༶𖥔 ࣪ ♡ ‹𝘈𝘯𝘫𝘰 𝘦 𝘋𝘦𝘮𝘰𝘯𝘪𝘰 ⊹ 🥂𓄹 ࣪ ۰

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Song: Hurts Like Hell - Fleurie

"Eu não quero que eles saibam os segredos, eu não quero que eles saibam o jeito como eu amei você. Eu não acho que eles entenderiam isso, não. Eu não acho que eles me aceitariam, não"

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Havia um demônio, velho demais para aquele mundo. Ele caminhava entre prateleiras altas e sucumbidas pelo tempo, tudo aquilo empoeirado como se há anos não houvesse alguém para zelá-la. Os quadros antigos, com pinturas já sem cor alguma - revelando-se sob a névoa de poeira que levantava quando Crowley se arrastava sobre o tapete persa. Tudo havia sido deixado para trás, como um mausoléu. Os candelabros, esses eram de um charme a parte, acesos sobre mesas de canto. - Era uma bela mistura da era vitoriana com alguma coisa dos anos 1950, e Crowley admitia gostar da junção.

Nas prateleiras haviam exemplares mais antigos que construções históricas e ideais mais próximos de um futuro apocalíptico - Guerras sendo travadas e Ragnaröks sendo dissertados. As mais diversas literaturas e maluquices que se pode imaginar, ali situavam-se. Soava até como uma enorme enciclopédia de fatos e ficções que outrora fizeram sentido ser postas no papel como verdade.

Quanta tolice histórica, Crowley pensara, enquanto vagava seus olhos curiosos por todo o salão.

As janelas, embaçadas pela poeira, se estendiam por todo o salão, junto delas, as cortinas em cores angelicais e leves - diferente das mesas escuras em mogno preto reluzente e os tapetes de cores frias. Tudo parecia um contraste estranho entre a cor creme do carpete com o laranja bruxuleante do ambiente - causadas pelas luzes de lamparinas velhas. Tudo combinava, apesar de empoeirado e velho, mas nem tudo parecia fazer parte da decoração. Ao fundo, havia uma pintura antiga - "A Queda", mostrando os anjos quando caíram no combate entre Lúcifer e o Arcanjo Miguel. Crowley fez uma careta desgostosa, pois claramente se lembrava do maldito dia.

Mais ao longe, entre uma prateleira e outra, encontrou uma estátua já amarelada por falta de cuidados, junto dela havia um pequeno livro com uma xícara em cima - um bilhete grudado nas asas quebradas "Bom café, Sr. Fell" e uma carinha feliz. Crowley olhou aquilo confuso, e agarrou o pequeno bilhete para si.

Caminhou mais um pouco, e a cada passo, as estantes pareciam crescer e se multiplicar, e as cores bruxuleantes iam divagando sobre os cabelos ruivos e o tom de sua pele como se fizessem parte do conjunto e velho de móveis.

Crowley era uma serpente velha mesmo...mas fazer parte da decoração, olhando desta forma, era o que o deixava ligeiramente curioso. Tudo ali, absolutamente tudo, fossem as cores estranhas do ambiente ou como os livros estavam organizados - numa ordem estranha e um tanto religiosa demais. Ou fosse o estranhamento de se sentir em casa, em meio a livros! Mas Crowley sabia que não eram só os livros que o faziam se sentir daquela forma, havia algo a mais que se escondia naquela camada grossa de poeira e velharias pré-histórias. O seu senso demoníaco nem apitar apitava, pelo contrário! Seus ombros jamais forma tão relaxados.

Era o ar rarefeito de uma velha lembrança.

Crowley, o demônio, era a definição de que rastejar não era coisa de cobra. Ele sempre gostou de olhar de cima - mesmo que tenha caído - Pois afinal, só andara com a gente errada. Ele ainda pensa muito sobre isso, na possibilidade de ainda dançar sobre as nuvens no céu, se ele seria o mesmo, se ele amaria como ama...se sentiria o que sente, e se olharia para si mesmo como olha agora, tão destruído e distante de tudo o que lhe fazia bem.

Only Angel | AziracrowOnde histórias criam vida. Descubra agora