Me adora.

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Era quase noite e a mente de Pete estava inundada por aquelas memórias vívidas e frescas.
Nesse mundo, esforço não vale nada, e se talvez ele tivesse agido como se não se importasse? seria tudo diferente?
As respostas para essas perguntas não chegariam tão cedo, e enquanto isso, ele se afundaria mais e mais em outra decepção.

A verdade é que ele estava confiante de que seria efetivado depois de tanto tempo dando o seu melhor no estágio, fez o possível para mostrar que merecia o cargo ao qual estava concorrendo com outro colega de trabalho. Mas nem tudo acontece como queremos (ou esperamos). Então, quando chegou naquela manhã ensolarada ao escritório e foi avisado de que deveria arrumar suas coisas e seguir seu rumo fora do prédio, não se conteve e chorou. Chorou pois aquele sentimento de insuficiência pairou sobre ele e de repente se perguntou o que fez de errado para merecer aquilo.

Era um jovem cheio de qualidades e vontade de crescer, e perder essa oportunidade por um cara que sequer sabia manusear um aplicativo de escrita no computador era, definitivamente, o fundo do poço.
Alguns minutos mais tarde no escritório, Pete pacientemente, com uma visível cara de choro e humilhação pairando sob si, pegou todas as suas coisas e saiu sem olhar para trás. Estava destruído, acabado. E foi em direção à própria casa.

Ao chegar, afundou no sofá onde se permitiu chorar pelo resto do dia, sentindo seu peito encher-se daquela amargura que o acompanharia por mais algum tempo. Depois de boas horas, lembrou-se de seu amigo de longa data, Vegas. E, sem pensar muito, ligou para ele, que após duas chamadas atendeu.
- Ei, Pe. Aconteceu algo? - falou ao não ouvir a voz de Pete de imediato.
- Eu preciso te ver, Vee, eu preciso muito. - disse e sua voz trêmula e cheia de angústia atingiu Vegas com uma brutalidade catastrófica. Seu amigo precisava dele, era nítido que estava sofrendo, e ele, definitivamente, não o deixaria por nada nesse mundo.
- Chego em 20 minutos. - disse por fim e encerrou a ligação.
Após a interação, nosso pequeno sofredor decidiu, por fim, levantar e tomar um bom banho, na esperança de se livrar de parte daquele sofrimento ridículo até que Vegas chegasse.

Em 15 minutos, Vegas estava batendo em sua porta. Pete então saiu de seu quarto (agora com roupas mais confortáveis) e foi em sua direção, abrindo-a.
Pete não falou nada (nem era preciso, para começo de conversa), só se permitiu chorar com a cabeça enfiada no peitoral de Vegas quando esse o puxou para um abraço reconfortante.
Entre soluços e corpo trêmulo, sentiu seu corpo ser carregado e colocado sob sua cama. E naquele momento pôde olhar atentamente ao fiel amigo que estava em sua frente.
- Você se sente melhor para conversar agora?
- Sim. Já chorei demais, é hora de jogar tudo pra fora de outro jeito, não é? - respondeu Pete enquanto fungava levemente pelo choro que cessou há alguns minutos.
- Então, estou aqui para te ouvir. - Vegas proferiu em um tom singelo e calmo, ao mesmo tempo em que depositava um beijo casto nas mãos de Pete.

Longos minutos se passaram até que Pete finalmente terminasse de contar tudo o que aconteceu naquele dia, com algumas lágrimas ainda rolando por suas adoráveis bochechas.
- Ei, Pe. Olhe para mim.
Vegas atraiu a atenção de Pete, que fitou com atenção o rosto do amigo e seus olhos se encontraram, paralisados, apenas observando profundamente um ao outro.
- Eu não sou a melhor pessoa para dar conselhos ou qualquer coisa do tipo, mas eu posso dizer com toda a certeza do mundo que você é a pessoa mais inteligente e esperta que eu conheço. Se outros não conseguem enxergar o seu esforço e capacidade, azar o deles. Não vale a pena você se afundar em tristeza por alguém que não notou seu potencial, Pe.

Vegas disse tentando soar amável e acolhedor, e parece que ele conseguiu o efeito desejado. Viu no olhar de Pete um brilho único, como se, de repente, tudo fizesse sentido. Ele se sentiu aliviado, realmente não esperava que suas palavras fossem ser úteis, de fato.
Então observou atentamente seu amigo levar suas mãos macias ao seu rosto e depositar um carinho íntimo seguido de umas palavras em agradecimento:
- Vee, você é o melhor amigo que eu poderia desejar ter. No fim eu nem sou tão azarado assim, tive muita sorte por te conhecer. Obrigado por estar comigo. - falou com um sorriso de tirar o fôlego estampado no rosto.
Vegas sorriu, e se aproximou dele.
- Sabe, Pete?
- O quê? - perguntou com uma nítida curiosidade.
- Eu não acho que deveria esconder por mais tempo, preciso te contar e vai ser agora. Eu vou deixar você com essa informação, você decide o que fazer depois, mas eu já não posso mais continuar guardando isso só pra mim.
Notou, enquanto criava coragem para falar, o rosto confuso de Pete olhando-o com atenção.
- Estou ouvindo - Pete disse.
- Sabe, eu também já vivi muitas decepções, e talvez, a que eu tenho vivido todo esse tempo seja a mais cruel: a falta de coragem. Eu estive pensando, não tenho mais motivos para esconder. Eu gosto de você. Gosto mesmo, pra valer. Não sei quando nem como começou, mas eu fui sincero comigo ao admitir esse sentimento. E, de verdade, eu só quero poder passar meus dias com você, estar sempre ao seu lado, compartilhar risadas, choros, alegrias com você. E não importa se eu não sou o que você quer, de toda forma, não deixa de ser minha culpa sua projeção sobre mim, eu mesmo dei motivos pra isso por ter sido distante durante boa parte do tempo em que fomos amigos, mas agora eu estou aqui por você e para você, sempre que precisar de mim. Porque meu lugar é ao seu lado. E eu aceito a apatia se vier, se você não sentir tanto por mim quanto eu sinto por você. Eu só precisava que soubesse.

Então a mente de Pete se viu novamente em um turbilhão de pensamentos por aquelas palavras que acabara de ouvir. Não esperava que Vegas fosse o primeiro a admitir, na verdade, até suspeitou que fosse melhor assim. Ele sabia, lá no fundo, que não teria coragem o suficiente para confessar. E, céus, ele sentia a felicidade borbulhar por todo o seu ser, como um bálsamo para superar as dificuldades que tivera no dia. Sem pensar muito, pulou no colo daquele por quem tivera tantas fantasias românticas por anos a fio, e se permitiu sentir seu cheiro de perto.
- Eu cheguei a pensar em mil formas de te fazer admitir que me adora. Mas até que não me esforcei pra isso. - disse entre sorrisos sinceros - Eu também te desejo e preciso de você como você precisa de mim, Vegas. Você sabe que eu te adoro.
Sentiu o abraço se intensificar e um suspiro de alívio do outro ao ouvir tal resposta.
- Ah, Pete. Eu te amo.
Seu coração transbordou ao ouvir as três palavrinhas da boca de Vegas, e não se conteve:
- Eu também te amo, você sabe.
E a noite chegou, marcando o início de uma nova vida aos jovens amantes, que permitiram prender-se as regras, tentações e alegrias do amor por longos anos.

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