- O próprio.
☆
- E então, vai assinar a folha de ausência ou não? Não posso deixá-lo esperando a vida toda! - Agora era Lynn quem estava impaciente, ou talvez a arrogância fosse um mecanismo de defesa para o constrangimento. De qualquer forma, agora sabia que queria ser legal com todos, menos com ele.
- Me deixe quieto.
- Ele insiste, você deve imaginar...
- Nathaniel, né? Pois diga que ele pode esperar sentado, não vou assinar nada.
Lynn suspirou, o caminho do pátio ao Grêmio não era dos mais agradáveis, visto o número de alunos perambulando pela escola, incluindo ela.
O bololô durou mais do que imaginava, e cansou seus pés rápido demais. A garota deve ter ido e voltado umas três vezes, como se fosse um pombo correio - se era para parecer uma ave, que fosse pelo menos uma andorinha, ou uma bem foda, tipo gavião ou coruja das neves. Não suportava a ideia de ser um maldito pombo correio, mas seu senso de dever infelizmente gritava mais alto.
- Merda, você não tá' entendendo. Se eu assinar essa droga de folha estarei expulso da escola logo no começo do ano! - Castiel falou, e havia um pouco de desespero na voz, quase imperceptível, visto a raiva que ele tinha pelo loiro.
Lynn se sentiu, de repente, estranhamente satisfeita com isso. Percebeu algo nele que a maioria das pessoas não perceberia. Imaginou se era porque entendia isso, esse sentimento. Imaginou ter que olhar para os pais que trabalham o dia todo que fora expulso da escola. Não podia deixar isso acontecer, não podia simplesmente fechar os olhos.- Ok... Ok, não vou te obrigar a assinar. Estou indo devolver a folha ao Nathaniel.
- Sabia que você iria entender... Obrigado - E então ela se sentiu satisfeita de novo. Satisfeita pelo alívio dele, por mais que agora tivesse de aguentar algo pior: o desapontamento de um menino certinho.
☆
O restante da aula foi agitado - mais ainda que a correria para assinar a folha - e ao chegar em casa Lynn primeiro trocou de roupa. Enquanto comia, lembrava-se de ter escolhido o clube de basquete e pedido ajuda a Castiel para encontrar, por mais que já soubesse mais ou menos de vista. Ele parecia mais tranquilo agora, e até mais sorridente.
Ok! Nota mental:
1- Castiel não gosta de Nathaniel.
2- (Aparentemente) Castiel não tem nada a ver com Judy.
3- Violette é a melhor pessoa que conheceu hoje.
O segundo tópico ainda a preocupava um pouco, já que ainda não tinha falado com Judy desde que chegou. E imaginava como diabos iria fazer isso se Castiel estivesse falando a verdade e aquele não fosse o número dela.
Já sentia saudades. Lynn sempre fora acostumada a passar o dia inteiro em casa sozinha, e agora seria realmente sozinha, pois Judy não poderia a visitar mais diariamente como costumava fazer. Não teria mais festas do pijama, brigadeiros na TPM, filmes de comédia ruim ou fazer receitar duvidosas que viram na internet. E lembrar disso a deixava triste instantaneamente.O dia passou assim. Calado, silencioso. Até serem 23h e decidir que devia ligar para o ruivo novamente.
A decisão veio súbita, acompanhada de um pensamento estranho e uma vontade inefável de saber um pouco mais sobre ele.
Desta vez ela não estava com um decote inapropriado, mas estava igualmente meio grogue de remédio. Lynn tomava tomava remédios todos os dias. Mas não era nada grave, só insônia. E nenhum remédio era forte agora que ela estava habituada, costumava ter muitos pesadelos e medo de escuro quando criança. Quem nunca?
Assim como menos de um dia antes, precisou tocar duas vezes para que ele atendesse. A câmera carregou e ele apoiou o celular em algo, fazendo com que ela pudesse ver de suas coxas para cima. Ele estava sentado na cama.- Atendeu sem querer de novo? - Ela falava lentamente, e sorriu por isso.
- Meu dedo escorregou pro lado errado - Ele disse, e deu um meio sorriso também. Sabia ser irônico.
- O que deu com a folha? - Castiel mexia em algumas cordinhas prateadas, então parou e pensou um pouco antes de falar.
- Assinei do mesmo jeito. Mas prometeram que não iriam me expulsar nem contar pros meus pais se eu me comportasse melhor e fosse às aulas.
Lynn soltou o ar que nem sabia que estava segurando. Era aquilo que a vinha preocupando a tarde inteira.
Um silêncio se seguiu. Ela observava ele mexer naquelas cordas e imaginava para que seriam, até ele puxar uma guitarra elétrica vermelha e branca, totalmente bem cuidada e limpa de trás dele mesmo. A surpreendeu de uma maneira boa. Castiel trocava as cordas com tal maestria e zelo que encantava qualquer um que olhasse - se não soubesse o jeito arrogante e carrancudo que ele levava, claro. Ele usava novamente uma regata, dessa vez tão vermelha quanto seus cabelos, e tinha uma logo de banda estampado.- Guitarra legal - Ela rompeu o silêncio, sem querer também rompendo a concentração dele - Você treina?
Lynn arregalou os olhos de supetão, escondeu a câmera no travesseiro por um momento, respirou e então voltou a aparecer na tela. Ele estava sorrindo.
- Está falando da guitarra ou do meu corpo? - Aquele maldito parecia satisfeito com o constrangimento dela, por mais que os remédios ajudassem um pouco a não ter um derrame ali mesmo. Como não houve resposta, ele voltou a falar - Que feio, eu poderia te denunciar por isso. Assédio sexual.
- Engraçado, não te denunciei quando falou dos meus peitos.
- Que peitos? - Ele riu. Não podia reclamar muito, ele mesmo tinha quase mais peito que ela, mesmo não tendo visto por baixo da camisa. Porra! Devia estar mais vermelha que um pimentão agora, mas era importante se manter posturada.
- Voltemos a falar da guitarra, por favor. Aliás, camiseta legal. Só não sei se você está merecendo elogios agora...
- Conhece Winged Skull?
- Claro, é uma banda de rock.
- Legal, não conheço muitas garotas que curtem rock - Ele sorriu enquanto falava, ainda olhando para a guitarra. Parecia o típico adolescente traficante de boca de esquina que tinha uma lábia absurdamente envolvente e era super gostoso. Lynn esperava que só a primeira parte fosse mentira.
- E qual o nome dela?
- Dela quem?
- Da guitarra!
- Debby.
- Está falando sério? Não pensei que tinha mesmo um nome - Ela sorriu.
- Tô só zoando. Não tem um nome - Ele sorriu de volta, meio de lado, e de repente ela se sentiu quente, e não gostou nada disso.
- Como não? Precisa colocar um nome se gosta mesmo dela.
- Nem tudo o que gostamos precisa ser nomeado. Acabamos nos apegando mais - Castiel segurou a guitarra no colo e mandou uma nota, ainda precisava afinar - É só uma guitarra, e no entanto, é a minha guitarra, e por isso eu amo ela.
A voz dele de repente ficou mais rouca, mais baixa e mais notável. E de repente Lynn se pegou olhando para ele, para seus olhos cinzas, seus braços fortes, sua boca entreaberta; tudo com a mesma concentração com que ele afinava a guitarra. Era um daqueles momentos em que estar vivo parece algo extraordinário, cada momento, como se fossem lembranças se passando em um filme. Mas isso não é um filme, está acontecendo agora e está acontecendo com ela. Isso faz-se extraordinário, de seu próprio modo, assim que ela toma consciência disso. De se sentir extraordinária. Essa foi a terceira vez que Lynn se sentiu assim na vida.
- Não te imaginava falando sobre amor.
- Tem muitas coisas sobre mim que você não imagina - Ele tocou uma nota de novo, agora estava perfeito - Enfim, vou tomar banho agora, tenho que desligar. A não ser que você não queira...
- Q-Quê?!
- Tô zoando. Até mais, tábua de passar roupa.
Não houve tempo de falar nada, ele riu e desligou a chamada. 26 minutos!
Nota: É pedir muito um Castiel na minha vida?
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Cass... Cassy - Castiel Amor Doce
FanfictionNo meio da madrugada ela liga para ele porque não consegue dormir, e acidentalmente ele atende.