cicatrizes sob argila

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O cabelo dele havia crescido. Foi a primeira coisa que notei ao vê-lo. E havia uma mecha generosa de cabelo tingida de roxo, no mesmo tom vívido que carregava a pulseira que eu colocara no pulso direito há 7 meses.

Seus olhos focaram em mim, e o órgão traiçoeiro que eu carregava no peito acelerou. Eu quis sorrir, ir até ele e engatar uma conversa, mas haviam pessoas demais à sua volta. Contentei-me em piscar uma, duas vezes, girar o macramê em meu pulso e dar-lhe as costas. Um movimento simples, mas doloroso. Ao menos para mim.

Algo vibrou em minha bolsa, meu aparelho celular. Há quanto tempo aquilo não acontecia? Agarrei o retângulo azul petróleo em mãos, esperançosa de que aqueles a quem eu atribuí o título de amigos, não houvessem, de fato, esquecido da minha existência. Mais uma vez, constatei o óbvio. Nenhuma mensagem. Tampouco uma ligação. Na tela estava a comprovação de que eu não era especial, de modo algum. O apelido que eu dera a ele estava ali, acompanhado de um coração vermelho. Ele ainda tinha o meu contato?

Continuei encarando o dispositivo, que já exibia a terceira chamada. Não ousei olhar para trás. A mágoa transbordou em formato de lágrimas e eu vi que era hora de sair de cena.

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