agosto

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faz tempo que não nos falamos, acho.
pra mim sua estrutura um dia queimada em chamas, destruída em pó, se tornou ao menos bonita novamente. não sei porque, nem em que sentido. porém, quando te visualizo você está inteira novamente. parece até ter sido construída de tijolos em vez da madeira velha. parece que dentro já não habitar o mesmo garoto frágil que um dia chorou no cobertor do quarto escuro. dentro há de haver um novo papel de parede, um novo quadro e até uma nova mesa. sua sala parece, parece... ventilada? sim, isso mesmo, está mais ventilada. e isso tudo me faz acreditar que é por Ele (odeio que eu tenha que escrever com o E maiusculo) não habitar mais dentro de você. dentro só ficou a memória, e sabe como é né? ela, a memória, ficou guardada naquela última gaveta do guarda roupa do quarto de visitas, isso mesmo, o quarto que ninguém mais entra. ah, mas claro que ela ainda existe, se não existisse memória você nem estaria mais em pé. a diferença agora é que não é a memória dEle que prevalece; é a minha memória. a memória de quem te criou, te amou de verdade, acreditou que tudo ia dar certo e cultivou a árvore no quintal. a árvore cresceu e vive bem no meu novo quintal, se te importa a existência dela. isso tudo porque agora não vivo mais por Ele, nem pela ideia do que um dia Ele teve de mim. vivo para consertar o estrago que um dia me fiz permitindo ele entrar em você. vim aqui pra te prometer que voltarei um dia. voltarei para pintar as suas paredes de uma nova cor, tirar todas suas teias de aranhas, arrumar uma sala nova e uma varandinha ainda mais linda do que um dia foi. e posso até voltar com alguém, que não seja Ele, mas sim ele. obrigado pela paciência e desculpa pela bagunça que te fiz um dia.

do seu querido, ex morador da casa 10.

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