A busca pela bruxa acabava de ter início, com tochas para iluminar o caminho escuro e armas de fogo engatilhadas em mãos, dez homens trajando suas fardas militares de campo seguiam assustados a liderança de alguém que parecia extremamente confiante de cada passo que dava pela grande floresta que cerca o vilarejo onde vivem. Adam era essa pessoa e seguia olhando para todos os lados, tendo a certeza de que não estava sendo seguido por ninguém além dos seus companheiros de caçada, que tentavam não fazer barulho, mas sem sucesso. Nada parecia mais certo do que caçar uma bruxa, filha do Diabo, em uma noite clara de lua cheia, "será irônico" lhe disse o general quando recebeu as informações da sua missão antes de sair. Seu único objetivo era encontrar a casa onde a bruxa se escondia, prendê-la e levá-la inteira até o general para seu julgamento, nada muito complicado, afinal era só uma mulher solitária que vivia na floresta e se deitava com o demônio, essa parte preocupava um pouco a mente de Adam, mas ordens eram ordens e ele nunca as descumpria. Para Adam essa missão era um insulto aos seus anos de carreira militar e habilidades conhecidas por toda a colônia, mas era a vontade do general contra a sua e o general sempre vencia.
A noite estava clara, sem nuvens, repleta de estrelas e uma lua brilhante iluminando o caminho e, baseando-se nisso, Adam podia dizer que estavam indo em direção ao norte da floresta, onde os boatos diziam que a bruxa fazia residência permanente. Não se ouvia nenhum barulho da floresta, só o vento passando ligeiro pelas copas das arvores, os animais tinham escolhido se esconder com a aproximação da pequena tropa de soldados que seguia com a respiração pesada e cansada, fazendo barulho com suas botas em contato com o chão desregular da floresta. Até que, inesperadamente, por toda a extensão do ambiente pode se ouvir um som que gelou a espinha de Adam e seus companheiros, era um rugido gutural de uma onça parda que ecoou como um grito de guerra e não demorou muito para o grupo de onças pardas aparecer das sombras, rodeando lentamente os dez homens, seus olhos animalescos, brilhando por causa do fogo das tochas, pareciam avaliar cada respiração e movimento que os homens faziam. Não demorou e um dos homens decidiu atirar em uma das onças e Adam pode vislumbrar uma batalha sangrenta se iniciar, animais contra humanos. Os homens podiam ter belas armas carregadas, mas a visão de um animal gigantesco como aquele a poucos metros de si fez com que a coragem dos soldados vacilasse em segundos e apenas esse segundo desatento em uma batalha significa a morte certa, o simples emperrar da arma ou um respirar muito longo fez com que Adam, que lutava bravamente ferindo e matando o máximo de onças possível, visse um por um dos seus companheiros serem mortos impiedosamente, estraçalhados e devorados pelos dentes afiados dos animais, não importando o quanto lutassem ou quantas onças matassem, sempre apareceria outra para finalizar a caçada e elas eram insaciáveis, rasgando a pele frágil dos homens com suas garras, sem vacilar ou pensar. Adam se viu só com um trio de onças e em um impulso inconsciente para se salvar, correu o máximo que pode de forma desesperada, mas acabou sendo encurralado, de um lado havia um rio traiçoeiro e corrediço e do outro uma onça parda marrom acinzentada de quase dois metros de comprimento e um peso de mais ou menos 70 kg. Ela aparentava estar furiosa, seus olhos brilhavam com a luz da lua e, se Adam apostasse, apostaria que em seu olhar viu satisfação pela presa fácil, de seu focinho escorria o sangue de seus companheiros e com um rugido ameaçador a onça dá indícios que vai atacar, Adam aponta sua arma pronto para atirar, mas ela emperra e com um pulo a onça derruba Adam na beira do rio, deixando sua cabeça afogando na forte correnteza e seu corpo em terra esmagando com o peso do animal, é quando Adam está quase desmaiando afogado que a onça cravou seus dentes afiados seu ombro esquerdo.
Adam sente a pior dor que já sentiu na vida, a pele rasgando em diversos pontos, dilacerando, ele grita de forma sufocada dentro da água que corria e desesperadamente tenta buscar com o braço direito livre sua faca que estava escondida na sua casaca e assim que consegue alcançá-la a crava repetidamente pelo corpo da onça, onde ele conseguia debilmente alcançar. O corpo do animal cai em cima do seu corpo indicando que ela morreu, seu peso em cima de Adam era enorme, a água entrava pelas suas vias respiratórias e a quantidade de sangue que Adam perde o impede de se salvar do sufoco em seus pulmões, ele acredita que são seus últimos momentos em vida, aos poucos enquanto apaga, vai se despedindo mentalmente daqueles que cresceu junto e pedindo perdão aos que morreram por sua causa. Subitamente sente seu corpo ficar mais leve e ele é retirado da água, o ar invade seus pulmões cansados e uma luz oscilante adentra seus olhos fazendo-o conseguir aos poucos enxergar uma figura tremeluzir acima de si.
- Não se preocupe. -Disse calmamente uma doce voz feminina. -Eu lhe ajudarei, mas deve aguentar firme.
-Por favor. -Adam roga perdendo sua consciência. -Apenas não tire minhas vestes. Deixe-me morrer.
A figura toca delicadamente seu ombro, onde a onça o tinha atacado e a dor volta de forma excruciante, a última coisa que consegue ater-se antes de desmaiar, é do assovio fino e longo da figura desconhecida.
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A Bruxa
RomanceAdam não estava preparado para o que encontraria durante sua caçada à bruxa que vivia na floresta. Um grupo de animais ferozes encurrala seus homens e ele se vê entre a vida e a morte. Ele só não esperava que fosse salvo pela mesma bruxa que caçava...