O Espectro

Explicações

Eu me recuso a voltar para aquele quarto então apenas volto para a cozinha, vou botar em prática meu plano de falar com os empregados, sigo pelos corredores e a semelhança com o castelo de Winstron era demais para negar, mas não tinha como ser o mesmo lugar, o castelo que visitei era um museu cheio de coisas expostas com descrições ao lado e sempre limpo e lotado, esse castelo que me encontro agora parece uma versão antiga e suja, e pelas janelas não se vê nada a não ser um terreno vazio sem fim, claramente fui trago para outro lugar, não tem como ser o mesmo castelo, talvez seja uma replica exata, de repente paro em um dos corredores e vejo um quadro que não tinha visto antes, era uma pintura de uma família, uma família real até porque estavam todos muito bem arrumados e dois deles com coroas bem perceptíveis, eram um pai, uma mãe e dois filhos pequenos, mas as duas crianças tinham os rostos completamente rasgados, não dava nem para identificar, o que será que isso significa? Segui até a cozinha e lá encontrei Hilda e Chester e umas 3 empregadas lavando louça

Chester: olha só quem veio me ver na cozinha

Hilda: Benjamin o que achou da comida?

Benji: terrível, sinto muito, mas o café não estava bom como o jantar noite passada

Hilda: sinto muito, isso acontece sempre, a comida só fica boa em raros momentos

Benji: deveria desistir da sua carreira de cozinheira então

Hilda: nossa, você é mais rude do que pensei

Benji: talvez seja uma consequência de eu estar preso contra minha vontade aqui, vamos lá desembrucha, como eu saio

Chester: não precisa ser grosso, venha eu te explico tudo

Benji: acho bom

Acompanho chester para fora da cozinha deixando Hilda para trás com uma expressão desconfortável, eu que não vou sentir pena dela

Chester: estamos no castelo de Winstron

Benji: quer dizer a cópia dele não é mesmo? O verdadeiro castelo de Winstron fica no centro da cidade e seja lá aonde isso for, não é o centro

Chester: esse é o verdadeiro castelo, só que no outro lado...

Benji: outro lado?

Chester: não quero te assustar, mas...

Benji: mas...

Chester se aproxima do meu ouvido de sussurra

Chester: no lado dos mortos

Que porcaria é essa?

Benji: me poupe

Chester: não estou brincando, e sério, durante a lua de sangue todo esse lugar fica vermelho e uma luz forte sai através daquele quartinho velho para o mundo, o lugar vira um portal para o mundo dos vivos, foi assim que ele te encontrou e te trouxe pra cá

Benji: então eu morri?

Isso não pode ser verdade, meu Deus a minha mãe, eu morri, será que todo mundo sabe que eu morri o que eu vou fazer?

Chester: calma, você não morreu, é o único vivo por aqui

Benji: então você...?

Chester: pois é, a muitos anos houve um incêndio no castelo de Winstron

Benji: eu estudei isso na escola, uns 300 funcionários morreram e também...

Chester: o príncipe herdeiro do trono

Benji: o seu mestre é ele?

Chester: príncipe Edward III, era para ele virar rei um dia, mas morreu no mesmo incêndio que eu e todos aqui

Benji: eu sinto muito, esse incêndio foi em 1871

Chester: não temos muita noção de tempo por aqui, poderia me dizer que ano é lá fora? No mundo dos vivos?

Benji: 2023...

Chester: eu estou aqui a bastante tempo né

Tadinho, o chester está preso aqui a anos e nem tem noção do tempo direito, eu não acredito que tudo isso é real, não pode ser

Benji: 152 anos eu acho, é muito tempo, isso não pode ser verdade, como isso é possível

Chester: quando morremos nós acordamos aqui, é uma versão do castelo em que morávamos, mas escuro e meio acabado

Benji: notei...

Chester: todos nos reunimos na sala principal e um ser de luz apareceu voando bem acima de onde estamos agora, eu acho que era um anjo, ela brilhava muito e suas asas eram enormes

Benji: um anjo? Isso aqui não parece o céu

Chester: ela apontou para o príncipe e a máscara surgiu nele, ela disse que só ganharíamos liberdade quando ele aprendesse com seu erro e nunca mais depois daquele dia ele conseguiu tirar a máscara...

Benji: qual o erro dele?

Chester: não tenho ideia, mas temos que obedecer cegamente suas regras, afinal dependemos dele para sair desse lugar que a anjo definiu como nosso limbo, nunca mais a vimos depois daquele primeiro dia

Benji: que história maluca, não faz sentido nenhum

Chester: eu sei, ninguém acredita quando eu conto

Benji: como assim?

Chester: você não é o primeiro que o príncipe trás, a cada lua de sangue que teve depois da nossa morte ele trouxe alguém, mas você é o primeiro menino

Benji: então antes só vieram mulheres? E aonde estão elas?

Chester: foram embora, ele as deixou ir

Benji: sério? Isso significa que também vou poder ir? Quanto tempo demorou?

Chester: umas passaram apenas uns 3 dias e outras ficaram um mês quase, nada mais que isso

Benji: isso é muito tempo, eu tenho que voltar pra casa, minha mãe vai ficar preocupada, ela não pode me perder e eu tenho que ir pra escola

Chester: eu sinto muito, eu deixaria você ir se pudesse, todos aqui deixariam, mas preciso que você fique, é o que o mestre quer e só ele pode me dar liberdade

Benji: isso não é justo

Chester: eu sei, acha que eu gosto de ficar preso aqui? Não dá nem pra sair pro lado de fora, as portas são trancadas e impossíveis de abrir, só podemos olhar pela janela, se bem que não tem nada lá fora mesmo

Benji: sinto muito

Chester: pelo menos você pode sair daqui um dia, seja paciente e verá que tudo se resolverá

De repente um som fino sai de dentro do paletó do Chester e ele puxa um relógio de bolso velho

Chester: veja só, perdemos noção do tempo, é hora do almoço