CAPÍTULO 03 - ROMERO HENRIQUE

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Imagino que já esteja de noite, as horas anteriores foram extremamente tediosas, não peguei no sono em nenhum momento. Volto a pensar no cordão que estava pendurado no pescoço daquele homem, talvez seja apenas uma coincidência, talvez não. Preciso acreditar que ele possui ligações com meus pais, que ele está aqui com algum objetivo, mas não posso me iludir com isso. A coincidência é o que predomina em meus pensamentos nesse momento, com certeza há mais cordões como aquele, o risco da caneta foi o que mais me assustou.

Lembro-me perfeitamente do dia em que eu encontrei o cordão para minha mãe. Era de noite, e nós estávamos conversando pelo centro da cidade quando me dispersei por alguns minutos dos meus pais e fui brincar com algumas crianças. Obviamente eu não havia ido longe, eles estavam na calçada do outro lado. A gente queria encontrar o "grande tesouro" que nós estávamos procurando, foi quando eu achei o cordão e simplesmente fiquei em silêncio para que nenhuma das outras crianças o roubasse de mim. Queria dar aquele presente à minha mãe.

Deixei as outras crianças procurando o "grande tesouro" e saí correndo em direção aos meus pais. Minha mãe pareceu ter ficado feliz quando entreguei a ela, logo percebi o longo risco de caneta que havia no objeto, mas ninguém fez caso.

No dia seguinte, nós tentamos vender o cordão para uma joalheria, mas era falso. Essa tentativa me abalou um pouco, mas acabei compreendendo que nossas situações financeiras não chegavam perto de boas naquela época. Aliás, seria sorte demais encontrar algo valioso o suficiente para nos dar algo bom no meio dum lugar tão bem povoado.

As lágrimas começam brotar em meu rosto. Os dias de felicidade vão e voltam em minha mente desde a primeira vez em que estive aqui, mas hoje é diferente, sinto que é diferente porque há uma esperança em meu peito, há algo que eu preciso compreender.

Três homens, de súbito, entram em meu quarto sem bater. Eu me assusto ao me deparar com a precisão que eles possuem, com a agilidade que estão agindo. Um deles carrega uma caixa de metal, ele a coloca na mesa ao meu lado e entrega as luvas para os outros dois homens que com uma velocidade admirável encaixam as mesmas em seus dedos. O homem retira uma agulha e caminha até mim. Sem dizer nada, apenas com um movimento que trazia a ponta de seus quatro dedos maiores até a palma da mão entendo que ele quer que eu estenda o braço, assim o faço.

Ao contrário da injeção anterior, que fora completamente dolorosa, essa, é relaxante. Me deixa com uma sensação boa, com a respiração suave, com o corpo mais leve, com a vontade de viver, independentemente, do lugar que eu esteja.

Os outros dois homens apenas observam a minha reação enquanto a agulha é aplicada.

Essa sensação não dura mais que um minuto, logo uma fúria bate em meu peito e tenho vontade de matar esses homens na minha frente, quero me soltar para poder fugir desse lugar. Começo me contorcer e vejo pela parede espelhada meu próprio rosto, está horrível. Como se eu tivesse passado noites e mais noites sem dormir, meus dentes rangem e as sobrancelhas me deixam com um semblante ainda pior pelo modo que elas estão.

Algo vem em meu pensamento, meus pais. Uma tristeza vem até mim, como se estivesse possuindo meu corpo. As lágrimas começam a nascer e não demora muito até eu começar soluçar.

É uma pancada dos mais diversos sentimentos que batem em mim. Não há muita coisa que me diferencie do ser humano comum, aliás, por mais diversos que sejam os conselhos, a grande maioria não confia em si mesmo, assim como eu. Mas, o que mais me preocupa, é o modo como estou agindo, com medo de qual será a próxima sensação, com medo do que eles farão comigo depois dessas estranhas reações.

Apenas espero a próxima sensação vir, mas ela não aparece, e ficamos nós quatro ali, parados. No minuto seguinte, quando eles possuem a certeza de que nada mais vai acontecer, se retiram. E nada acontece.

ENVIADOS - BATALHA PELA LIBERDADEOnde histórias criam vida. Descubra agora