Prólogo

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Dereck

Momentos após a queda ...

Como foi que as coisas haviam dado tão errado? Talvez essa fosse a pergunta de um milhão de dólares, como diziam os mortais. Eu sou um guardião, somos feitos para proteger, nascemos com isso enraizado dentro de nós, e no entanto aqui estou eu, de frente ao espelho em meu banheiro particular, a frustração me domina por completo, pois quando eu olho a superfície espelhada, o que me encara de volta são olhos castanhos esverdeados, eu devia tê–la protegido, e honestamente acredito que a ideia do meu irmão, não tenha sido das melhores, trancá–la não deveria ter sido a solução, por mais que eu estivesse apavorado, não deveria ter concordado com aquilo.

Eu precisava me recompor, e deveria sair desse estado deplorável que eu me encontrava, ainda havia uma chance, pequena, mas existia, ela poderia estar viva, não, ela tinha que estar viva, eu sentia sua essência vibrando dentro de mim. Antes de Emy cair, projetei meus poderes de encontro a ela, como um rastreador, mas só funcionaria se ela estivesse acordada, e ela precisaria se lembrar de algo muito importante que um dia eu disse a ela, eu sentia que ela estava viva, e eu não queria acreditar no que Max disse horas atrás.

— Você quer que ela esteja viva, você a ama, e eu compreendo isso irmão, mas ela esta morta, ela se foi e precisamos lidar com o que temos aqui e agora, precisamos lidar com a irmã dela presa em nosso calabouço, e precisamos entender toda essa bagunça, os motivos de tudo isso – Max procurou meu olhar e só voltou a falar quando o encontrou – Dereck, você está absolutamente acabado, então vá para o seu quarto, descanse , coma e depois que se recompor voltamos a conversar.

E foi isso, eu subi para o meu quarto e Max foi para o calabouço, tomei banho e comi uma refeição que foi entregue em meus aposentos, tudo isso de forma anestesiada e no piloto automático, e agora eu estou aqui, me trocando com trajes mais apresentáveis, para ir em direção a um tipo diferente de tortura, preciso contar tudo para Ângela e Laura, ela precisam saber exatamente o que aconteceu, só de lembrar eu estremeço, Max estava inconsciente, mas eu não, e talvez nunca me esqueça do som perturbador do corpo atingindo as pedras.

Passei as mãos tremulas em meu rosto, olhei para o espelho novamente e fui em direção a porta, andei pelos corredores em direção ao quarto das meninas, no caminho passei pela porta do antigo quarto de Emy, a porta estava totalmente quebrada nas dobradiças e levemente torta, como se ela tivesse acabado de conseguir sair, eu deveria saber que uma porta não seguraria ela, encostado no batente eu sorri levemente, ela com certeza era a coisa mais forte e deslumbrante que eu já vi, me lembrava claramente de cuidar dos seus pés machucados depois de 6 horas de caminhada com os pés cheios de cacos de vidro, como ela suportou isso, ainda era um mistério pra mim.

Quando eu soube a distância de caminhada da escola dela, até a casa de seus pais, que em meio ao pânico ela se perdeu em ruas estranhas pois era nova da cidade, eu fiquei simplesmente admirado com a força dela, não somente nisso, mas a dor física e em seguida a dor emocional de perder a mãe, todas essas coisas juntas acontecendo rapidamente, deveria ter feito qualquer um deitar em posição fetal e chorar absurdamente, mas não ela, ela enfrentou tudo isso e muito mais, ela havia tirado as únicas amigas nas quais se permitiu um apego real do mundo humano, e enfrentou as consequências disso, honestamente achei que ela e Laura fossem lutar fisicamente uma com a outra por isso, ela perdeu Rina, e elas haviam ficado muito amigas em pouco tempo, depois lidou com o conselho e os treinamentos, e no meio disso tudo ainda havia a competição estúpida entre Max e eu.

Sinceramente? Analisando tudo isso agora eu percebi o tamanho de nossa infantilidade, mesmo com séculos vivendo nessa terra, havíamos sido crianças, e pior ainda, crianças tolas, se eu pudesse começar toda essa história do início, talvez fizesse tudo diferente, e talvez o resultado tivesse sido outro, mas eu só tinha o agora, e nesse momento precisava me concentrar nas consequências das minhas ações, e era exatamente isso que eu estava pensando e remoendo, quando me desencostei do batente da porta e continuei pelos corredores, seguindo em direção a uma das torres, onde ficava o quarto das meninas.

Emily - Depois das ÁguasOnde histórias criam vida. Descubra agora