𝙲𝚊𝚙𝚒́𝚝𝚞𝚕𝚘 𝙸𝙸: 𝙰 𝚂𝚘𝚋𝚛𝚎𝚟𝚒𝚟𝚎̂𝚗𝚌𝚒𝚊 𝚍𝚎 𝚞𝚖 𝙻𝚎𝚐𝚊𝚍𝚘.

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"Since it's so likely that children will meet cruel enemies, let them at least have heard of brave knights and heroic courage." - C. S. Lewis.

(Já que é tão provável assim que as crianças encontrem inimigos cruéis, pelo menos deixe que eles tenham ouvido falar de bravos cavaleiros e coragem heroica).

- Pai, pai! - Chamou Dhalia, entrando aos corres no escritório, anexado com o quarto principal da casa - eu li uma coisa muito estranha!

Jasper levantou os olhos dos documentos para a filha, que agora estava empoleirada numa das poltronas de couro à frente da escrivaninha de mogno, segurando um livro de história nas mãos.

- Eu estava lendo um capítulo sobre antigos símbolos, e tem os significados deles - ela pausou e apontou para os brasões das muralhas na página que estava lendo. - Aqui diz que os nomes das três muralhas vem de ancestrais das humanidade. Mas não importa o quanto eu procure, e esse não foi o único livro em que eu busquei, não consegui achar essa cruz que o senhor usa no peito.

- E por que a procura? - Perguntou, se levantando e indo para a cadeira ao lado da que ela estava.

- Quero saber o significado! - Exclamou, como se fosse óbvio, - e era. Ele estava provocando-a e ela logo percebeu, fechando a cara.

- Então bastava ter perguntado a mim, ao seu avô , à sua mãe, ou mesmo a Benjamin. Essa Cruz, - ele pausou e tirou o colar simples de dentro da camisa social, para revelar uma pequenina cruz de madeira que pendia de uma correntinha de prata - significa morrer para salvar, ou morrer para proteger.

Os olhos dela se arregalaram, como se a fala trouxesse memórias, mas isso era impossível, dados em conta seus breves quatro anos de vida.

- Um dia eu vou poder usar uma, também? - Perguntou, ansiosa.

- Na verdade, - ele se levantou e foi até a escrivaninha, abriu uma gaveta e dela tirou uma caixinha singela e elegante, revestida de veludo azul escuro com um fecho dourado. Os olhos brancos de Dhalia brilharam como estrelas - eu pedi à Hortênsia que buscasse em Hermina para o seu aniversário, então trate de esperar, viu?

Ela soltou um grunhido.

- Por que me contou se não iria me dar logo? - Perguntou frustrada.

-Pra ensinar você outra lição muito importante, que também é legado da nossa família, assim como essa Cruz - ele respondeu, guardando a caixinha e fechando a gaveta.

Dhalia se aprumou, curiosidade substituindo a inconformidade.

- E qual é? - Perguntou enquanto Jasper voltava para perto dela e a pegava no colo.

- Paciência. - Piscou, - agora: cama.

Essa palavra pareceu desencadear uma reação química no organismo da criança, ela começou a se debater e espernear.

- NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO - Choramingou, tentando escapar do aperto implacável do soldado que chamava de pai. - NÃO PAI-

- Vamos. - Ele disse, impassível.

{...}

- "Mimimi, sEjA BOaZinHA" - repetiu Dhalia em silêncio, deitada em sua cama quase à força as 20H da noite - poxa, eu sou tão pequena a ponto de nem poder ajudar a atender os pacientes, ok, mas nem assistir? Eu queria aprender mais sobre sutura com o vovô! Agora o que vai acontecer se Ben se meter em briga e acabar com um corte fundo de novo!?

Ela virou-se debaixo das cobertas, irritada, mas não fez barulho para não quebrar o silêncio. Este afundava em seus ouvidos com uma pressão excepcional, como se sua camada grossa escondesse algo.

𝐄𝐫𝐠𝐚́𝐬𝐭𝐮𝐥𝐨 {•𝐀𝐜𝐤𝐞𝐫𝐦𝐚𝐧 𝐋𝐞𝐯𝐢•}Onde histórias criam vida. Descubra agora