Sou invisível aos olhos sociais.
Não posso, não devo,
Misturar-me aos demais.
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Camuflado no meio da cana,
Como baratas e ratos nos bueiros.
Perambulando pelas periferias,
Ocultos nas noites mais escuras.
Me acusam de não ser humano:
"Lixo!" "Fedido!" "Esquisito!" "Desocupado!"
As lágrimas querem descer,
Mas são engolidas para não atrapalhar meu afazer.
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Menosprezado, ofendido, escorraçado.
Marginalizado, esquecido, isolado.
Contudo... com trabalho procurado pelos interessados.
Você não gostaria de estar aqui,
Mas eu preciso estar aqui.
Não nasci assim,
Fui colocado, abandonado nesse lugar.
Não posso ser culpado,
Não posso ser responsabilizado,
Não é falta de força de vontade para me levantar!
Isso é o que eu faço todos os dias para aguentar
A dor das atitudes dos que insistem em me atacar.
Por favor, Deus, tire-me desse lugar.
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Te garanto,
Por baixo do tapete do gerente,
Em baixo da cama do presidente,
Na casa do burguês,
Nos salários do mês
De deputados, vereadores e seus funcionários,
Você vai encontrar sujeira mais nojenta
Que no uniforme do meu trabalho suado.
Que está sujo com seus fluidos corporais,
Os quais me proíbem misturar-me aos demais.
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Por favor, Deus, venha me salvar,
Do julgamento dessa sociedade vulgar,
Que tem nojo de quem cuida
E vangloria quem explora.
Que me abando todos os dias,
E, pra eles, faz festa a toda hora.