Construindo expectativas

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Boa leitura ♥ 

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Assim como em todos os meus dias, minha manhã está seguindo perfeitamente seu curso. Já fiz toda minha rotina matinal e apenas aguardo o horário de sair.
Faz sete dias que meu pequeno Wook sofreu o acidente e hoje finalmente irei trazê-lo para casa. Meu companheiro está de alta desde ontem, porém era domingo e o doutor que o está acompanhando estaria de folga. Por esse motivo, ele decidiu adiar a alta em um dia para que ele pudesse ver pessoalmente em que condições meu pequeno sairia.

Mesmo ansioso em trazer Wook para casa, não questionei a atitude do médico, mas confesso que esses dias sem ele têm sido vazios e solitários. Na hora de dormir seu corpinho quente me faz falta, até mesmo as marquinhas molhadas que tanto evito pelo chão seriam bem vindas. Agora entendo um pouco como ele se sentiu durante minha viagem.

Apesar de ser silencioso e muito tranquilo, Wook tem seus "picos" de alegria algumas vezes no dia, que resultam em muita bagunça e um Park Jimin cansado. Foram esses momentos com ele que trouxeram cor ao meu mundo cinza, o amor que ele me dá trouxe de volta a alegria que eu a muito tinha esquecido como era sentir.

Eu me lembro exatamente do dia que o encontrei e decidi que ele faria parte da minha vida.

Eu voltava do hospital em que trabalhava antes de abrir minha clínica. Estava chovendo muito, então resolvi parar o carro e aguardar até a chuva amenizar um pouco. Segui até o estacionamento coberto de uma cafeteria e parei ali, a fim de esperar até que o tempo estivesse mais adequado para seguir meu caminho. Estava já há vários minutos parado, quando resolvi entrar no estabelecimento e tomar algo quente para passar o tempo. Eu saí do carro, porém, antes mesmo de me aproximar da entrada, escutei um choramingo ecoando no lugar e aquilo me assustou. Explorei a área com os olhos e avistei um único item que parecia não se encaixar ali: uma caixa de papelão lacrada com fita adesiva.

Decidido a descobrir de onde vinha aquele som, eu caminhei até a caixa e, quanto mais eu me aproximava, mais alto o chorinho ficava. O desespero me tomou quando tive a certeza que era dali que aquele tinido soava e me coloquei a abri-la, apressado. Meu coração bombeou com velocidade quando vi um pequeno ser ali, enrolado numa toalha velha, com os ossinhos à vista e olhar assustado. Eu não hesitei em pegar aquela caixa, deixá-la próxima a meu carro e correr para dentro da cafeteria, onde comprei uma leva de pãezinhos, uma garrafa d'água e ainda pedi à atendente que me desse um copo descartável pequeno.

Retornei com a mesma a agilidade em que fui e me sentei no chão, ao lado da caixa, ouvindo os chorinhos que a criaturinha indefesa ainda emitia. Com minha maior delicadeza, eu o tirei da caixa, aninhei em meus braços como se fosse um bebê e, no momento em que seus olhinhos frágeis encontraram os meus, eu soube que o amaria por toda minha vida. Eu o alimentei, hidratei e o levei para minha casa, decidido a dá-lo o carinho e cuidado que lhe negaram quando foi selado naquela caixa.

Desde então, Wook se tornou meu companheiro, melhor amigo, o único a estar ao meu lado em todos os momentos. Em breve fará quatro anos que o pequeno basenji vive comigo e eu acredito que nunca fui tão feliz como sou com ele. Todo aquele sentimento de vazio que eu tinha após minha família decidir se afastar de mim se foi desde que o pequeno entrou em minha vida. De fato minha orientação sexual não me impede de cuidar dele, diferente de como interfere em minha relação com meus pais, devido à sua intolerância.

Apesar do que passei, encontrei minha paz cuidando daquele pequenino e, em poucas horas, ele estará de novo em casa tornando-a cheia de alegria mais uma vez. Alegria essa que apenas meu pequeno de pelos castanho avermelhados é capaz de proporcionar.

Meu relógio de pulso marcava exatas 9h quando vi o doutor Jeon entrar em sua sala, já vestido em seu habitual jaleco verde claríssimo. Ele tinha uma face serena, apesar das pequenas gotas de suor que se acumulavam em suas têmporas.

Ao longo dessa semana em que Wook esteve internado, eu o visitei diariamente, permanecendo com ele durante todo o tempo permitido pela clínica, o que me rendeu muito tempo próximo ao médico, visto que boa parte do seu período aqui era dedicado a meu companheiro.

Acabei descobrindo mais sobre sua formação, sua idade, como foi para si morar sozinho, coisas comuns de quando conhecemos alguém. Também com essa recente proximidade, não consegui deixar de reparar em si. Seu porte físico torneado, seus traços firmes e encantadores, seus olhos profundos e escuros que remetem a um grande vazio, mas ao tempo são cheios de tudo. Seus lábios finos que, exatamente sob o centro do inferior, abrigam uma linda e chamativa pinta e acompanham um sorriso largo, que me lembra o de um coelho fofo. É impossível não reparar como tudo nele combina perfeitamente.

Essa aproximação me fez pensar que as sessões de fisioterapia domiciliar que meu basenji terá serão mais que bem vindas. A forma com que ele trata meu pequeno me faz querer tê-lo por perto, não que eu esteja apaixonado ou coisas do tipo, apenas acho que ele é uma companhia agradável e ficarei feliz em ter sua amizade.

Quanto às sessões serem domiciliares, o doutor sugeriu que fizéssemos os exercícios em meu apartamento. Como é o ambiente em que meu companheiro fica a maior parte de seu tempo, ele achou mais viável que comecemos a reeducação muscular de Wook em seu "habitat natural", inserindo-o aos poucos a outros ambientes.

Às 9h15 em ponto, exatamente o horário marcado, ouvi o médico chamar meu nome. Me levantei e caminhei para dentro de sua sala.

─ Bom dia, doutor Park, como vai? ─ Ele cumprimentou me estendendo a mão. ─ Ansioso para levar seu garotão para casa?

─ Bom dia, doutor Jeon ─ digo com certo deboche, apertando a mão estendida. ─ Ansiosíssimo e muito contente! Mas já disse para deixar de formalidades, pode me chamar apenas de Jimin. ─ Ele riu, timidamente encantador.

─ Ok, Jimin, desde que você me chame apenas de Jungkook! ─ Eu sorri de sua timidez e resolvi o provocar um pouco, afinal havíamos criado certa intimidade ao longo da semana.

─ Te chamo até de Kookie se você quiser! Você salvou meu pequeno, eu faço tudo o que você me pedir. ─ Nós gargalhamos juntos, mas notei uma faísca diferente na forma como ele me olhou. Talvez eu tenha sido um pouco atrevido demais e ele não tenha gostado, talvez eu deva ser um pouco menos casual.

─ Cuidado com o que oferece, Jimin, eu posso querer aproveitar... ─ Nós rimos juntos novamente, mas aquelas palavras tiveram efeito sobre mim. Um frio na barriga, uma curiosidade ao que poderia vir a ser seu desejo.

Nossos olhos se fixaram um no outro por alguns segundos e por pouco eu não me perdi naquela imensidão escura. Eu confesso que o doutor chama minha atenção com sua aparência e jeito de ser, mas até então não havia me sentido atraído por ele, apenas achava sua companhia confortável, porém eu não conseguia desviar meus olhos dos seus e certa tensão já começava a surgir no ambiente. Como que notando ela, Jungkook se levantou de sua cadeira, quebrando nosso contato visual.

─ Pois bem, vamos até o pequeno basenji? Ele também está ansioso em voltar para casa. ─ Disse, já dando pequenos passos em direção à saída.

─ Vamos, claro! Não vejo a hora de tirá-lo daqui, sem ofensas ─ me levantei e o segui, ainda desnorteado pelo clima que havia se instalado a pouco.

Jeon já caminhava com seus passos leves e descontraídos pelo corredor, então eu precisei me apressar um pouco para alcançá-lo, com meus passos duros ecoando pelo espaço. Durante o curto trajeto, o mais novo iniciou um assunto aleatório sobre um filme que havia assistido recentemente, desfazendo aquela atmosfera pesada.

Eu, Park Jimin, sinto que os próximos meses me trarão novos ares. Eu só não posso me deixar perder uma possível amizade confundindo gestos simples com sinais. Ainda não conheço Jeon Jungkook o suficiente, quero conhecê-lo mais e tê-lo por perto.

          ********************

Acho que não é novidade eu dizer que meu dia começou todo errado. Estou quase atrasado para sair e nem minha calça coloquei ainda, ou seja, mais um dia em que irei correndo para o trabalho sem café da manhã.

Era 8h57 quando parei na porta da clínica, ofegante devido à corrida que fui obrigado a dar para conseguir chegar no horário. Yoona, que já estava em seu posto, me cumprimentou e retribui sem nem mesmo parar para fazê-lo devidamente, pegando com pressa meu jaleco na parte de dentro do balcão, onde ela sempre o deixava para mim. Não queria correr o risco de me atrasar depois do esforço que foi para chegar até ali no horário.

Durante o curto caminho até minha sala, me vesti e, já no corredor, pude avistar o senhor Park sentado em uma cadeira ao lado da porta. Meu corpo ainda estava afetado pela recente corrida, então me limitei em apenas acenar com a cabeça para ele, sendo retribuído da mesma forma. Nesse tempo em que seu cãozinho está sob meus cuidados, pude conhecer um pouco da personalidade do mais velho e o quanto ele é cuidadoso e atencioso.

É nítido seu amor por Wook, toda sua dedicação e entrega chamou minha atenção para a pessoa que o moreno é. Não apenas por seu físico encantador, com seus olhos castanhos que fazem um esforço tremendo para se manterem abertos quando ele sorri, seu maxilar marcado que o deixa com ar imponente ou seus lábios fartos que por vezes me tiram o foco de toda e qualquer coisa que nãos sejam eles, mas também por sua personalidade tranqüila, seu jeito sério, porém divertido, que nos renderam horas de boas conversas e risadas.

Eu não posso dizer com certeza em que momento me senti atraído por Park Jimin, porém sei que devo me manter afastado. Nossa relação existe apenas por causa de seu pequeno basenji e apenas por ele. Eu não sei ao menos se em alguma outra ocasião eu teria sua atenção ou se sua orientação sexual me permite uma tentativa de ultrapassar esse limite médico/paciente. O que sei é que esse homem me cativou gradualmente com seus pequenos gestos e palavras sem nem ter essa intenção e, agora, eu preciso manter minha postura como bom profissional e não ceder a esse sentimento.

No momento em que o relógio marcou 9h15, eu chamei o mais velho, me levantando para cumprimentá-lo.

─ Bom dia, doutor Park, como vai? Ansioso para levar seu garotão para casa? ─ Fui formal, diferente do habitual nos últimos dias. Eu não poderia me permitir mais essa proximidade, seria perigoso para meus sentimentos.

─ Bom dia, doutor Jeon. ─ Notei que ele usou um tom debochado ao pronunciar meu nome e isso me deixou um pouco confuso, porém fui esclarecido logo. ─ Ansiosíssimo e muito contente! Mas já disse para deixar de formalidades, pode me chamar apenas de Jimin.

Me senti corar ao notá-lo tão confortável comigo e meu coração acelerou levemente suas batidas, porém eu precisava me manter calmo e camuflar o quanto ele me afetava.

─ Ok, Jimin, desde que você me chame apenas de Jungkook! ─ Ele sorriu largo, fazendo seus olhos quase sumirem e eu sentia aos poucos meu autocontrole se esvaindo.

─ Te chamo até de Kookie se você quiser! Você salvou meu pequeno, eu faço tudo o que você me pedir.

Eu sorri nervoso. Ouvir meu apelido saindo de seus lábios chamativos e a provocação que veio a seguir me fizeram, por um instante, esquecer tudo o qual passei o dia anterior inteiro tentando me convencer a pôr em prática. Foi impossível segurar minhas palavras.

─ Cuidado com o que oferece, Jimin, eu posso querer aproveitar... ─ Ele sorriu para mim e olhou diretamente em meus olhos.

Talvez ele não tenha entendido o que aquele aviso significava para mim, o levando na brincadeira, mas no momento em que seus orbes se prenderam nos meus, eu me perdi ali naquele olhar. Foi instantânea a resposta do meu corpo em bombear o sangue mais rápido, eu sentia meu peito queimar e a vontade de me aproximar mais quase me impulsionou a fazer algo do qual eu me arrependeria depois. Eu precisava sair daquela teia, então me levantei, o chamei para buscarmos seu animal e, sem ao menos esperá-lo, conduzi meus passos pelo corredor, a fim de trazer minha mente de volta ao meu controle.

No meio do percurso para a sala onde Wook estava, comentei sobre um filme que havia assistido há pouco tempo, com a esperança de tornar o clima mais leve, pois notei como ele estava tenso. Acredito que minhas palavras o tenham deixado desconfortável. Eu me condenava internamente por ter ultrapassado algum limite e pensar na possibilidade de que ele talvez queira se afastar me trazia certo medo, uma insegurança que nunca senti na vida.

Antes que Jimin pudesse ir embora com seu companheiro, eu realizei a sessão fisioterápica do dia, o orientando sobre como proceder com o pequeno basenji em casa. Notei que o animal é calmo então informei o moreno minha opinião sobre como será cuidar de Wook.

─ Olha, eu pude perceber que ele é bem tranquilo, então acredito que ele não lhe dará trabalho na hora do banho, nem em momentos do dia, pois aqui ele não tentou nenhuma vez tirar a atadura durante o período que precisou ficar com ela. Como ele já está caminhando, procure dar algumas voltinhas com ele pela casa, mas sem deixá-lo perambular sozinho. ─ Fui bem claro em minhas instruções sabendo que o outro, apesar de ser medico também, atua numa área totalmente diferente da minha, sendo necessário dar instruções precisas como a qualquer outro responsável.

─ Eu espero que sim, Jungkook. Wook é tranquilo, mas costuma ter uns picos de super energia no dia, esses momentos serão difíceis de controlá-lo ─ afirmou.

─ Esses momentos são devido à baixa freqüência de contato. Talvez por você passar boa parte do dia fora, ele se sente "energizado" quando você está, é apenas saudade. Como me disse que estará mais tempo em casa para a recuperação dele, você verá que isso não acontecerá com a mesma freqüência.

─ Gosto muito da forma como você é atencioso conosco. ─ Jimin tocou minha mão enquanto dizia, tornando novamente meu coração em um louco que bate descompassado. ─ Vai ser muito bom para nós dois te termos em nossa casa.

Eu podia sentir o suor que brotava de sua palma, mesmo que sua pele estivesse fria, denunciando seu nervosismo. Um arrepio percorreu meu braço e me afastei de seu toque antes que a cena de mais cedo se repetisse. Definitivamente eu não sei como Jimin se sente em relação a mim, mas eu sei que se ele sentir ao menos um terço do que eu sinto, esse tempo que teremos juntos fará com que tudo aconteça, eu preciso apenas esperar e não correr o risco de perdê-lo inteiramente.

 Definitivamente eu não sei como Jimin se sente em relação a mim, mas eu sei que se ele sentir ao menos um terço do que eu sinto, esse tempo que teremos juntos fará com que tudo aconteça, eu preciso apenas esperar e não correr o risco de perdê-lo ...

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Bem, o que acharam do nosso querido Wook? Já tinham sacado que era um doguinho?
Deixem suas estrelinhas, um comentário, eu ficarei muito feliz de saber a opinião de vcs... Nos vemos no próximo capítulo!
Beijinhos de açúcar ♥

Prescrição médica: amor ▼Jikook▼Onde histórias criam vida. Descubra agora