A Bruxa

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 O sol estava extremamente forte, não tinham nuvens o suficiente no céu, e fazia com que Adam, com o uniforme pesado e quente, suar como um porco, não aguentou nem quinze minutos em baixo do sol com sua casaca e a retirou deixando na grama verde, o processo para retirar a pele do animal era longo e ele sabia que com aquelas roupas acabaria desidratado rapidamente, ele só tinha concordado com o trabalho braçal simplesmente para conquistar a confiança da moça, podendo assim surpreende-la e sequestrá-la sem lutas, não tinha absolutamente nada a ver com o encanto que a bruxa tinha, ou seus belos olhos. Adam balançou a cabeça e focou no trabalho. Tinha encontrado a onça deitada de frente para o belo jardim, em volta de suas orelhas uma pequena coroa de flores repousava e o sangue havia sido limpo de sua pelagem. Adam passava a faca e gentilmente, assim como a bruxa o havia solicitado, abria a onça e retirava sua pele, um processo delicado, mas que tinha aprendido a fazer no quartel em seu treinamento para emergências e situações extremas. Não sabia quanto tempo havia ficado ali, mas percebeu que muito tempo havia se passado quando sentiu uma mão tocar gentilmente seu ombro bom, o que o fez olhar para trás, o sol já havia ultrapassado seu pico, e ele podia ver a bela bruxinha com um pequeno sorriso.

-Eu trouxe uma tábua, para colocar a pele para secar. -Disse Lúcia simplesmente. – Eu posso fazer isso enquanto retira a carne dela.

-O que mais quer tirar dela? -Pergunta Adam irritado, não pela onça, claro, mas pela situação irritante de continuar recebendo ordens de uma moça tão improvável. -Não acha que é o suficiente a esfolar para seu bel prazer? Não acha um pouco cruel arrancar cada pedaço que faz dela quem ela é? Devíamos enterrá-la e acabar de vez com seu sofrimento e o meu.

-Sinto muito que sua culpa tenha o atingido só agora, mas devia ter pensado nisso antes de entrar na floresta em época de acasalamento, devia ter pensado nisso antes de invadir o local onde as fêmeas estavam cuidando dos novos filhotes, devia ter pensado nisso antes de quase se matar, matar seu pelotão e a pobre onça que estava apenas protegendo sua família. -Lucia dizia de forma furiosa encarando Adam nos olhos, as mãos sobre a curva da cintura, as sobrancelhas quase juntas. - Não descarregue sua culpa em quem está apenas tentando sobreviver. Eu não tenho a possibilidade de ir a vila sempre que eu preciso de um cobertor, não posso ir até ao padeiro quando eu preciso de pão ou passear tranquilamente até o açougueiro quando preciso de carne, eu luto todos os dias para sobreviver simplesmente porque a religião de vocês não me aceita como sou e penso, não aceita o avanço e a voz de uma mulher. Então guarde suas frustrações e rancores para si mesma, pois eu já tenho os meus.

Lucia pegou a pele da onça das mãos de Adam de forma furiosa, jogou uma cesta no gramado e deixou Adam para trás, com uma onça sem pele e uma raiva crescente. "Quem essa mulher pensa que é?" pensava Adam "e por que a deixo gritar comigo dessa forma sem respondê-la? Ela devia se submeter aos meus pedidos! Mas vou permitir, pelo menos até eu conseguir fugir e de preferência, levando uma bruxa na bagagem."

Após retirar toda a carne da pobre onça deixando apenas os ossos, o que lhe custou pelo menos uma hora, Lúcia volta com uma bolsa e um belo sorriso no rosto pegando a cesta, agora cheia com a carne e leva para dentro da pequena cabana, que Adam poderia ver agora que era feita de madeira coberta parcialmente de musgo, com muitas vinhas subindo suas paredes, uma chaminé de pedras e parecia se esconder muito bem ao ambiente, voltando logo depois com uma bolsa de couro escuro pendurada em seu ombro.

-Levante-se Adam. -Diz Lucia com um olhar divertido, aparentemente as horas em que Adam ficara em silencio a haviam acalmado e melhorado seu humor. -Seu cheiro pode ser sentido a uma distância considerável, acredito que logo os urubus se acumularão nas arvores esperando sua morte. Então é hora de se banhar, vou lhe mostrar onde, só precisa me seguir.

Adam levantou-se sem dizer uma palavra, ainda estava irritado com a pequena figura feminina lhe mandando e desmandando o tempo todo, mas tomar um banho parecia uma opção razoável, já que se sentia muito sujo, Lúcia logo percebeu o ultimato de silencio que Adam estava lhe oferecendo, com uma feição muito emburrada, e com uma risada calorosa começou a jornada até o local para o banho. Adam quase lhe perguntou o porquê estarem entrando na floresta para um simples banho, sendo que tudo que devia ser feito era ir até um poço próximo, pelo menos era o que faria na vila, mas aparentemente não era o que a bruxa faria.