21.A calmaria dos nervos

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O ar quente tomava conta do banheiro, embaçando o espelho e tornando as paredes úmidas pela água.

Neste cômodo pequeno, o som do chuveiro era o seu ponto forte. Roupas estavam jogadas no piso branco, formando uma fileira mal feita até a banheira. Os tecidos sujos de sangue e terra, mancham o chão, graças às pequenas gotas de água que amoleceram o que estava seco.

No meio da banheira mal cheia, atrás das cortinas amarelas, Jesse se encontrava deitado em um canto, que graças ao chuveiro, o seu choro era abafado. A água quente escorria pelo seu corpo magro e alto. Ele que estava cheio de hematomas roxos e esverdeados, se livrava dos restos de sangue, carne, mato e até mesmo insetos mortos, que desciam pela sua pele nua, indo diretamente ao ralo.

Jesse fungava diversas vezes, sentindo o seu corpo cansado e exausto, enquanto esfregava pela quinta vez o shampoo em seu cabelo. Mesmo sabendo que estava gastando um produto que nem era seu, o asiático não queria arriscar ser infectado, não se poupando de lavar várias vezes, até a água sair totalmente branca. O seu ombro esquerdo era protegido pelas ataduras, levando em conta que ele ainda não havia cicatrizado, sendo então a última parte que iria ao menos passar uma água. Enxaguando o seu cabelo, que agora tinha fios leves e nem um pouco grossos de sangue seco, a coreana fechava os olhos em cansaço. Sentia dores por todo o corpo, falta de força e ardência em seus pés, que provavelmente estavam cobertos de bolhas.

Vendo a água muito mais clara do que minutos atrás, ela se encosta na quina da banheira, cruzando os seus braços para usá-los de apoio para a sua cabeça, se deitando nela graças ao cansaço. O coreano tentava recuperar algum pingo de energia, ignorando uma pontada em seu dedo indicador, que ardia desde que havia posto shampoo sobre ele, assim como tentava ignorar qualquer coisa ao redor, principalmente os seus pensamentos.

O rosto de Glenn ainda estava fixo em sua mente. A expressão de esperança em seus olhos, era difícil demais de ignorar. A escolha que havia feito, vinha como uma facada em cada segundo que pensava sobre. Havia mesmo escolhido certo em não contar? Ou deveria ter se arriscado? Esfregando o rosto, Jesse fechou os olhos, onde novamente podia ver o rosto de seu irmão.

Mas em meio a isso, ela também podia ver o rosto de sua família, e o destino que havia sido entregue a eles.

Mordendo o lábio para afastar a vontade de chorar, Jesse respirou fundo, antes de esfregar o rosto com ambas as mãos. Queria gritar e deixar tudo sair, mas a sua garganta permanecia presa, diante os seus pensamentos que a condenavam se ousasse permitir tal coisa. Fungando uma última vez, ela então se encosta na parede, puxando as suas pernas para abraçá-la, entrelaçando as suas mãos, assim ficando em posição fetal. Porém, ao fazer isso, a ardência em seu dedo retorna mais forte, como se fosse uma insistência irritante, que precisasse de sua atenção. Com o cansaço exposto em seus olhos avermelhados, ela respira fundo antes de erguer a palma para cima, levando a sua mão na altura de seu joelho, mas o que viu na ponta a fez congelar.

Havia um corte em seu dedo. Ele era pequeno, fino e quase impossível de ver, mas era fundo. Fundo ao ponto de chegar a ver a sua carne, e até mesmo um resquício de sujeira por entre a pele aberta, o que ela logo esfrega para removê-la.

Jesse se via paralisada, sua respiração e coração acelerados. Ele apenas engolia o seco, enquanto tentava entender de onde veio tal ferimento. A quanto tempo esse corte estava aí? Tinha se cortado aqui no banho? Ou em outro momento?

E afinal, não tinha enfiado ambas as mãos dentro do estômago de um zumbi...?

[...]

Você precisa comer, Jesse.

A voz de Hershel ecoa pela sala, em seu tom rígido e autoritário, com um pingo de preocupação. O vento fresco balançava os seus cabelos grisalhos, enquanto o homem se concentrava em organizar o kit de primeiros socorros sobre a pequena mesa do quarto.

Fighting for us - The Walking DeadOnde histórias criam vida. Descubra agora