A entrega

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Cosimo sentou-se atrás do volante de seu carro preto mantendo o semblante serio. Luna mantinha-se sentada ao seu lado em silencio, sem esboçar nenhuma reação, deixando-o apreensivo.

–Isso.. será perigoso? – Luna se viu perguntando ao segurar com força o cinto de segurança. O pacote com drogas encontrava-se repousado em suas pernas, e seu olhar mantinha-se fixo no mesmo.

–Não, já fiz coisas mais perigosas – se viu responsando ao parar em um sinal vermelho. Cosimo viu o seu reflexo no vidro do carro, e sorriu ao ver seus cabelos loiros e seu rosto juvenil. Ele havia entrado para a família Galli quando tinha sete anos de idade. Seus pais o haviam trocado por drogas, e sem perceber Cosimo se viu entrando nesse mundo. A família Galli o acolheu por alguns dias e já estavam prestes a leva-lo a alguma instituição quando descobriram seu talento para estratégias desde pequeno. Cosimo sabia que ele poderia odiar aquela família e se vingar deles, entretanto ao entrar para a máfia se viu em uma família. Uma família que nunca tivera. Seu olhar voltou-se de relance para a mulher amedrontada ao seu lado, Cosimo não conseguia entender o motivo de Vlad desejar trazê-la para a família, mas não deveria ser contra ele.

O silencio permaneceu no veiculo ate Luna perceber que o carro estava estacionando em uma rua deserta próxima a uma rua com restaurantes chineses.

–É aqui a sua parada – Cosimo falou calmo ao olhar para ela – Já sabe o que fazer, não é?

–Já – murmurou fraca ao acuar o corpo deixando-o colado a porta.

–Agindo assim fica parecendo que estou prestes a te agarrar – disse com repugnância ao imaginar tal ato. Cosimo poderia ser um bandido, mas respeitava as mulheres acima de tudo – Não sou um verme, nunca irei te agarrar, pode ter certeza que estará protegida ao meu lado assim como ao lado de Luca – assegurou seriamente. Pigarreou para disfarçar o desconforto dela – Está olhando para aquele restaurante chinês com a frente em vermelho? – a viu assentir em silencio – É ali que deverá entrar. O homem que estará lhe esperando deve ter uns trinta anos, usa um casaco verde e velho. Não será difícil acha-lo – completou com um sorriso estranho. – Pode ir.

Luna concordou ao tirar o cinto de segurança com lentidão. Não passou despercebido as mãos tremulas da jovem para Cosimo. Ela segurou o pacote ao mesmo tempo em que saia do carro ainda incerta sobre o que fazia de sua vida. Seu medo de ser pega pela policia conseguia ser igual, ou superior, ao seu medo dos homens. Abraçou o pacote marrom com força ao avançar pela rua e entrar no restaurante chinês. O cheiro de peixe impregnou suas narinas. Seus olhos voltaram-se para os clientes e se surpreendeu ao ver apenas três pessoas. Dois homens sentados juntos em uma mesa afastada e um homem de cabeça baixa sentado logo no fundo. O observou e não demorou para ver o seu casaco verde, surrado, repousado em uma cadeira ao seu lado. Respirou fundo muitas vezes antes de seguir ate onde ele estava, andou sentindo o medo cada vez mais forte.

–Você.. é.. – murmurou confusa ao parar próxima a mesa dele – Eu sou...

–Pode deixar em cima da mesa – falou sem a olhar – e pegue a mochila que está no chão. Faça rápido – aconselhou com a voz rouca e sombria. Luna ficou parada alguns segundos antes de assentir e deixar o pacote na mesa, se abaixar e pegar a mochila, mas antes de dar as costas ao homem que desejava nunca mais ver em sua vida, disse o que vinha em sua mente – Não deveria continuar com isso.. Você.. isso é perigoso demais.

–E o que uma avião, poderia saber?

(*avião –Pessoa que faz a entrega de drogas, o intermediário entre o traficante e o consumidor.)

–Avião? – Luna indagou sem perceber a movimentação do lado de fora.

–É melhor ir embora, a policia chegou – o homem falou ao se levantar com calma, pegar o pacote e erguer o seu olhar pela primeira vez – Até que você é bonita, se desistir de entregar drogas e quiser ganhar mais, basta me procurar. É melhor ir embora pelos fundos – após dizer isso caminhou lentamente para o fundo do restaurante, se virou e a viu ainda parada – Ande logo!- gritou e somente então a viu se mover com receio. Meneou a cabeça incrédulo com ela. Ele não conseguia acreditar que alguém tão inexperiente estava entregando as drogas que alimentavam duas quadras importantes daquela rua. Eles seguiram para a cozinha, e como se fossem fantasmas andaram em meio aos funcionários do restaurante, sentiram o calor dos fogões, o cheiro de peixe cada vez mais forte ate verem uma porta. Ele abriu a porta, saiu e esperou por ela no lado de fora. Na luz do sol, ele percebeu o quanto ela era bonita – Tome cuidado ao ir para casa – disse antes de dar de ombros diante de seu silencio e seguir para o seu caminho.

O Estranho Mafioso [Retirado 6/4/2018]Onde histórias criam vida. Descubra agora