Um escritor que nada sabe

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Não sei quem sou e nem de onde venho.
Eu não sei conjugar os verbos,
não conheço os pronomes e as vezes esqueço-me dos nomes.
Não sei ler nem escrever.
Tudo ajeito, tudo aceito.
Leio mal e quase sempre gaguejo.

Minha memória, de vez em quando, falha.
Rápido aprendo, mas também rápido esqueço.
Eu não sei diferenciar os textos,
por isso, pouco ou quase nada argumento.

O que são palavras? O que são textos?
Eu não sei, e nem me lembro.
Não reconheço o alfabeto grego.
Não reconheço o abecedário ou as vogais,
nem sei dizê-los.

Ultimamente pouco ou nada escrevo,
mas quando escrevo tremo.
Mas ainda mora em mim o desejo.
O desejo de ser eu mesmo, o desejo de saber.
Mas toda vez que aprendo pareço desaprender.

O que os outros fazem eu não faço
Não que não deseje, não consigo.
Não uso o mesmo caminho que eles.
Não gosto do que eles gostam.
Estou sempre em contra mão e vivo num paradoxo,
Desde miúdo.

Desde há muito, me tranco para aprender
há muito tento falar bem o português,
Só que até minha língua materna costumo não entender.
Logo, nada sei.

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