PARTE 01: A DESCOBERTA

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Em outra vida

Eu faria você ficar

Para não ter que dizer

Que você foi aquela que foi embora

                                                               (The one that got way – Katy Perry)


CAPÍTULO 01 – Romero Henrique:

As rosas vermelhas que estão sobre a mesa envernizada me chamam a atenção todos os dias, ao contrário das quatro paredes brancas que estão a minha volta. O quadro pendurado em uma dessas paredes é o tipo de desenho que ninguém entende, há apenas rabiscos para lá e para cá, sem muito sentido. Mas é isso que o deixa bonito, porque por mais que ele não tenha sentido, o modo como as cores são jogadas na tela me faz pensar no sol que não posso ver e nas estrelas que não posso contar.

A enfermeira que deveria estar aqui à dez minutos atrás para aplicar um liquido viscoso em meu braço o qual me manterá acordado nas próximas horas ainda não chegou. O que me deixa inquieto, as pessoas que trabalham nesse lugar são extremamente pontuais, ela chega todos os dias para aplicar o meu remédio às seis da manhã, e sempre faço contagem regressiva dos dez segundos anteriores, isso não aconteceu hoje.

Levanto-me da cama estreita em que me encontro e penso em ir até as rosas que ficam a cinco passos de mim. Assim que meus pés se encontram com o piso frio sinto um impacto angustiante, mas logo me acostumo com a temperatura. Vou até o criado-mudo, observo em especial uma das rosas e a pego, o modo como meus dedos se encontram com o caule faz com que ele se espetasse e logo solto a rosa deixando-a cair no chão.

A raiva toma meu corpo.

Com a mesma velocidade em que a rosa chegou ao chão meu punho se fecha e com a força que desconheço ter bato no vaso em que se encontram as outras rosas, e todo vidro se choca contra a parede que está a um metro de distância. Meus dentes rangem e eu me ajoelho ao lado dos cacos de vidro tentando montar o lindo vaso novamente. Mas não é possível. O que foi que eu fiz? As lagrimas que começam a escorrer sob minhas bochechas são impossíveis de conter. Eu não queria ter feito isso! Eles vão querer me punir como da outra vez. Vão me dopar de remédios. Meus braços começam ficar trêmulos e continuo tentando montar o vaso quebrado.

Não demora mais de um minuto para dois homens vestidos com roupas de enfermeiros chegarem para me estabilizar.

-Não! – grito – Por favor! Eu não quero! – Corro até o outro lado da cela encosto-me à parede.

Eles me carregam a força – sem dizer nenhuma palavra – até a cama enquanto eu faço um alvoroço tentando me soltar. Os dois me colocam de barriga pra cima no colchão e enquanto um me segura o outro aplica uma agulha um pouco acima do meu pulso.

A última coisa que consigo ver é o meu reflexo nos óculos de um dos enfermeiros.

*

Quando abro meus olhos me deparo com uma luz ofuscante em cima de mim, o que me obriga fecha-los novamente até que eu me acostume. Depois de um minuto me levanto e logo sinto uma dor no local em que a agulha foi aplicada, com a minha outra mão apalpo o local para tentar aliviar a dor, e vou andando.

Sei que não estou em meu quarto. Aqui as quatro paredes são de espelhos, o que me assusta durante um tempo, pois não sou acostumado a me olhar. Aproximo-me de uma dessas paredes e fico me observando, tenho olhos verdes, meus cabelos é um castanho um pouco preto, percebo que minhas orelhas já não estão aparecendo devido ao tamanho dos fios, há cerca de seis meses que não corto ele, vejo que meu bigode e a barba também estão aparecendo, emagreci nesses tempos pra cá, minhas veias estão praticamente pulando para fora. Para um adolescente de dezesseis anos pareço ser bem mais velho.

ENVIADOS - BATALHA PELA LIBERDADEOnde histórias criam vida. Descubra agora