20.A mentira pela esperança

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O silêncio pesado tomava conta da casa. A pequena luz de esperança que havia sido ressuscitada a horas atrás, ainda não era o suficiente para recuperar o que havia sido perdido.

Com certa vergonha e medo, o rapaz coreano caminhava lentamente em tentativa de evitar que seus sapatos provocassem barulhos na madeira velha, à medida que atravessava o corredor vazio. Indo em direção a sala, ele carregava consigo em suas mãos trêmulas, uma bacia com água fria, acompanhado com um pano branco que estava pendurado em seu ombro esquerdo. O rapaz se senta sobre uma cadeira, respirando fundo algumas vezes, e por mais tranquilo que parecesse, isso só escondia a ansiedade que atormentava o seu peito. A bacia foi posta em seu colo, para assim poder pegar o pano, e mergulhar sobre a água.

Torcendo o tecido, com gentileza as suas mãos seguram e puxam um braço ensanguentado, onde de forma delicada ele esfregava o pano para limpar a sujeira. Terra, pequenos matos e muito sangue seco; ele ia removendo tudo isso aos poucos, tomando cuidado para não puxar o fio de soro. Ao terminar, ele mergulha o pano na água mais uma vez, assim repetindo este processo várias vezes, onde o único som que tinha naquela sala quieta e vazia, era da água e do pano que estava sendo torcido.

Com um suspiro forte, Glenn esfrega o rosto.

— Você realmente não mudou nada, Jesse... — Ele sussurrou, lançando um pequeno sorriso para a sua irmã desacordada.

Colocada sobre o sofá dos Greene's, Jesse respirava devagar com o som forte do chiado que saia da sua garganta, e mesmo que o seu corpo se encontrasse menos sujo do que antes, ele ainda permanecia em um estado preocupante. Para o mais novo, ela parecia muito mais magra do que se lembrava - comparando com antes da gravidez - e a palidez de seu rosto, juntando com suas olheiras escuras, só o fazia se questionar a que ponto ela se forçou para além do seu limite. O cheiro desagradável das tripas e sangue era algo que o coreano constantemente ignorava, não podendo competir com a sua preocupação, e os sentimentos de emoção misturados com alívio.

Ainda era difícil de acreditar que isso estava acontecendo, principalmente quando já havia aceitado semanas atrás, que nunca mais a veria. Respirando fundo, ele ajeita o pano em suas mãos, puxando a sua ponta, para assim limpar delicadamente o rosto de sua irmã. Tirando as manchas restantes, ele podia vê-la se mover lentamente, mas não ao ponto de abrir os olhos. Glenn não pode evitar de desviar o olhar, se sentindo um tanto "decepcionado", visto a ansiedade que tinha em poder estar com ela novamente. Com um suspiro cansado, seus dedos logo desceram para o pescoço de sua irmã, onde ele passou o pano para a outra mão, para assim tocar com delicadeza o pequeno colar de letras.

"Jina"... — Ele sussurrou — O que aconteceu com você, minha garotinha verde?

Tocando naqueles cubos cobertos por sangue, Glenn resmungava o nome de sua outra irmã caçula vezes, enquanto podia sentir os seus lábios tremerem.

— Merda... — Com um resmungo, ele engoliu o seco.

Era como um choque de realidade, onde as suas memórias só voltaram para a vida que tinham em um piscar de olhos, sem qualquer aviso prévio, onde apenas o fazia perceber que durante esses últimos meses, a dor sempre esteve presente. Diante o caos e os poucos sobreviventes no acampamento, ele havia perdido qualquer esperança de ver a sua família viva novamente, assim se enfiou de cabeça neste novo mundo, onde consequentemente se via cada vez mais distante de casa. Mas agora, estava de frente para uma das pessoas mais importante de sua vida, e os seus sentimentos brotavam de uma forma tão rápida, que nem respirar fundo ajudava.

"— Eu não sei" A frase de Jesse ecoa em sua cabeça de repente. Se lembrava da face de sua irmã no exato momento que ouviu tais palavras, e mesmo que não soubessem se eles estavam vivos ou não, era como se tudo que estava sentindo fosse um tipo de luto, que o matava por dentro a cada memória que passava em sua cabeça.

Fighting for us - The Walking DeadOnde histórias criam vida. Descubra agora