01| A perda

2.2K 176 49
                                    

"Como uma estrela cadente
atravessando a sala,
tão rápido, tão longe
você se foi rápido demais."

Gone Too Soon - Simple Plan

Naquela noite estava havendo uma grande tempestade

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Naquela noite estava havendo uma grande tempestade. Minha mãe, eu e minha irmãzinha, estávamos assistindo Harry Potter e a Ordem da Fênix na sala, enquanto esperávamos meu pai chegar.

- O papai vai demorar para voltar? - perguntou Grace, minha irmã de 8 anos.

- Ele vai chegar mais rápido do que você imagina - minha mãe, Abby, respondeu.

A gente tinha assistido os filmes de Harry Potter tantas vezes, mas para nós, nunca perde a graça. Chega a ser um ritual da nossa família, sempre que podemos, estamos assistindo Harry Potter.

Acordei com um barulho, parecia choro Quando abri meus olhos, vi minha mãe sentada em um banquinho, com o celular na mão e chorando. Eu rapidamente levantei para vê o que estava acontecendo.

- Ei mãe - agachei na sua frente - O que aconteceu?

- Ele se foi! - as lágrimas iam descendo pelo seu rosto.

- O que? - eu exclamei sem entender nada - Quem se foi?

- Seu pai - ela respirou fundo - Ele se foi.

Eu fiquei para sem reagir, sem nem piscar. O choque foi tanto, que eu não estava conseguindo processar o que eu tinha acabado de ouvir.

- Não, não, não - eu balançava a cabeça em negação, compulsivamente - Isso não pode ser verdade.

- Mas é verdade, querida - minha mãe tenta se aproximar.

- Não pode ser - eu me afastei - Ele era médico, você é médica! Porquê não salvaram ele? Porquê?

Minha mãe sem dizer nada me abraçou. As lágrimas escorriam sem parar pelo meu rosto. Tinha algo no meu peito, que estava me sufocando, me consumindo. Eu não sei explicar, tudo o que eu sei é que dói, dói muito. E parece que eu vou morrer.

- Como mãe? Como?

- Ele estava vindo para casa, no meio da tempestade, e uma árvore caiu em cima do carro - minha mãe acariciava meu rosto, enquanto falava - Quando a ambulância chegou já era tarde demais.

Meu coração começou a acelerar, e as mãos estavam tremendo descontroladamente.

- Eu nã... - a respiração trancou ainda mais - não consigo resp...

- Ei, olha para mim. Vamos fazer igual antes, ok? - eu assenti após ela fala - Puxa pelo nariz, solta pela boca. De novo, puxa pelo nariz e solta pela boca.

Depois de algum tempo fazendo isso, consegui me acalmar.

- Eu preciso que você me ajude, tudo bem? - eu apenas fiz sim com a cabeça - Você precisa cuidar da Grace, pra mim cuidar das coisas do velório.

- Tudo bem - limpei as lágrimas do meu rosto e minha mãe veio e me deu um beijo na testa.

Eu não podia chorar agora, eu tenho que ser forte pela Grace.

- Ava - Grace me chamou passando a mão no rosto, uns 20 minutos depois que nossa mãe saiu.

- Oi meu amor.

Eu me sentei no sofá e coloquei Grace no meu colo.

- Olha a maninha tem uma coisa pra te contar - eu dei um pausa, não sei como contar isso pra ela - O papai...

Eu não consegui terminar e os meus olhos encheram-se de água.

- O que tem o papai?

- O papai, ele.... ele foi morar com o papai do céu.

- O papai morreu? - as lágrimas já estavam escorrendo pelos olhos da minha irmãzinha.

- Sim.

Grace começou a chorar, então eu abracei ela e fiquei fazendo carinho no seu cabelo.

- Porquê ele tinha que morrer? Porquê ele que salvava as pessoas e não uma pessoa ruim - Grace me falava aos prantos.

Fazia apenas dois anos que Grace estava com a gente, mas já tínhamos tantas memórias em família. E perder o único pai que ela, que a gente, conheceu dói pra caralho.

- Eu não sei, meu anjinho - dei um beijo na sua cabeça - E ninguém nunca vai saber.

Eu estava sentada perto do caixão com a Grace no colo, quando eu vi William, primo do meu pai, chegando com uma mulher, que provavelmente seria sua esposa.

- Abby, eu sinto muito - disse William ao abraçar minha mãe.

Ele sempre foi próximo da nossa família, e sempre nos acolheu muito bem.

- Obrigada por vir - falou minha mãe.

- Ele era como um irmão para mim - Will falou - Essa é minha esposa, Rafaella.

- Meus pêsames.

- Obrigada.

- Ava, Grace - Will chegou e deu um beijo nas nossas testa - Essa é a Rafaella.

- Um prazer te conhecer - eu disse sem nenhuma ânimo na voz.

- Ava é um nome lindo - Falou Rafaella.

- Obrigada - respondi sem ânimo algum.

Grace passou todo esse tempo quietinha, o que não é normal já que ela é um criança muito animada. Mas esse está sendo o seu jeito de lidar com o luto, e me dói muito ver ela desse jeito.

- Matthew Lewis, o homem que salvou muitas vidas - minha mãe começou o seu discurso - Para muito era isso que ele era. Mas para mim ele era o primeiro homem por quem me apaixonei, ainda na faculdade, o homem que não me abandonou nas dificuldades. Ele esteve comigo quando recebi uma das notícias mais difíceis da minha vida, que era não poder conceber um filho. Foi ele que me incentivou a adotar, e também foi com ele que adotei minhas duas filhas, Ava e Grace - ela deu um pausa com os olhos cheios de lágrimas, e olhou para mim e Grace - Ele foi meu primeiro e vai ser o último amor da minha vida, não importa quanto tempo passar.

Assim que o túmulo foi fechado às pessoas foram saindo aos poucos, até ficar só eu, mamãe e Grace.

- A gente não vai vê mais ele, né mamãe? - Grace questionou com voz chorosa, no colo da nossa mãe.

- Não meu amor, infelizmente não - mamãe falou e deu um beijo na cabeça de Grace, e então saiu.

Fiquei um tempo encarando a lápide, em um silêncio absurdo, não só no ambiente mas também na minha mente. Era como se nada passasse por ela, como se ela tivesse parado de funcionar por um tempo.

- Lembra da primeira vez que te vi? Eu senti medo, mas logo você me fez sentir segura do seu lado. Você me ensinou a andar de bicicleta com 12 anos - eu dei uma leve risada - Eu morria de vergonha que as pessoas soubessem disso, uma pré-adolescente aprendendo a andar de bicicleta - sem eu perceber as lágrimas foram descendo - Foi você que insistiu que eu fosse assistir uma partida de futebol com você, e agora é meu esporte favorito. Você deixava eu comer doce escondido da mamãe - apesar das lágrimas, o sorriso permanecia - Quando vocês decidiram adotar a Grace, você estava lá para garantir que eu não me sentisse excluída, nem rejeitada. Você foi o melhor pai que qualquer um poderia ter, e eu me sinto tão grata por você ter me escolhido para ser sua filha. Mesmo se eu pudesse escolher o pai ideal para mim.... eu escolheria você, sem nem pensar duas vezes. E só de pensar em não ter mais você comigo, despedaça meu coração. Eu te amo pai e nunca vou te esquecer, palavra de bruxa.








Deb: O primeiro capítulo já me emocionou por causa do meu pai, e ele já tem uma grande significado pra mim. Peço desculpas por não ser bem escrito mas espero que gostem mesmo assim. Tchau, beijos de luz!💌

𝒄𝒉𝒂𝒏𝒈𝒆𝒔 - minhα culpαOnde histórias criam vida. Descubra agora