com amor, Theodore

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Ela me afetava. Não de uma maneira boa. Nunca de uma maneira boa. O suficiente para me privar o sono, o apetite e o sorriso.

Ela me feria com palavras, olhares e atitudes. Zombava de mim, de meu irmão doente e de minha mãe problemática.

Alegava para as visitas que um vilão abusava de sua hospitalidade. Discursava fervorosamente que algo vivia sob seu teto e comia de sua comida. Ela não sabia o quê. Era eu.

Suas mãos nunca envolveram-me num abraço. Mas as minhas sempre agarravam-se aos seus espinhos. E sangrava. E doía. Eu, tolo como era, recusava-me a abrir mão daquilo. Um contato vazio e fadado ao fracasso que eu não permitia que escapasse.

Seu sorriso de escárnio a respeito de minhas mazelas era cruel. Seu diálogo escasso, seu destrato e suas acusações infundadas viravam-me do avesso.

Suas mãos cortavam-me com tesoura cega e mergulhavam-me em alvejante, transformando-me num retalho irregular e desbotado. E em seu olhar havia uma fome. Uma fome por destruição. Por destruir-me.

Então a cortina era erguida e uma máscara cobria-lhe o rosto. De vilã à vítima em não mais que alguns segundos. O dedo em riste, apontando-me o peito. Os lábios espremidos. O olhar temeroso. A expressão desapontada. E a plateia, compadecida de seu teatro, atacava-me e gargalhava com o resultado. Meu corpo saía de cena, mas a minha alma recusava-se a sair do palco. O cheiro de frutas em decomposição causava-me náuseas, mas eu recusava-me a apressar o passo à água corrente. O riso cessou. O deles. O dela. O meu.

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