Capítulo 1

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Existe uma coisa que as pessoas não te contam sobre morrer, elas dizem que a morte é doce, calma e tranquila, como uma amiga que sente saudades e te abraça quando volta, mas a verdade... Bem a verdade é que morrer dói, doeu ter pulado daquele penhasco, doeu sentir o fragmento do poder do Dereck ser jogado em mim, como uma despedida, um adeus. Doeu ao bater meu corpo nas pedras, e cair na água gelada, até finalmente a inconsciência me levar embora.

Outra coisa que não te contam é que, mesmo quando você finalmente apaga leva algum tempo pro seu cérebro desligar, e há algumas coisas que você registra antes de partir, no meu caso, eu me senti flutuar na água, e senti a areia da praia. Há tem mais uma coisa, aquele papo de a vida passar diante dos seus olhos é verdade, mas não é algo rápido, e não é nada legal pois não é só as lembranças boas que você assiste no grande telão da sua mente, as ruins e dolorosas também estarão lá a sua espera, é como viver tudo que te aconteceu em vida novamente, só que você não tem controle sobre si mesma pois são lembranças.

Eu passei por varias memórias, lembranças com meus pais, lembranças das viagens e férias, às vezes vejo a mesma mais de uma vez. Oh não... Não, não, não, vai começar de novo.

– Ora vamos Emy você consegue – ouço a voz da minha mãe, e abro meus olhos, estou com medo e não quero cair, estou com as mãos no guidão da minha bicicleta amarela, meu pai esta segurando o banco e o guidão esquerdo, com a mão ao lado da minha, minha mãe esta distante, como uma líder de torcida, tentando me encorajar – Eu acredito em você filha, você vai conseguir – de alguma forma eu sei que daqui a alguns anos, minha mãe será fria e distante, e por algum motivo meu coração esta doendo de saudade, mas acho que é só coisa da minha cabeça de criança, ela esta aqui, e nunca ira me deixar.

– Está pronta? – pergunta meu pai, concordo com um aceno firme, e começo a pedalar, minha mãe solta gritos de alegria, e quando eu olho pra trás, noto que meu pai havia soltado a bicicleta em algum ponto do caminho, o medo volta com força total, eu entro em pânico, e de repente o mundo está rodando, e eu caio no chão.

– Filha – grita minha mãe correndo ate mim, ela tira a bicicleta de cima de mim, me ajuda a me sentar, de alguma forma sei que meu pai não está mais ali, então não tento procurá-lo com os olhos – amanha vai ser diferente – prometeu minha mãe – amanhã você vai conseguir – e eu realmente acreditei nela.

Eu fiquei de pé com ajuda da minha mãe, bati a terra da roupa, e fomos pra casa, e então tudo sumiu.

Depois de algum tempo a escuridão passa a ser a melhor coisa, ela sim é calma e tranquila, lembrar traz consigo inúmeros sentimentos, coisa que depois de morta, não há necessidade de sentir, e eu nem sabia que cadáver sentia algo, pelo visto é mais uma coisa que não te contam sobre a morte.

Luz e escuridão continuam oscilando, e tenho a estranha sensação de precisar me lembrar de algo, mas o que poderia ser? Mais uma vez vejo o clarão antes de reviver mais uma memória.

Ouço sussurros enquanto sou sugada para dentro de uma memória há muito esquecida, e então começo a ver formas e contornos. Estou em uma escadaria, ao olhar para minhas mãos, vejo que são mãos de criança, os sussurros ficam um pouco mais altos, e então noto que estou descendo as escadas, paro no último degrau, escuto com perfeição agora.

– Não deveríamos ter dado ela para ser criada por aquela mulher – era a voz do meu pai.

– E o que mais poderíamos fazer? Não tínhamos escolha, precisávamos separar as duas, viu do que ela era capaz, mesmo quando era um bebo, eu tenho certeza que ela é a personificação do mal, aquela que a profecia disse que destruiria todos nós – minha mãe estava triste, dava pra notar pelo seu tom de voz,.

Emily - Depois das ÁguasOnde histórias criam vida. Descubra agora