Ancestralidade

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Eu dei certo!

Clarearam minha pele.

Não me olham torto,

Não sou abordada e revistada

Por guardas que me avistam, na periferia, parada.

Eles não me veem como ameaça,

Não suspeitam que há drogas em minha casa.

Não sou mais a caça.

Agora sou... caçador?!

.

Eu dei certo!

Sou a purificação

Dos povos nativos dessa nação.

O catolicismo domina minha geração.

Deus acima de tudo dizem por aí.

O seu retrato se confunde com o papai Noel,

Seu filho amado, pintaram sem colorir o papel.

.

Eu dei certo!

Falo a língua do colonizador,

Desconheço a dor e o sangue derramado no lugar em que cresci.

Desconheço a origem e a cultura dos povos que não conheci.

Invasores ganharam anistia e se fixaram aqui.

Reproduziram e, enfim...

Eu nasci.

.

Eu dei errado!

Eu tenho um nome,

Mas não tenho identidade.

Meus traços não me contam a verdade.

Eu sou uma folha de papel branca,

Em branco...

Apagada...

Minha história foi anulada!

.

Fui miscigenada até ser branqueada,

A cor da pele se apagou, a cultura desgastou,

Não posso me orgulhar de quem eu sou.

Porque não sei quem eu sou.

Poemas/PoesiasOnde histórias criam vida. Descubra agora