho parou e a rua ficou silenciosa, uma das tábuas de madeira jogadas na parede começou a se mexer. Uma mão passou por fora e a empurrou, o garoto saiu de uma brecha grande na parede que estava coberta pela tábua. Ele, depois de sair, olhou para os lados verificando se estava seguro, depois voltou a rua principal. Indo dessa vez pela esquerda. Enquanto seguia, sempre cauteloso, ele percebeu outra vez que alguém o estava seguindo.
    Askam se virou para trás e viu Neara, ela percebeu e tentou se esconder, mas estava nitidamente óbvio. Askam bateu a mão no rosto. Neara estava escondida, ela se moveu devagar para olhar de canto e ver o que Askam iria fazer. Quando ela colocou os olhos para a rua não viu mais o garoto, ficou em dúvida se perguntando onde ele foi parar. Do nada alguém cochichou em seu ouvido.
    — Por quê você tá me seguindo?
    A garota tomou um susto e pulou para trás.
    — Askam?! — Neara falou, pálida e ofegante. — E...eu? Te seguindo? — Tentou disfarçar de mal jeito. — Eu não tava te seguindo é... — Askam a olhou com a cara de quem já sabe que é mentira. Neara ainda tentou continuar fingindo mas não aguentou. Ela suspirou e ficou cabisbaixa. — Você não vai me deixar ir não é?
    — Não. — Askam respondeu. Secamente.
    — Por quê?
    — Por quê não.
    No mesmo momento Askam começou a ouvir o som de passadas rápidas e pesadas. Eram os soldados. Ele olhou em volta, procurando um lugar para se esconder. Neara, não entendendo o que estava acontecendo, do nada foi puxada pelo braço. Askam puxou a garota e se escondeu atrás da barraca, o mercador não gostou daquilo e imediatamente foi tirá-los dali. Askam, de trás da barraca e com a mão na boca de Neara, mexeu em sua bolsinha e tirou uma moeda. O mercador parou por um segundo e depois a pegou, em seguida fez sinal com a cabeça e os deixou, voltando para seu banco atrás da mesinha. Askam se cobriu com um pano e ficou parado.
    Ele fez sinal de silêncio para Neara e ela se acalmou. O garoto tirou as mãos de sua boca, estava toda babada então ele a limpou na blusa da garota. Os soldados estavam eufóricos, quando passaram pela barraca olharam para o mercador mas não ligaram para ele e seguiram. O homem, vendo isso, cutucou os dois, Askam tirou a cabeça para fora e perguntou se já se foram. O comerciante fez que sim com a cabeça.

    Ele tirou o pano e ajudou Neara a se levantar, vendo se o caminho estava seguro ele olhou para ela. Agora que sabia que algo realmente não estava certo ela com certeza, na primeira vez que fosse pressionada, iria dizer tudo. O garoto colocou as mãos na cintura e suspirou, depois olhou para ela e disse:
    — Tudo bem.
    Neara imediatamente compreendeu. Depois abriu um sorriso e colocou as costas retas.
    — Hahaha! — Deu uma risada convencida. — Eu sabia que você não me negaria isso.
    Ela começou a andar, ainda convencida. Askam apontou para o outro lado e disse: “É pra lá.” A garota deu meia volta.
     Os dois caminharam por um tempo até saírem da cidade, tomando cuidado para não serem descobertos. Quando finalmente chegaram eles pararam em cima de um morro e Neara, ofegante, dobrou as costas e colocou as mãos nos joelhos, depois levantou a cabeça e olhou para o lugar, o reconhecendo imediatamente.
    — Espera. — Ficou envergonhada, lembrando da última vez que esteve ali.
    — O que foi, você não vem? — Askam disse, descendo.
    — Nada! Eu tô indo. — Desceu, tomando cuidado para não tropeçar.
    Quando a garota o alcançou ele estava parado enfrente à uma pequena abertura onde saía água. Eles estavam em um lugar que ela nunca havia ido, estava quase anoitecendo e o som dos insetos e da água correndo a deixou apreensiva.
    — Onde agente tá? — disse olhando ao redor, preocupada.
    Askam apenas apontou para a rachadura. Neara o olhou, depois olhou a brecha.
    — V... você não vai entrar aí né?
    Askam sorriu.
    — É claro que eu vou. — Se aproximou e começou a entrar dentro da fenda. — Vou deixar minha mochila aqui, você vai ficar bem aí vigiando tudo entendeu?
    — Hã, não! Espera! — Ela correu na direção dele, mas ele já havia entrado.
    Neara ficou sozinha com apenas o som dos insetos e do vento para lhe fazer companhia.
    — Ah cara, Askam volta logo. Ah! — Gritou de susto com o estalo de um graveto que pisou.
   
    O garoto quanto mais ia andando, mais a luz da entrada sumia, o cheiro do limo e o som da água gotejando ressoavam pela caverna. Em um certo ponto ele pegou uma pequena pedra vermelha de seu bolso e a encaixou em seu protetor de ombro, que havia colocado ao entrar. No mesmo momento, com um clique, a pedra começou a emitir uma luz, aumentando cada vez mais como uma lanterna.
    — Isso aí, eu sabia que era uma boa ideia ter trazido isso. — sussurrou.
    Conforme andava ele percebeu que mais a frente uma luz azul saía pela direita, imediatamente sentiu algo em seu bolso. Ao pegar a pedra ele viu que quanto mais se aproximava mais brilhante ela ia ficando. Quando chegou perto de onde o brilho vinha ele respirou fundo e foi.

AIR FALCON - Parte 1 (Finalizado)Onde histórias criam vida. Descubra agora