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O final de semana passou voando. Queria que tivesse durado mais.

Chegamos ao lugar e já era tarde da noite. Devolveram-nos nossas pulseiras logo na entrada. Fomos todas direto para o quarto e eu ajeitei minhas coisas perto da minha cama e peguei o remédio de Boruto, lembrando do desenho que havia deixado dentro do livro.

Bufei com meus pensamentos. Talvez agora é que ele não falasse comigo nunca mais. Eu consegui destruir tudo. Como sempre. Fui até o refeitório, vendo que não havia nenhuma marmita lá. Franzi o cenho.

- Eles já foram alimentados mais cedo. - uma voz feminina falou e eu olhei para trás, vendo uma mulher, que parecia ser cozinheira - Não se preocupe. - assenti.

- Obrigada. - falei baixo, saindo dali.

Minha moral naquele lugar caía em oitenta por cento com todo mundo. Eu não sei o porquê. Talvez por que eu me sentisse completamente desconfortável e me sentisse observada em todos os cantos em que eu ia. Eu sentia como se as paredes me observavam.

Fui até o corredor do medo, vendo alguns segurança. Abri a porta da cela sete, entrando e vendo que estava tudo escuro. Será que ele já estava dormindo?

Fechei a porta e liguei a luz, vendo Boruto encolhido na cama e coberta pelo edredom.

- Boa noite. - falei e ele não se virou, suspirei - Trouxe seu remédio.

Ele não respondeu novamente. É, talvez ele estivesse dormindo mesmo. Olhei por todo o quarto, não vendo o livro em canto nenhum. Andei lentamente em direção a Boruto, sentindo um calafrio estranho por todo meu corpo. Quanto mais eu me aproximava, mais sufocada eu ficava. Parei do lado da cama, respirando pesadamente. Boruto finalmente virou-se para mim.

- Você... - pausei - Você tem que tomar. - foi a única coisa que eu consegui falar, e com muita dificuldade.

Boruto respirou fundo, saindo debaixo das cobertas. Ele vestia um moletom e uma calça de moletom, os dois cinzas. O livro ainda estava em sua mão. Ele o entregou para mim no mesmo momento em que eu entreguei a pílula para ele. Ele colocou na boca e engoliu, trincando o maxilar em seguida.

Lembrei o que eu havia comprado mais cedo e lembrei que ainda estava no meu bolso. Peguei o Snickers e mostrei a Boruto, que colocou a cabeça para o lado em dúvida.

- Eu sei que não é um hambúrguer. Mas acho que é tão bom quanto. - ele franziu o cenho - Toma. - coloquei em sua mão e ela olhou para o chocolate e olhou para mim novamente.

- Eu não posso aceitar. - falou me devolvendo.

- Claro que pode. - falei, ainda sentindo aquele desconforto, mas fingindo que não estava acontecendo nada - Ninguém nega chocolate. - sorri e ele olhou para o lado, levantando-se.

- Você... Não sente nada? - perguntou olhando para mim e eu franzi o cenho, olhando para baixo e vendo a luz da minha pulseira ficar laranja.

-Sentir... O que? - perguntei tentando me fazer de desentendida e ele continuava a me fitar seriamente.

- Medo.

- Não. - falei sem fraquejar - Por que eu teria? - eu realmente queria arrancar alguma informação de Boruto, mesmo aquilo sendo muito arriscado.

O garoto suspirou, fechando os olhos e baixando a cabeça enquanto negava. Quando ele levantou novamente, vi um sorriso nos seus lábios, o que me deu calafrios.

- Por que eu sou um monstro.

**

Cheguei ao quarto completamente sem ar. As luzes já estavam apagadas e muitas meninas dormiam. Coloquei a mão no peito, respirando fundo e não conseguindo o ar que precisava. Sentei no chão, respirando fundo devagar várias vezes e levando a mão até meu cabelo, lembrando-me do que havia acontecido.

Monster - BoruSara.Onde histórias criam vida. Descubra agora