capítulo 3

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Só queria dormir em paz, mas a paz não foi feita para pessoas como eu.

Arranjei uma desculpa qualquer para não prolongar o jantar na casa da Srta. Calvin Klein. Ela ainda tentou me empurrar uma taça de vinho, mas neguei e fiquei só com a torta alemã que havia preparado mais cedo. Estava uma delícia. Sério, a doida cozinha muito bem. Ela fisgaria qualquer mulher pelo estômago se não tivesse a capacidade de fisgá-las por outras partes do corpo.

A primeira noite dormindo sozinha na minha casa foi bem esquisita. Não consegui pregar o olho direito, pois estava estranhando tudo. As sombras do meu quarto escuro, o colchão novo, e duro demais para o meu gosto, o cheiro, os ruídos (ou a ausência deles). Não estava acostumada a dormir em meio a tanto silêncio. Liguei a TV em um volume baixo para ver se melhorava, mas ainda assim tive dificuldade para dormir.

Vi o sol nascer e um galo cantar bem distante, e então consegui dar um cochilo. Não foi grande coisa, visto que precisava me acordar exatamente às sete horas. Não podia me atrasar para ir ao trabalho, visto que o meu chefe era um porre com relação aos horários.

Adorei acordar e não ter que esperar uma fila enorme para conseguir tomar um banho. Consegui me arrumar em menos de meia hora, coisa quase impossível na minha antiga casa. Meu irmão demorava horas se masturbando logo pela manhã no banheiro, a minha irmã dava banho na minha sobrinha, mesmo podendo fazer isso mais tarde, pois é uma desocupada que não trabalha e só sabe falar mal dos outros, a minha avó inventava de lavar a sua dentadura e os meus pais ficavam gritando ordens feito loucos enquanto faziam o café da manhã.

Um inferno na terra.

Não me importei com o fato de não ter conseguido dormir quando saí de casa quinze minutos mais cedo do que o normal. Atravessei o jardim com um sorriso enorme estampado no rosto. Não havia comido nada, mas, por incrível que pareça, ainda estava satisfeita com o nhoque do dia anterior. Sabia que teria fome mais tarde,

por isso decidi ir atrás de algum mercado ou padaria por conta própria.

- Bom dia, vizinha! - A voz do Calvin me assustou, tirando-me dos devaneios. Eu estava prestes a abrir a portinha da frente. Olhei para os lados, fazendo caretas, mas não encontrei a sujeita em parte alguma.
-Aqui, ao lado da roseira!

Espremi os meus olhos e a procurei pelo jardim. Havia uma roseira (que dava rosas vermelhas, um luxo!) perto do muro gradeado, no extremo esquerdo do terreno. Vi a safado do 105 empunhando uma tesoura enorme. Ela estava cortando alguns galhos da roseira, eu acho.

- Bom dia, vizinha! - Saudei, sentindo-me um pouco envergonhada. Por incrível que pareça, Calvin estava vestida com uma bermuda bem recatada e uma camisa de manga comprida. Nunca a tinha visto tão vestida.

Tudo bem que estava fazendo um frio bem gostoso àquela hora da manhã, mas achei que a pele dela tivesse desenvolvido características da pele de um jacaré, e andasse parcialmente nu durante vinte e quatro horas por dia.

- Você está muito gata... Toda importante e inteligente. Bom dia de trabalho!

Corei de imediato. Precisava me acostumar, precisava me acostumar, precisava me acostumar...

- E você? Não vai trabalhar?

- Pego mais tarde. - Piscou um olho. Quase morri.

Não soube dizer se ela tinha dito que pegaria no trabalho ou se pegaria outra coisa, só sei que dei um "tchauzinho" tímido e decidi voltar à normalidade da minha rotina. Aquela sim não mudaria.

Achei uma padaria bem na esquina, e comprei algumas coisas. Havia um supermercado no outro quarteirão. Passaria por lá depois do expediente, não queria me atrasar logo no dia que consegui sair cedo de casa. Cheguei à empresa na hora exata. Até achei um lugar vago no estacionamento sem precisar procurar muito. Uma maravilha!

A safada do 105 (Versão Simoraya)Onde histórias criam vida. Descubra agora