You talk of the pain like it's all alright

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A torre de astronomia é o local dentro do castelo, mais isolado do resto do castelo em si. É uma torre alta, a mais alta da enorme construção. Ela tem uma grande varanda, um enorme telescópio e diversos murais feitos de pano, o tecido tendo sido costurado para parecerem constelações.

É definitivamente meu lugar favorito de Hogwarts. É afastado de tudo e todos, mas, mesmo assim, você consegue sentir a magia que esse lugar transpira, e, de quebra, ainda proporciona um por do sol belíssimo, com a vista pra floresta proibida.

Costumamos ter alguns encontros aqui, agora que eu e Regulus já estávamos a alguns meses próximos de verdade. Ainda não somos namorados, mas sinto que nossa conexão já é essa, melhor falando, nossa conexão é maior do que essa.

Sinto que conheço a alma dele, e ele conhece a minha. É algo tão puro e honesto, que apenas de perceber ele entrando no ambiente o meu corpo todo fica feliz, alegre, contente. Mas eu não sinto mais aquela ansiedade de antes, meu coração batendo rápido. O que eu sinto é diferente, sinto conforto. Sinto como se Regulus fosse uma lareira quente numa noite de inverno fria. Ele me traz aconchego, com ele, sei que posso estar tranquila, ser quem sou. Ele é a calmaria em meio a uma tempestade.

Ele é sempre calmo, silencioso, quando está em público, nunca fala, prefere ficar quieto. 

— Não tenho nada a dizer, e ninguém tem nada a escutar. — Me disse uma vez.

Mas eu sempre tinha que escutar, eu sempre queria escutar.

E as vezes o escutar não significava ouvi-lo falar, ouvir sua boca se mexendo. As vezes o escutar era só sentarmo-nos em silêncio, um do lado do outro, na beirada da torre ou debaixo de uma árvore. E passamos horas assim, ouvindo somente a respiração um do outro. As bocas fechadas mas os corações e mentes abertas, era como se estivessémos tendo um milhão de conversas ao mesmo tempo.

Achei que hoje seria um desses dias, e eu não achava ruim. 

Sentei-me na beirada da torre, coloquei as pernas pra fora, balançando no vento e debrucei-me sob a parte inferior do corrimão, que fica logo na altura do peito.

Regulus imitou meu gesto, sentando-se ao meu lado e dando uma respirada funda, deixando o ar fresco invadir seus pulmões, seu rosto estava sereno, apesar de marcas claras de exaustão e olheiras intensas.

— Você dormiu, Regulus? — Questionei preocupada, levando a mão ao rosto do garoto em minha frente e passeando os dedos por seus cabelos, as curvas caiam sob sua testa suada pelo jogo.

— Dormi, sim, em várias noites de minha vida. — Ele respondeu em ironia, dando um sorriso zombeteiro.

— Você dormiu essa noite? —Perguntei, o moreno ignorou a pergunta e voltou-se para o horizonte. —Regulus! — Exclamei, agarrando seu braço. 

Instantaneamente ele reagiu, puxando o braço de volta, como se eu tivesse acabado de lhe dar um choque. Ele me olhou com os olhos arregalados e colocou o braço por trás do outro.

Pisquei algumas vezes e me afastei um pouco em defesa, encarei-o sem reação, minha boca abriu e fechou, sem encontrar palavras.

— Desculpe. — Murmurou, respirando fundo e me encarando, com as sobrancelhas franzidas. — Acho que machuquei o braço na queda, não estava doendo antes mas agora está latejando e...

Puxei seu braço novamente, instantaneamente levantando a manga de sua camisa comprida, Regulus tentou puxar o braço novamente, mas não foi rápido o bastante para que eu não tivesse visto.

Um espaço negro em seu antebraço, que subia em curvas pretas e que eu reconhecia bem, pois fui ensinada a teme-la.

Me afastei de supetão, tremendo, de olhos arregalados. Regulus me encarou com a boca entreaberta e os olhos se arregalaram enquanto eu dava um pulo me afastando, então, sua expressão se acalmou, e seu rosto assumiu uma neutralidade impassível, ele estava calmo demais.

Midnight Rain ||| Regulus BlackOnde histórias criam vida. Descubra agora