CAPÍTULO 06 - SOPHIA

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Nunca gostei de não saber meu sobrenome. Sophia. Isso é praticamente um ranger de um cachorro. Durante anos eu tenho tentado encontrar um segundo nome que fique legal para mim, o que nunca foi fácil já que não tenho muitos conhecimentos de tais coisas.

Não me lembro do lugar em que vivi antes daqui. Eu queria ter um passado, um sentido nessa vida. Acredite, é completamente aterrorizante viver em um lugar que você não conhece. É claro que sei onde estou, um laboratório, ok. Mas meus conhecimentos não partem disso. Não sei se quer quem me trouxe até aqui. Não faço a mínima ideia do porque de eu estar aqui

O fato de eu ser arrogante é por saber que eles precisam de mim para algo. Não fariam nada além de me dopar. Ao contrário de mim, que não preciso deles. Para falar a verdade eu até que preciso. Tecnicamente, preciso que me deem comida, água e etc., mas eles me querem viva para algo que não tenho ideia, então não preciso ser legal para me darem tais coisas.

Esses pensamentos acabam me dando náuseas. Como sei que está de noite por causa da luz apagada em cima de mim, fecho meus olhos para tentar dormir. Algo que não vai ser fácil essa noite.

*

Sonho que estou em um lugar completamente vasto, há apenas o gramado verde que possui um cheiro que não me lembro de ter sentido na vida. Estou vestindo um macacão de moletom que cobre todo o meu corpo. Levanto minha cabeça e fecho os meus olhos, fico apenas sentindo o cheiro da natureza, com o vento balançando meus cachos morenos. A canção o qual gosto aparece em minha mente e começo a canta-la em voz alta, como se eu precisasse que o mundo me ouvisse.

Quando o dia chegar,

Depois que você acordar,

Estarei te esperando,

Para mais um dia ao seu lado.

Depois desse primeiro verso eu abaixo minha cabeça e me ajoelho na grama, indisposta para continuar, com uma tristeza sem sentido em meu peito. A primeira lágrima escorre sob meu rosto rosando minha bochecha e eu a sinto caindo na minha mão esquerda que está apoiada na grama.

*

Acordo com um susto, há alguém abrindo a maçaneta do meu quarto. Quem estaria entrando no meio da madrugada aqui? Isso não é um bom sinal.

Meu peito começa bater mais forte e eu me contraio na cama, fico sentada com os braços segurando os joelhos tentando me proteger do medo, do que quer que esteja atrás daquela porta. Minha mente começa projetar imagens horríveis de coisas que já vi em sonhos.

Ouço o barulho da porta se abrindo, mas não há luz o suficiente do lado de fora do quarto para eu poder ver o formato do ser. Consigo ouvir a porta se fechando atrás da pessoa.

O medo aumenta ainda mais.

Por um minuto o silêncio toma conta do quarto e fico apenas esperando. Talvez eu estivesse errada quando pensei que eles precisassem de mim. Talvez eles desistiram de mim e podem arrumar qualquer outra pessoa para me substituir. São as piores possibilidades que passam pela minha mente.

No meio a escuridão consigo ouvir um respiração ofegante. Ouço o zíper de uma jaqueta se abrindo e algo se engatilhando. Um revólver.

- Não – digo, o mais baixo que consigo. O tremor em mim continua com mais intensidade. Algumas lágrimas começam se formar e eu tento segura-las mas não consigo, outras começam acompanha-las e logo estou soluçando. – Por favor. – completo.

Fecho meus olhos já esperando a morte que me espera e fico apenas aguardando a bala.

- Não diga nada – a voz diz. É um homem. Sua voz é baixa e grossa, porém compreensível. – levante-se – e eu o obedeço, tentando não fazer barulho.

O medo começa se esvair em mim. O som de sua voz me trouxe certa confiança.

- Quando eu abrir aquela porta – ele começa, falando o mais baixo que consegue – você vai segurar a minha mão. – uma pausa – E não solta-la – estou quase respondendo quando ele completa: - por nada.

- O que você... – começo dizendo, mas ele logo me corta.

- Shhhh. Qual parte de "ficar em silêncio" você não entendeu?

- Está bem – digo baixo.

Ele dá outros passos em minha direção e estendo meu braço para segura-lo. Assim que ele o encontra, segura meu cotovelo e arrasta sua mão até a minha e entrelaçamos os dedos. Ouço sua respiração ofegante e com a outra mão consigo ouvi-lo guardando o revólver no bolso, o que me faz ter mais confiança nele.

Seus dedos apertam os meus e ele me guia até a porta. Ouço sua mão entrando em contato com a maçaneta e meu coração começa pulsar mais forte.

Assim que a porta se abre ele leva minha mão até o seu peito e consigo sentir seu coração pulando. Faço o mesmo com ele, levando até o meu. Sinto que o que me foi destinado a mim está prestes a ser cumprido. Por mais que eu não saiba o que vamos fazer sei que vai mudar muita coisa.

O primeiro passo fora do quarto é dado.

Meu peito começa bater mais forte. Sinto uma gota de suor escorrendo em minha testa.

Ouço o homem suspirar com tensão. Ele apertamais uma última vez meus dedos. E sou guiada a um lugar que desconheço.

ENVIADOS - BATALHA PELA LIBERDADEOnde histórias criam vida. Descubra agora