08. Fim do começo

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Cassidy continuou com seu típico jeito animador, como se não escondesse um segredo grande. Eu me senti meio culpado por ter me intrometido daquela forma, mas, pois bem: eu tinha quase certeza de que ele, ou ela, havia se intrometido em coisas minhas também. O horário de aulas passou normalmente, sem nada fora do normal, além da grande dor de cabeça que era ouvir pessoas falando sobre o evento noturno de hoje a noite.

Na realidade, tudo em minha volta aconteceu da maneira mais monótona possível. Não que eu esteja reclamando ou nada do tipo, mas eu esperava que ele, ou ela, soubesse que agora eu sabia de seu segredinho, afinal, Cassidy era bem mais esperto que parecia.

Deitado agora em minha cama eu passei a refletir sobre tudo. Era um momento só meu e que eu finalmente poderia colocar meus pensamentos em ordem e que eu também aproveitaria para descansar por algumas horas. Tentei ignorar alguns corvos do lado de fora da janela e fechei os olhos, coloquei-me a pensar.

Se me contassem anos atrás que eu estaria buscando por minha irmã gêmea desaparecida a mais de dez meses, que aparentemente sumiu sem deixar rastros, eu iria rir da sua cara. Sempre fomos muito próximos e parecidos, mesmo sendo completamente opostos em diversas coisas, tanto gostos como em personalidade... E principalmente na aparência. A ausência dela aqui me deixa mal, me sinto mais debilitado. Como se um tipo de bateria invisível se descarregasse longe dela. Me pergunto também se essa foi a causa do feitiço prático junto de Cassidy ter dado errado além de uma movimentação externa.

Elizabeth é forte. Não acho que tenha sido assassinada. Na verdade, tenho certeza que aconteceu algo maior. É estranho pensar que ela sumiu, de uma hora para outra. Desaparecida logo depois de nossa casa ser invadida e meu pai ser capturado, seria tolice pensar que é uma mera coincidência.

Os Aftons, minha família e meu legado, existem a mais tempo que se possa pensar. Apesar de exceções, todos são feiticeiros e feiticeiras formidáveis, que exalam um ar de superioridade acima de todo o resto. Meu pai e genitor, William, foi um pai muito presente em nossas vidas — e quando digo "nossas vidas" me refiro à mim e meus irmãos. Um ótimo lutador, fato. Um perfeito feiticeiro, fato. Um pai comum? Absolutamente não. Ele era autêntico. Possuía uma grande reserva de magia.

Meu irmão mais velho, Michael, é quase idêntico a ele. Michael é forte, talvez até mais que William... só não diga a ele que eu disse isso.

E sem nem me dar conta, estou revivendo o dia em que nossas vidas se tornaram um inferno.





[...]





10 de fevereiro; dez meses atrás.

A nobre casa dos Afton é requintada, velha e remota. Mas dava continuidade a um legado de mais séculos que se possa contar. Já faz tanto tempo que ele não vê o lugar, e ele nem mesmo consegue descrever por si próprio como era; apenas vislumbres e flashes de memória sondavam sua mente, enquanto ela trabalhava para vivenciar o pior dia de sua vida.

Nas paredes, tingimento em vinho e preto, contornados por prata e outras relíquias. O piso em madeira escura e fosca, ainda forte e duradouro apesar do tempo. O teto era alto, a sala de estar tinha um grande candelabro com velas de chamas vermelhas e bem tingidas. Janelas de vitrais de traços marcantes, os arcos de volta perfeitamente arredondados e simétricos, abóbadas de arestas de estruturas maciças e com poucos vãos, decoradas combinando com o ar mórbido — mas ao mesmo tempo elegante — da grande mansão Afton.

𝓣𝓱𝓮 𝓜𝓮𝓮𝓽𝓲𝓷𝓰  ᵃᶠᵗᵒⁿ ᶠᵃᵐᶦˡʸOnde histórias criam vida. Descubra agora