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Pablo Gavira

─Pedri, porquê? ─ Pergunto me referindo aos cortes.

González tira o braço de minhas mãos e puxa o moletom para cobrir. O mesmo limpa as lágrimas, se vira de costas para mim e pega o notebook que estava em cima da cama.

─ Onde paramos mesmo? ─ Diz mudando de assunto.

─Pedri, por quê você faz isso? ─ Pergunto.

Eu sei que pode parecer intrometido da minha parte, mas uma coisa que eu sou, e muito, é curioso!

─ Isso não é da sua conta Pablo! Podemos por favor terminar esse trabalho! Falta só um parágrafo e eu tenho mas oque fazer. ─ Diz estendendo o notebook pra mim.

─ Ok... ─ Disse me dando por vencido e pegando o aparelho de suas mãos.

Em menos de meia hora já estava tudo pronto.
Pedri praticamente me expulsou da casa dele e ainda tive que escutar um comentário idiota de Fernando.

Cheguei em casa e percebi que estava sozinho.
Como percebi? Bom tinha um bilhetinho em cima da bancada da cozinha escrito:

Pablo,

Eu e seu pai saímos pra fazer algumas compras para casa.
Já que não sabemos que horas voltaremos porque vamos ver um filme no cinema, deixamos dinheiro pra você pedir alguma coisa pra comer.
Não nos espere!

Com muito amor, Mama e Papa♡

Subi para o meu quarto e me joguei na cama.

Muita coisa estava passando pela minha cabeça, mas eu só conseguia pensar em Pedri...

Eu queria muito saber o porque ele fazia aquilo.
Coisa boa não é, com certeza.

Será que ele sofre alguma coisa em casa? Os pais o tratam mal? Ou é algo com ele mesmo?
Sinceramente não sei oque ele passa, mas quero muito ajuda-lo.
Algo em mim diz que eu preciso! Que ele precisa de mim! Que ele precisa de ajuda, ou de alguém...

É isso! Vou ajudar Pedri!

Pedri González

Despois que Pablo saiu, eu voltei para o meu quarto e cai em um choro profundo.
Simplesmente só chorei.

Ninguém sabia que eu me cortava.
Nem mesmo minha família.

Faz alguns meses que comecei a fazer isso.
Porquê? Porque eu prefiro muito mais a dor física do que a psicológica.
Oque a minha cabeça diz sobre mim e oque os outros dizem são muito diferentes.
Para os outros eu sou um rostinho bonito, com a vida perfeita.
Pra mim eu sou um lixo,com uma vida lixo.

E foi isso que eu fiz aquele fim de tarde. Chorei, chorei e acabei pegando no sono

9:30pm

─ Pedri González López! ─ Ouço a voz da minha mãe gritando e sinto algo acerta meu rosto. Uma bolsa ─ Parabéns senhor preguiça! Não faz nada nessa vida! Só come e dorme ─ Diz.

Oque eu fiz dessa vez?

─ Oque eu fiz? ─ Digo levantando e sentindo aquele fedor de bebida que era o cheiro mais comum da minha mãe.

─ Esqueceu que pessoas comem a noite? Eu passo o dia inteiro trabalhando pra sustentar vocês! E como você me agradece? Deixando todos com fome! Queria ver se fosse você que tivesse que trabalhar! Imprestável! Realmente Pedri porque você não tenta ser mais como o Fernando? Se fosse ele teria feito a janta! ─ Diz e sai.

Ótimo. Tudo que eu precisava agora.

As vezes eu me pergunto o porque de ainda não ter desistido.
Ela está certa. Eu sou um imprestável. Não faço nada da vida.
Então porque continuo vivendo?

Pego o notebook que estava em cima da cama, pra assistir um filme já que não tinha nada pra fazer.

Desço e vejo uma caixa de pizza vazia.
Ótimo. Não deixaram pra mim, de novo.

─ Fernando, cadê a pizza? ─ Pergunto.

─ Acabou ─ Responde começando a comer último pedaço.

─ Sério? Eu não como não, vivo de vento ─ Digo sarcástico.

─ A mama disse que não precisava guardar pra você ─ Diz simples e continua comendo.

Decido não continuar discutindo.
Vou até a cozinha, faço um sanduíche, pego um copo com suco e subo para o meu quarto.

Sento na cama com o notebook sobre as pernas e coloco Crepúsculo pra passar.

Pego o suco e quando vou tomar um um gole acabo derrubando. Me levanto da cama todo molhado.

─ Merda! ─ Digo tirando a blusa e colocando outra ─ Não! Não! Não! Não! ─ Digo vendo o copo virado em cima do notebook e o aparelho apagado.

─ Oi Pedri, eu esqueci meu celular aqui e... algum problema? ─ Vejo Pablo na porta olhando pra mim.

Oque ele tá fazendo aqui?

─ É... ─ Como se explica pra uma pessoa que o trabalho que vocês demoraram horas pra fazer, acabou de ser apagado, sem essa pessoa querer te matar?

Pablo chega mais perto da cama e ver o notebook todo molhado.

─ Ai meu Deus! O trabalho! ─ Diz apertando os botões do notebook pra ver se acontecia alguma coisa ─ Não tá funcionando!

─ Me desculpa Pablo! Foi tudo culpa minha. Eu me descuidei e acabei derrubando suco. Não se preucupe eu posso refazer sozinho! Eu sou um imprestável mesmo! ─ Digo já sentindo as lágrimas.

Pablo vem até mim e pega em minha mão, acariciando a mesma

─ Pedri olha nos meus olhos ─ Diz e eu recuo um pouco, mas o faço, me permitindo ver o brilho daquele seu olhar ─ Nunca! Jamais diga ou deixe alguém dizer que você é imprestável! Ok?! ─Assinto e Pablo me abraça.
Nos primeiros dois segundos eu estranhei mas quando vi já estava retribuindo o abraço.

─ Pelo pouco que te conheço, sei que você é uma pessoa maravilhosa!

Fazia muito tempo que não abraçava alguém e muito menos era abraçado.
Pablo passava os dedos sobre meus cortes fazendo carinho e sussurrava no meu ouvido "vai ficar tudo bem"

Aquele abraço me fez sentir especial. Me fez sentir como se houvesse alguma esperança.
Oque fazia muita falta na minha vida...

𝐌𝐞𝐝𝐢𝐜𝐢𝐧𝐞  |• ɢᴀᴅʀɪOnde histórias criam vida. Descubra agora