Capítulo 28

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Um dia nesta casa parecia uma eternidade, ainda mais quando não se tem alguém para conversar, por isso me encontrava no jardim conversando com as diversas flores.

— Vocês são as únicas coisas bonitas que tem nesta casa. — Disse baixinho, mesmo sabendo que ninguém iria me ouvir.

— Querida, meus olhos clínicos discordam de você. — Senti meu coração parando pelo susto que Cristine me deu.

— Senhora Cristine, não faça isso! — Coloquei a mão sob o peito, ainda sentindo o coração bater loucamente. Cristine deu um sorriso mínimo.

— Desculpe, não era essa a intenção. Posso? — Perguntou, apontando para o banquinho que estava sentada, logo se sentando quando assenti. — Quis dizer que antes das flores, você é a "coisa" mais linda dessa casa. — Disse, usando minha palavra informal. Olhei rapidamente para o seu rosto, mas não encontrei vestígios de mentira, então encarei o chão constrangida.

— Não sei nem como agradecer um elogio desses, senhora. — Me permitir sorrir.

— Sua beleza não é comum, é uma beleza exótica difícil de se acostumar. — Sorri em agradecimento, pois estava envergonhada demais, nunca havia recebido um elogio tão profundo assim, eu mal sabia dizer se conseguia ver toda essa beleza em mim mesma. — Eu até arriscaria lhe convidar para modelar, mas sei que não largaria sua vida na arte por nada. — Assenti com convicção.

— Eu sou completamente apaixonada pela arte, senhora. — Dispensei voltando a olhar para seu rosto, logo percebendo sua testa se enrugar. — Disse algo errado? — Me preocupei.

— Sim! — Respondeu indignada. — Pela décima quarta vez, não me chame de senhora, afinal pareço com uma senhora? — Bati a mão na cabeça pelo vacilo.

— Eu me esqueci completamente. — Acompanhei sua risada.

— Então... — Começou. Sabia que ela queria falar sobre algo. — Como foi a conversa com Robert ontem? — Suspirei enquanto fitava as flores com dificuldade pela clareza do sol de meio-dia.

— Difícil como sempre, mas desta vez quem vacilou fui eu. Deveria ter ligado para ele e ter dito que iria ao shopping, mas por segundos de coragem decidi que não. — Abaixei meu olhar para meus dedos que dançavam entre si.

— Você continua agarrada a sua antiga liberdade, Pilar. — Sim, Cristine estava totalmente certa. — Conquistou sua independência muito cedo e agora se vê sendo impedida de ir ao shopping com uma amiga. — Terminou. Parecia entender bem o que estava passando.

— E agora perdi a confiança de Robert. — Lamentei.

— Querida, não fique triste com isso, ainda há tempo para conquistar a confiança dele novamente. Vocês ainda são estranhos. O Conselho que eu lhe dou é tentar conhecer ele, ser paciente e se puder relevar algumas coisas vindo dele... Robert continua em processo de aceitação e por ter tantas coisas para se acostumar acaba falhando com você. Eu acredito fielmente que ele irá melhorar nem que seja 1%. — Seu tom era esperançoso, mas não conseguia me transmitir esperança.

— Mesmo discordando com você, irei seguir os seus conselhos. Não dá para viver uma guerra todos os dias. — Ela assentiu pegando em minhas mãos. Toda essa intimidade me deixava desconfiada e tímida, mas não conseguia sentir mentira em seus atos.

— Tudo vai melhorar, mas é preciso apenas paciência para isso. — Assenti devolvendo o aperto de suas mãos. — Sabe, eu não quero de forma alguma que isso soe como uma obrigação, apenas como um conselho. — Percebi seu corpo ficar tenso mesmo sua voz estando mansa. — Penso que conseguiria ter mais controle sobre Robert... — Pausou observando a minha reação. Controlar Robert? Isso seria maravilhoso se possível.

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