I| Guerra e sangue

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"Ó doçura da vida: agonizar a toda a hora, sob a pena da morte, 

em vez de morrer de um só golpe". 

— Willian Shakespeare. 

UMA FLECHA PERFURA MEU PEITO

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UMA FLECHA PERFURA MEU PEITO.

 O sol está em seu ápice no céu, quase fritando a carne exposta das centenas de mortos ao redor.

Quando meus joelhos colidem contra a terra seca e o sangue desliza pela minha boca, sinto a morte se aproximando. 

Estive esperando você por um longo tempo, minha menina. Ela diz.

Conforme a escuridão me cegava, as memórias de um passado enterrado ressurgiam ao alvorecer.  

Dez anos, essa foi a idade precoce que matei para primeira vez; depois disso as vidas que ceifei se tornaram como grãos de areis no deserto: incontáveis. 

Em meados do século XIX um rei tirânico forjado de sangue e guerra governava a Itália. Nessa época, eu vagava faminta pelas ruas imundas de Veneza, estava disposta a comer até os ratos que se esgueiravam nos esgotos. 

Foi por isso que entrei em uma rua escuro e sem saída, então ouvi os gritos; gritos inundados com o mais cru desespero. 

Puxei uma pequena faca da minha roupa surrada e cravei no pescoço do homem que estava entre as pernas de uma mulher. 

Me lembro da sensação de poder que inflou meu corpo, mas me lembro ainda mais da insensibilidade que se infiltrou no meu coração, o devorando. 

Naquela época, eu mal sabia que o homem atirado no chão era um dos soldados do rei e que sua morte seria o início da minha. 

Uma vez, uma bruxa me contou sobre o destino: ele é como um cachorro raivoso tentando abocanhar meus cotovelos.

Não há escapatória, nem a magia mais antiga no mundo pode fugir dele. Então, com o tempo passei a aceitar tudo que ele me dava.

Aceitei ser feita de marionete, aceitei matar, aceitei a perca da minha alma e por fim aceitei a minha morte.

Sinto os dedos frios da morte acariciando meu rosto, sinto o destino me negando a ela mais uma vez. 

Ainda não.  Sussurra. 


O Rei TirânicoOnde histórias criam vida. Descubra agora