"Se não acabarmos com a guerra, a guerra acabará conosco".
- H.G Wells
A MORTE TEVE PIEDADE DE VOCÊ GUERREIRA. Mais três centímetros para o lado e teria se juntado aos corpos dos nossos inimigos. As palavras da enfermeira ecoam na minha mente.
Observo ela mascar as ervas curativas no pilão.
— O rei mandou uma carruagem. — Ela tenta me consolar com essas palavras, mas provoca o efeito oposto.
Encaro minhas mãos sujas de sangue e terra.
— Quem venceu a batalha? — Falo pela primeira vez desde que acordei.
A enfermeira me encara; olhos opacos e nublados se entreolham, se reconhecem. Outra alma tão mutilada quanto a minha.
— O nosso rei, guerreira.
Estamos em uma guerra sanguinária com os Austríacos há décadas. As dezenas de conflitos travados levaram o nosso país ao limite, o povo anda faminto pelas ruas. Enquanto isso, o rei e a nobreza se deliciam com os vinhos mais refinados e exibem suas vestes constituídas de ouro e prata.
A enfermeira aplica as ervas mascadas no meu ferimento.
Essa não é a primeira vez que a morte me nega como se eu fosse uma bastarda, as cicatrizes espalhadas pelo meu corpo são uma prova disso.
Há rumores silenciosos percorrendo o reino: a guerreira do rei foi amaldiçoada por uma bruxa e condenada a viver até que a guerra chegasse ao fim.
Estúpidos. Penso.
Só conheci uma bruxa e seu poder se limitava a acelerar o crescimento de plantas.
Entro na banheira de madeira, a água é tingida de marrom assim que entro. A lama que usei para me esconder dos inimigos recobria minha pele.
Enquanto me limpo as memórias da guerra vêm à tona.
Os homens que matei e seus gritos antes de serem levados para morte em contraste com o cheiro da carnificina e som barulho das bombas, isso me leva ao limite.
— Guerreira, a carruagem chegou. — A enfermeira bate na porta.
Visto a armadura forjada de ferro, refaço a trança no cabelo úmido, e por fim reergo a muralha ao redor do meu coração e mente.
Quando retorno, finalmente vislumbro o medo nos olhos da enfermeira. A parte escura dentro de mim se delicia com a reação.
— Abra a porta. — Ordeno.
Ela hesita, tentando se acostumar com a mudança brusca do meu comportamento.
O ar está esfumaçado pelas cinzas dos corpos inimigos.
O rei havia mandado a melhor carruagem para aquele lugar devastado, a criança faminta dentro de mim se encontro de repulsa e vergonha.
— Por que você demorou tanto? O rei não gostou da notícia de sua melhor guerreira estar ferida. — O informante do rei sorri perversamente. — Ele preparou um presentinho para você.
Aperto os dedos em um punho e a palavra seguinte desliza da minha língua antes que eu possa me conter: bastardos.
— Você ousa difamar seu rei? — O guarda brada, mas podia ver seus olhos cintilarem.
— Ela está confusa por conta das ervas que tomou, é um dos efeitos trocar as palavras e falar baboseiras, meu senhor. — A garota mente. — Coloquei em uma agenda todos os medicamentos que ela precisa tomar.
Ela me entrega um caderno de couro.
O informante nota a mulher que cuidou de mim, seus olhos se demoram no corpo dela.
O guarda está trajado com a roupa branca do exército italiano, o tecido está manchado de sangue. Não tenho dúvidas que fez isso para ostentar orgulhosamente as vidas que havia ceifado.
— Vamos. — Ordeno, inquieta.
Assim que a carruagem começa a se mover dou um último olhar para a enfermeira.
Meu espírito sabia que havia encontrado uma aliada, os nossos olhos carregam uma rebelião escondida nos confins da nossa alma, mas tão ardente quando o fogo que arruína os corpos inimigos.
O gosto de esperança inunda meus ossos, meu corpo ganha uma centelha de vida.
Eu seria o fim do rei tirânico, assim como ele foi o meu.
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O Rei Tirânico
RomanceEla caiu nas garras do Rei Tirânico, sua única chance de sobrevivência foi se tornar uma máquina assassina que irá trazer glória ao país. Há um príncipe com um sorriso malicioso que aquece o coração da guerreira do rei. No entanto, o príncipe semp...