Sam
A pastora Mon foi tão sensível na sua abordagem enquanto eu estava no estacionamento. Será que isso significava o que eu estava pensando? Independente do sentido literal do seu gesto, voltei para meu apartamento com uma coisa martelando na cabeça: eu não sentia que tinha agradecido a sua ajuda de forma devida.
Depois de muito pensar, resolvi que seria uma ótima ideia convidá-la para um café. Um jantar não, essa opção era muito pessoal e não existia ainda essa proximidade entre a gente. Mas realmente um café parecia uma ótima ideia. Durante a reunião daquele dia, a pastora Mon tomou 3 pequenas xícaras de café e apesar de toda a confusão em que minha mente estava mergulhada, essa atitude não passou despercebida por mim. Eu conhecia uma ótima cafeteria nas proximidades do estúdio e poderíamos gastar alguns minutos lá na quinta-feira.
Com a decisão tomada, entrei em contato com a produção do programa e pedi gentilmente o número da pastora alegando que precisava dessa informação pois queria enviar uma mensagem de agradecimento pela maneira como ela me tratou aquele dia. Não precisei dar mais explicações, tampouco inventar alguma mentira e em segundos eles me enviaram o seu número.
Tomei mais uma dose de coragem e enviei a mensagem que não demorou muito para ser recebida. Agora só precisava esperar.
Terminei minha noite com um longo banho e deixei meu corpo descansar enquanto lia algumas passagens da bíblia para me preparar para o culto de sábado.
Quando o dia amanheceu, meu celular não acusava nenhuma resposta ao convite. Será que eu havia passado dos limites? Pensei em enviar outra mensagem me desculpando, mas qual atitude minha que merecia perdão? Afastei todos esses pensamentos e, finalmente, decidi levantar da cama, pois o dia estava lindo. Aos Sábados e domingos eu costumava ir a igreja somente no horário da noite para liderar ou apoiar os cultos, durante o dia procurava dormir bastante e fazer outras atividades voltadas para o meu bem-estar.
Neste sábado em questão, eu já tinha um compromisso bem definido. A cada 15 dias, eu e algumas fiéis da igreja (7 para ser mais exata) nos reunimos para jogar futebol em um torneio de amadoras. Com o início das gravações do programa eu já não sabia se conseguiria manter a frequência nos jogos, mas pelo menos nesse sábado eu já estava garantida. No início, a nossa presença causou um certo estranhamento entre os outros times e, não raras vezes, sentíamos que nos respeitavam até demais dentro do campo. Talvez fosse complicado assimilar a ideia de fazer uma falta muito forte em uma pastora, mas com o passar do tempo a dinâmica foi melhorando e hoje estamos totalmente entrosadas com as outras equipes.
Correr atrás de uma bola e gastar toda a minha energia me ajudavam com as crises de ansiedade e relaxavam meu corpo. Sempre tive uma relação próxima com o futebol, mas enquanto vivia com a minha família, meu pai achava inadequado que uma mulher acompanhasse as partidas e praticasse esse esporte. Somente depois de muitos anos, após estar longe de casa, me libertei dessa ideia e me reaproximei.
Eu sempre tive três grandes paixões desde que me entendo por gente, mas meu pai, infelizmente, foi o responsável por destruir cada sorriso que elas me entregavam quando eu estava em sua presença. A primeira são as mulheres, que sempre despertaram em mim uma sensação distinta e só ao longo dos anos e com a puberdade presente é que eu pude entender o que realmente significava. O futebol vem em sequência. Mas foram somente esses dois pontos perdidos do meu passado que consegui recuperar e aceitar, a outra paixão é dolorosa demais e ainda guardo em uma caixinha fechada rodeada pelos meus medos em um local de difícil acesso.
Ele me fazia acreditar que tudo era obra do Senhor e todas as suas atitudes estavam respaldadas pela bíblia e pelo amor que ele dizia sentir por mim. Esse foi um dos grandes dilemas que enfrentei ao ser expulsa de casa porque uma parte de mim não acreditava que o Deus tão bondoso que eu conhecia seria capaz de exigir de mim atitudes contrárias a minha própria felicidade.
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Aos teus pés
FanficKornkamon Petchpailin é uma cantora gospel de sucesso que também se dedica a missão de liderar uma igreja, atuando como pastora e sendo uma figura admirada pelos fiéis. Iniciou sua vida musical quando foi campeã do reality A Nova Voz Gospel aos 18 a...