Lendária Guerra do Crachá

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Sou o sobrevivente de um mundo em ruínas, no início só havia pessoas de crachá azul, entre eles havia os casos raros, aqueles que não possuíam crachá. Os sem costumeiramente apanhavam dos que o tinham e eram recriminados e afastados da sociedade.

Nasci assim sem crachá, mas forjei um falso e vivi com ele por um tempo e muitos faziam como eu. Surgiram os rebeldes que lutavam pelo direito de existir com dignidade sem crachá... mas algo aconteceu, os rebeldes criaram um crachá verde para representar seus direitos.

Os azuis odiavam o novo crachá e como a cada dia crescia o número de usuários dele, eles gostavam quando eram os únicos a ter direito e visibilidade. A todo custo tentavam minar o outro grupo, nunca abrindo mão do poder total, apesar de, ceder um pouco para aquele outro grupo.

A existência de outro grupo gerou burburinhos, agora novos crachás surgiam do dia para a noite, rosa, branco, roxo, vermelho, etc. Todos eram pressionados a escolher um grupo e lutar por eles, logo começaram a surgir pessoas que não poderiam se identificar com um único crachá então usavam dois ou misturavam as cores em um único crachá. 

Esquecemos que a existência dos crachás vinham junto de imposições de comportamento e pensamento, esquecemos que não queríamos os crachás e como eles eram opressores com os outros. Pessoas confusas não sabiam que crachá usar e eram julgados por nós os que antes não tinham crachá. 

Logo começamos a atacar todos até aqueles com nossas cores, enquanto nos matávamos os de crachá azul a supremacia da sociedade de divertia não tendo que fazer nada para nos derrubar. Então, nos destruímos os corpos caíram no chão e os crachás foram misturadas ao sangue de nosso povo. 

Me perguntei quando foi que esquecemos da paz, como almejamos viver juntos sem imposições, só com a liberdade. Os azuis vieram jogaram os crachás coloridos no fogo e puseram nos cadáveres os crachás azuis sob o discurso: "Se tivéssemos só um crachá como sempre havia sido essa situação triste não teria acontecido aceitem que a cor da paz é o azul a única cor necessária."

Os sobreviventes aceitaram o falso acordo de paz, abdicaram de suas ideologias e se submeteram as regras dos azuis, afinal esqueceram que nos tempos onde eles eram os únicos não havia exatamente a paz. Tudo que lembravam foi do que perderam e como foi doloroso lutar, uma vez que não ganhamos nada, restaram apenas arrependimentos. 

Hoje cansei, nunca fui um crachá azul, lembrei que a liberdade era não ter crachás, um mundo que não te obrigue a ser como todos os outros isso era a paz. Arranquei meu crachá e segui meu caminho sozinho até ser preso. Na frente de um monte de câmeras me perguntaram o motivo de eu estar sem crachá. 

"O crachá é um fardo pesado... lembrei de um tempo onde achei que não era importante a cor que carregamos no peito, mas que achei como deveria ser bom poder só existir sem julgamentos, sem ser obrigado a agradar todos. Um mundo onde ninguém questiona seu crachá, ninguém impõe sua cor. Não vejo motivo para me vestir do azul quando existem tantas outras cores que quero ser e ver, sem pressão, sem dor, apenas experimentar e viver. Tirei o crachá, pois minha visão de mundo perfeito é olhar para alguém e nunca mais me questionar: Qual será seu crachá? Ele combina com o meu? Somos mais que um crachá no peito, uma cor não pode nos definir. Quando criamos novos crachás, imitamos nossos opressores, esquecendo nosso começo e como era bom não os ter. Finalmente entendi quem sou, e a resposta sempre será, sou eu mesmo e nada mais."

O câmera me observou com olhos cheios de lagrima e tirou de seu peito o falso crachá azul e veio até mim e me abraçou, a transmissão foi cortada após isso e fui para minha cela sem nunca mais sair. E todo dia fitava o belo horizonte da janela da prisão com alegria, eles prenderam meu corpo, porém não meu espirito que todo dia cavalgava com o sol e trazia consigo a lua. Eu torcia para que pelo menos alguém igual a mim tivesse ouvido minhas palavras e entendido minha mensagem. 

Não sei o que está acontecendo lá fora, mas aqui de dentro de mim mesmo o mundo é lindo.

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