Hematoma

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— Anita, meu pai não atende o telefone, acho que não tem jeito mesmo, vou ter que ir até em casa busca-lo. - Diz Camila, após dez minutos de tentativas de ligação frustradas, colocando o celular no bolso de sua saia.

— E ao julgar pelo humor da diretora seria melhor que você fosse e voltasse rápido, ela já deve estar terminando a conversa com aqueles três na sala dela. - Digo encarando a mesma que assente.

— Você pode ficar aqui até eu voltar? - Diz transferindo seu olhar para o irmão esparramado em um dos bancos na arquibancada. Alheio de nossa conversa, segurando o gelo de forma desajeitada sob os machucados em seu rosto.

— Claro, acho que pode ser mais empolgante do que a aula de Física, cansei das teorias defasadas sobre viagem no tempo do professor. - A mesma sorri e eu acrescento. - Vai tranquila, amiga.

— Não precisa ficar! -Diz Fabricio de onde estava.

Seu mal humor era evidente, também, não poderia ser diferente, praticamente levara toda a culpa pela briga que provocou, a diretora só estava esperando seu pai chegar para dar o veredito final. E pela cara dela ao deixar a quadra, eu poderia chutar... um mês de suspensão pro Fabricio.

— Boa sorte, ai. - Diz a Camila como se largasse uma bomba comigo antes de sair em direção ao pátio.

— Que diabos fizeram com o seu rosto, hein? Parece um peixe morto depois de ser atropelado por um caminhão. - Digo encarando Fabricio que revira os olhos com dificuldade.

— Acho que você já descreveu bem, o que foi, olhar para o estrago não é suficiente? -Diz debochado enquanto eu me sento ao seu lado, o mesmo permanece deitado fitando o teto da quadra, havia algumas bolas esquecidas ali, distribuidas por toda a estrutura.

— Isso porque você começou, não é? Então, não se faça de bobo. Sabe, eu esperava uma desculpa decente...  Mas, daí dizer que estava defendendo o Douglas por ser o corno da cidade? Fala sério.

— Olha o ciúmes. - Ele zomba. — Defendi Douglas porque agora somos amigos, não precisa se preocupar. - Ele pisca com o olho inchado, e como num reflexo, uma expressão de dor e arrependimento pelo próprio gesto. — Ai!

— Carma instantâneo por falar besteira, bem feito. Pode me falar a verdade, Fabricio, essa confusão toda tem alguma coisa a ver com a Camila? Aqueles idiotas falaram alguma merda sobre ela? Só pode ser, e se for...

O mesmo me interrompe.

— Vem cá, o que você tem a ver com tudo isso, Anita? - Diz seco.

— S-somos amigos, não é? Só quero te ajudar. - Dou de ombros esperando que ele apenas aceite essa resposta. No fundo eu não queria que ele se desse mal, e não só por nossa amizade, eu realmente me importava. E tanto faz se foi ele ou não quem começou, no final, foi o que mais saiu machucado, afinal, eram três contra um.

— Nem você acredita nisso. Primeiro me beija, depois me trata como se eu fosse um estranho e agora vem com essa. ''Amigos"?

— Em minha defesa foi você que me beijou. Você literalmente foi até a minha casa inventando a primeira desculpa esfarrapada que te veio a mente só pra isso.

— Ok, eu te beijei, mas você gostou. E não era nenhuma desculpa, eu realmente desconfio que você possa ter vindo do futuro. - Diz ele se erguendo um pouco para me encarar.

Então ele ainda pensava sobre isso.

Engulo seco antes de responder, deixando escapar uma risada nervosa.

— Meu Deus, Fabricio, bateram em você com muita força, está até imaginando cenários na sua cabeça.

Fabricio franze o cenho, descrente.

Back to him - De volta aos 15Onde histórias criam vida. Descubra agora