Coração Radiante.

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— Vee, te vejo depois da aula? 
Pete disse e Vegas não deixou de notar o lindo sorriso do garoto. Sem hesitar, concordou com a cabeça e ouviu o outro perguntar:
— Nos vemos no lugar de sempre, então? 
— Claro. Te espero lá. - Vegas disse por fim e viu Pete se distanciar, indo em direção a última aula que teriam no dia. 
Vegas e Pete eram bons amigos que se conheceram ali mesmo, na universidade, quando ainda estavam no primeiro ano. Não sabiam bem como conseguiam manter aquilo se eram tão diferentes um do outro, mas parece que a vida tem dessas. Foi tudo muito natural, Pete foi um amor de pessoa ao ajudar vegas a achar o departamento onde ficaria por cinco longos anos, e esse decidiu retribuir a ajuda convidando-o para um almoço naquele mesmo dia. Desde então, mantiveram esse sentimento mútuo de amizade por quase cinco anos, em pouco tempo conseguiriam seus diplomas e seguiriam com suas vidas e carreira que escolheram. De certa forma, o pensamento de que tudo o que viveram até ali pudesse se esvair assim que terminassem suas graduações fez com que algo murchasse dentro de Vegas. Mas que se dane, estava pensando demais. 

O que o jovem pensador não sabia era que os mesmos questionamentos invadiam a cabeça de Pete ultimamente, tirando toda a sua paz de espírito. Por mais que desejasse, não conseguia parar de imaginar sua vida sem Vegas tão repentinamente. Talvez estivesse sendo dramático, não era como se ele fosse morrer, no entanto. Mas sabia que com as novas responsabilidades que chegariam, eles raramente poderiam se ver dali em diante. E essa ideia o fez chorar por dentro. 
Era quase impressionante o orgulho que cercava os dois, que nunca cederam admitir o que realmente sentiam um pelo outro, a verdade é que o medo de não ser recíproco e acabar com uma amizade tão importante os fazia dar meia volta e desistir de confessar. Não sabiam exatamente o motivo que os levou a amar verdadeiramente um ao outro, ou quando tudo isso começo, o fato é que ambos se entendiam, se amavam, e isso estava mais do que claro. Saber reconhecer seus defeitos e acolhê-los, notar suas qualidades e exaltá-las não é tarefa fácil, nem pra qualquer um, e os dois sabiam fazer isso muito bem. Talvez fossem só dois bobos que viveriam nesse doce sofrimento até que não aguentassem mais. Esqueciam que não dá pra viver, querer e não poder tocar na pessoa amada, desejada. Era tortura. 

E, pelo visto, a vida não planejava que mantivessem esse impasse por muito tempo. 

Já passava das duas da tarde e Pete se perguntava o que diabos estava acontecendo com Vegas pra ter se atrasado tanto. Esperava por ele há quase uma hora. Distraído enquanto praguejava baixinho planejando formas de matar o homem assim que o encontrasse, não viu esse que se aproximava, com cara de quem sabia que estava errado (e fodido) nas mãos do amigo. 
— Ei, Pete! - ouviu a voz de Vegas ao seu lado. 
— Ah, o querido lembrou que eu existo? Eu te esperei por uma hora. Onde você estava? - disse em um tom não muito agradável e com um olhar fulminante na direção do outro. 
— Eh, eu sinto muito, e vou explicar, amor. - Pete só pode esperar a explicação de Vegas, mas derreteu como gelatina com o apelido carinhoso que ouvira. Achava que era jogo sujo do outro pra tentar abaixar sua guarda. Vegas o chamava assim há mais de dois anos, e sua nuca arrepiava até hoje. Não era bom pra sua cabecinha, ele sentia coisas quando ouvia aquilo, principalmente vindo de Vegas. Balançou a cabeça numa tentativa de esquecer o apelidinho e lembrar da raiva que estava sentindo. 
— Então? Estou ouvindo. - Pete disse, finalmente. 
— Eu estive ocupado organizando uma surpresa para alguém de quem venho gostando, um alguém especial. Por isso me atrasei, desculpa, Pe. 
Pete não sabia exatamente como reagir àquilo. Era a útima coisa que esperava ouvir de Vegas, e, no entanto, ali estava ele, absorvendo cada palavra. Como ele não notou que seu amigo (era mesmo só um amigo?) estava interessado em alguém? Ou melhor, por quais motivos Vegas não disse nada para ele esse tempo todo? Quem era a pessoa? E sua cabeça de repente se viu cheia de questionamentos, sentiu seu estômago contrair e o coração murchar. Ele não acreditava que poderia morrer de coração partido, e então se viu destruído. E por alguém que tanto amava. 

Pete sempre imaginou que eles poderiam levar a vida agindo como dois idiotas que não tinham coragem de confessar o quanto se amavam, por mais que já estivesse claro em suas atitudes. Mas com a confimação de que seu amor estava com outro (será mesmo?) amor em seu coração o fez murchar internamente, até secar. Talvez tudo aquilo não passasse de uma boa amizade para Vegas, no fim. Talvez Pete tenha demorado para agir e confessar de uma vez. E se ele tivesse feito diferente, será que Vegas aceitaria? Agora, o gosto amargo do arrependimento veio com força sob si, e perdeu o equilíbrio, sendo logo segurado por braços que conhecia bem. 
— Pe, está tudo bem? - Vegas disse quando notou o estado de Pete. 
— Está, sim. - disse com dificuldade e voz trêmula. Estava prestes a chorar, ele podia sentir. 
Mas Vegas não acreditou, o conhecia muito bem para saber quando estava mentindo, e sabia que o garoto em sua frente beirava um ataque. Não conseguiu entender o motivo de tudo isso, mas o trouxe para perto de si, o abraçando com ternura. E ouviu a sua voz falhada perguntando: 
— Quem é a pessoa? Eu conheço? É legal, bonita? 
— Ei, Pe. Calma, você vai saber, eu prometo, e ele é perfeito, sim. Agora foca no meu abraço, tenta ficar calmo. Você parece quase em pânico. 
E Pete, já derramando mais e mais lágrimas, apertou-se nos braços de Vegas, deixando sair tudo o que estava sentindo. 
— Você não está nada bem, vamos deixar o almoço pra depois, eu vou te levar ao seu apartamento. 
Pete sentiu Vegas segurando-o firmemente. E deixou ser conduzido até o carro do outro. Foi colocado no banco do passageiro e não deu atenção ao caminho que percorreram até que chegou em casa. Vegas cuidadosamente tirou-o de dentro do carro e o levou até o apartamento. Ao chegarem na porta, Pete levou a mão ao bolso e tirou a chave para abri-la, esquecendo que Vegas também tinha a sua, mas não pareceu tentado a abrir.

Assim que deu o primeiro passo para dentro de casa, percebeu algo estranho. O ambiente, que deveria estar escuro, apresentava uma certa claridade pela presenças de fracas luzes ao fundo da sala. E, como um bom curioso, andou naquela direção, acompanhado por um Vegas nervoso e desesperado. Ao chegar no lugar, seu coração quase errou uma batida. Não era o que ele estava imaginando, era? 

O garoto então voltou a realidade ao sentir um leve aperto em sua mão esquerda. Era Vegas. Ele virou seu rosto na direção do homem e viu quando este tirou do próprio bolso uma caixinha com um anel prateado. 
— Pete, lembra do alguém especial que te falei? Eu decidi que não iria mais enconder isso, sabe o quão difícil é pra mim te desejar o tempo inteiro? Sabe o que é querer tanto alguém e não poder tocá-lo como quer? Eu quase enlouqueci! Deixei esse sentimento guardado comigo por tanto tempo, que nem percebi que eu poderia te perder pra outra pessoa se continuasse assim. Eu tinha medo, e estou com medo agora, mas eu não posso passar por cima do que sinto e correr o risco de te perder. E mesmo que aconteça, eu sairei de consciência limpa por ter tido coragem de falar o que se passa no meu coração. Eu te amo, Pete. Eu quero você só pra mim, como as ondas são do mar. Então, se você sente o mesmo por mim, namora comigo? 

Pete estava sem palavras. Não conseguia acreditar, ele, que sempre sonhou com esse momento, não sabia o que fazer. Estava nas nuvens, ou melhor, no paraíso. Vegas definitivamente o pegou de surpresa, e por um momento Pete se sentiu um tolo por pensar que outra pessoa (que não ele) fora capaz de laçar o coração do ami- espera, amigo? Então a realidade se mostrou vívida para o jovem, que, com o coração radiante, deu um sorriso divino e abraçou Vegas o mais apertado que pôde. Lembrou-se que não respondeu a pergunta do outro, e teve que segurar a felicidade (e vontade de agarrá-lo ali mesmo) para aceitar o pedido. 
— É tudo o que eu mais quero e preciso, Vee. Ah, cacete, eu te amo pra caralho. 
E, tomando os lábios do agora namorado com desejo e fervorosidade, pete sentiu a mais genuína felicidade tomar seu peito. E o mais novo casal se permitiu, finalmente, desfrutar o doce gosto do amor que seguraram por tantos anos, naquela linda tarde no apartamento que compartilhavam há um tempo. 

No ritmo desses sons. Onde histórias criam vida. Descubra agora