Minha primeira quase morte.

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    Eu estava tentando entender como o fato de que mesmo aquele corredor estando lotado e amarrotado de alunos, a única pessoa a receber olhares, era eu.
    Gabriel havia falado que aquilo era a coisa mais normal do mundo por sermos novatos e um rosto novo naquele lugar. Mas eu não imaginava que aquilo estava indo exatamente ao pé da letra. Porque literalmente olhavam até para os meus pés.
   Na verdade eu sabia que o fato de eu estar com lama, terra, folhas no cabelo e com uma enorme mancha de café no meu uniforme era mais que o suficiente para atrair olhares a centenas de kms.
   Abaixei a cabeça conforme cada passo meu me levava para mais perto e dentro daquele mar de estudantes, quanto mais eu andava, mais o corredor ficava estreito e apertado de alunos entrando e saindo de salas, subindo e saindo de escadarias que davam a àquele corredor. Pelas minhas contas de andares que subi, eu estava no terceiro. E não era difícil de deduzir isso se olhasse para as janelas que estavam nas paredes que ficavam de frente para as salas, as janelas não eram muito grandes e nem muito largas, havia no mínimo um metro de espaço entre cada uma. Elas se estendiam até o fim do corredor, que também era tão largo quanto as escadarias.
   As cores verde e branco estavam presentes ali, tendo o verde até os primeiros 1,20 das paredes e depois uma substituição da cor branca, pelo visto eu havia descoberto da onde havia vindo a referência das cores dos uniformes.
   Olhei para baixo, para cada uma das janelas conforme eu andava. Pude ver o pátio principal lá embaixo, assim como o outro lado da escola que estava de frente para mim. Dava para ver as janelas e paredes do outro lado da construção, e estavam perfeitamente alinhadas para as janelas do corredor em que eu estava. Era como olhar para um espelho ao olhar para a janela e ver o outro lado da escola, as torres e medidas eram iguais.
   Os tijolos negros e pedras junto aos pilares do lado de fora ainda me faziam questionar o lado de dentro, era como se o lado de fora fosse uma obra da era vitoriana até o primeiro andar e dali para cima fosse o inteirior de qualquer escola normal e habitável para um adolescente, apenas o fato de ter um lustre no teto das escadarias que era estranho, mas tirando isso, todo o resto era o de uma escola normal. Menos os alunos ao meu ponto de vista.
   E pelo visto a pintura e tinta de cabelo estava na moda, pois eu havia perdido a conta de quantas cores eu havia visto em cada cabelo que passava do meu lado. Verdes, roxos, azuis, violetas, vermelhos, amarelos, laranjas, brancos e cinzas. Tudo bem eu tinha cabelos cinzentos. Não eram totalmente cinzas, mas era como se o preto estivesse desbotado dos fios, o que me fazia parecer levemente uma velha de 16 anos.
   Mas isso não se comparava às coisas que eu estava vendo ali. Poderia jurar por Deus que havia visto uma garota com os cabelos divididos entre as cores vermelho e azul.  Além de outros alunos com tons de magenta, ciano, aquele verde de marca texto e—

   Rosa...

   Parei os passos quando a vi. Parada no fim do corredor totalmente imóvel enquanto me olhava diretamente nos olhos. Era uma garota alta e tinha os cabelos em um tom de rosa que me lembrava os chicletes que eu encontrava grudados embaixo das mesas da minha antiga escola. Seu rosto era uma mistura de beleza e desespero ao mesmo tempo. Porque eu estava desesperada e qualquer um em meu lugar também ficaria ao ser olhado por ela daquele modo. Era como se o desespero, surpresa, ódio e angústia estivessem atrás daqueles olhos. Olhos que também eram rosas... tão rosas que pareciam de vidro, pareciam reais. Os cabelos pareciam vividos e aquele olhar de ceifador... me lembrava exatamente a sensação que tive quando senti que algo me olhava entre as folhas da árvore, quando pude jurar que algo estava me observando, e agora... Com aqueles olhos rosados me encarando.
   Virei a cabeça apenas alguns centímetros para o lado para olhar uma aluna passar, a saia do uniforme verde espinafre, a camiseta branca e a gravata negra presa no pescoço. Sua estatura era normal assim como o jeito também, mas o que me prendia o olhar eram os cabelos verde claro que me lembravam a grama, e eram tão realistas que até os mínimos fios iam para o lado com o vento que entrava pela janela.
   Olhei para ela como se estivesse olhando algo em câmera lenta, o modo como era calma e tranquila, passando pelo corredor com a bolsa pendurada em um dos ombros e um mínimo sorriso confortável nos lábios.
   Não sabia por que... mas a ver passar, fazia com que eu olhasse ao meu redor, para os outros alunos. Para seus olhos, suas roupas e seus modos. Para as fantasias, para o modo como me olhavam. Para tudo, e para o fim do corredor onde cemisserrei os olhos ao ver que a garota que me encarava como um ceifador, havia desaparecido, sumido como se não estivesse estado ali a menos de um minuto.
   E eu senti que minha respiração também iria desaparecer quando lhe prendi sem mesmo perceber. Senti que meu coração havia dado uma batida mais forte e que aquela seria a última.
   Lentamente as engrenagens de minha cabeça começaram a girar, a analisar. Gabriel havia dito que tínhamos que sair daquele lugar quando agarrou meu pulso mais cedo, quando seus olhos pareciam assombrados e desesperados, isso até ele ouvir a palavra " festa à fantasia." Mas antes disso ele tentou dizer algo, tentou me avisar de alguma coisa que havia conseguido o afugentar, e eu não sabia o que era.
   Dei um passo para trás e olhei para o fim do corredor.

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