Capítulo 10 O balanço

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No fim das contas, Alex ficava bem divertida quando bebia. Helena teve receio de que um filme mudo não prendesse a atenção dela, mas a mulher parecia um tigre caçando um antílope, prestando atenção em todas as expressões faciais exageradas que apareciam na tela. O resultado foram duas mulheres muito embriagadas às dez da noite, o horário em que saíram do cinema direto para a noite quente de primavera. 

Helena sabia que deveria ter parado depois de dois drinques para poderem ir para casa de carro, mas, caramba, ela simplesmente não queria parar. Fazia tanto tempo que não ficava com outro ser humano assim. Depois que sua ex fora embora, as amizades que antes tinham sido de Helena e da esposa tentaram incluí-la, mas aquilo não cativara seu coração. Nada cativara seu coração. E ainda não cativava , dizia ela a si mesma, uma mensagem padrão da qual sua mente discordava naquele momento. Maldito coquetel. Ela nunca tomava as melhores decisões quando bebia aquilo. 

Daí a coragem de desabafar a respeito da partida de Meredith – que nem tinha sido por causa de outra pessoa –, ainda por cima com alguém que essencialmente nem gostava dela. Mas, quando Alex abriu os braços debaixo do letreiro luminoso do Andrômeda, com as luzes tingindo sua pele de rosa e dourado, ela não parecia inimiga de Helena. Nem um pouco. Sem dúvida era uma mulher diferente daquela que a esculhambara por causa de qualquer comportamento irresponsável seu com Haley, mas não era tão diferente da mulher daquela noite anterior nem daquela que causara uma impressão na reunião da apresentação de sistemas. Não, essa Alex era um pouquinho mais suave, com minúsculas rachaduras na carapaça rígida que a cobria. Helena imaginou se a própria carapaça também estaria rachada. 

– Tá pronta pra ir? – gritou para Alex, que ainda rodopiava feito uma patinadora no gelo, enquanto outros espectadores a contornavam, achando graça. Alex parou, sem fôlego, com os olhos refletindo as lâmpadas fluorescentes enquanto piscava para Helena. 

– Nem um pouco. 

Helena riu. 

– Que bom, porque nenhuma de nós duas está em condições de dirigir.Acho que é melhor chamar um carro de aplicativo. 

– Aí você teria que voltar aqui amanhã pra pegar sua BMW. 

– Um passeio que você com toda certeza faria comigo, Senhorita Desce Mais Uma. 

Alex deu uma risadinha – de verdade – e rodopiou mais algumas vezes. Helena estava ficando nauseada só de observá-la. 

– Você não é uma daquelas pessoas horríveis que nunca ficam de ressaca, né? – perguntou Helena. 

Alex deu de ombros. 

– Sei lá. E girou, girou e girou. 

– Peraí – pediu Helena, aproximando-se de Alex, trocando um pouco as pernas e detendo-a ao fechar as mãos ao redor dos braços dela. 

– Você nunca ficou bêbada?

 Alex franziu o rosto, fingindo pensar. 

Foi muito fofo, porque Alex Dunphy era realmente uma fofa, caramba. 

– Claire  Prichett Dunphy não aprova entregar-se à embriaguez – respondeu Alex, tocando a ponta do nariz de Helena com o dedo indicador. 

–Obviamente. 

– "Entregar-se à embriaguez?"

– Claire Prichett Dunphy  ainda nunca diria "ficar bêbada".Nossa, a mãe dela parecia ainda mais chata de doer. 

– E na faculdade? – perguntou Helena. 

Alex oscilou, e Helena percebeu que suas mãos ainda estavam ao redor dos braços dela. Ela a soltou, mas quando a outra se inclinou para o lado um pouco mais do que era seguro, agarrou aquela mulher infernal outra vez, mantendo-a no lugar. 

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